segunda-feira, 6 de abril de 2020

O conto da ilha desconhecida, José Saramago


Um homem vai ao rei e lhe pede um barco para viajar até uma ilha desconhecida. O rei lhe pergunta como pode saber que essa ilha existe, já que é desconhecida. O homem argumenta que assim são todas as ilhas até que alguém desembarque nelas. Este pequeno conto de José Saramago pode ser lido como uma parábola do sonho realizado, isto é, como um canto de otimismo em que a vontade ou a obstinação fazem a fantasia ancorar em porto seguro. Antes, entretanto, ela é submetida a uma série de embates com o status quo, com o estado consolidado das coisas, como se da resistência às adversidades viesse o mérito e do mérito nascesse o direito à concretização. Entre desejar um barco e tê-lo pronto para partir, o viajante vai de certo modo alterando a idéia que faz de uma ilha desconhecida e de como alcançá-la, e essa flexibilidade com certeza o torna mais apto a obter o que sonhou.”…Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós…”, lemos a certa altura. Nesse movimento de tomar distância para conhecer está gravado o olho crítico de José Saramago, cujo otimismo parece alimentado por raízes que entram no chão profundamente. Inédito em livro, O conto da ilha desconhecida é ilustrado por oito aquarelas de Arthur Luiz Piza.


 Acesso em 07/04/2020










Resenha: O Conto da Ilha Desconhecida


O livro O Conto da Ilha Desconhecida, do literato José Saramago, foi com certeza um dos livros mais curtos que já li. A versão que tenho, a da Companhia das Letras, possui um total de 64 páginas - isso porque há oito ilustrações do artista Arthur Luiz Piza.

Aliás, aqui vale um comentário: aparentemente todas as capas dos livros do Saramago publicados pela Companhia das Letras possuem ilustrações desse artista. Eu gosto bastante da estética que eles empregam, pois, apesar da imagem em relevo, mantém uma aparência limpa. O detalhe fica para a lateral: cada livro possui uma cor que orna com os tons da capa - no nosso livro em questão, a cor escolhida foi a verde.
Acho que já li O Conto da Ilha Desconhecida umas três ou quatro vezes, essa é uma daquelas histórias para as quais sempre podemos voltar e ter certeza que novos detalhes serão descobertos. Facilita o fato de que basta algumas horas para lê-lo inteiro. Mas não se apresse na leitura, viu? O número das páginas engana! Ao menos para mim, cada palavra do Saramago precisa ser digerida sem pressa para que eu possa tentar captar suas entrelinhas. 

Livros são sempre uma boa pedida como presente, esse então, acho excelente! Já presenteei algumas pessoas com ele (e espero de coração que tenham gostado). Além do enredo ser ótimo, essa versão que possuo é um capricho só: o papel é daqueles ligeiramente mais rígidos e brilhantes (pois é, sou péssima na descrição, espero que dê para entender), como se fosse de um livro de fotografias. A letra é um pouco maior que o habitual, o que também facilita a leitura. E a cereja do bolo são as aquarelas, que ocupam páginas inteiras e tornam o conjunto ainda mais agradável - além de contarem sua própria narrativa.

As aquarelas com colagem de Arthur Luiz Piza presentes no livro

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Quem somos Fundação José Saramago

A Fundação José Saramago nasceu porque uns quantos homens e mulheres de diferentes países decidiram um dia que não podiam deixar sobre os ombros de um só homem, o escritor José Saramago, a bagagem que ele havia acumulado ao longo de tantos anos, os pensamentos pensados e vividos, as palavras que cada dia se empenham em sair das páginas dos livros para se instalarem em universos pessoais e serem bússolas para tantos, a acção cívica e política de alguém que, sendo de letras e sem deixar de o ser, transcendeu o âmbito literário para se converter numa referência moral em todo o mundo. Por isso, para que José Saramago pudesse continuar a ser o mesmo, soubemos que tínhamos a obrigação ética de criar a Fundação José Saramago e assim, dando abrigo ao homem, aumentarmos o tempo do escritor, sermos também a sua casa, o lugar onde as ideias se mantêm, o pensamento crítico se aperfeiçoa, a beleza se expande, o rigor e a harmonia convivem.

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