sábado, 6 de dezembro de 2008

O amor natural


Carlos Drummond de Andrade

A bunda que engraçada

A bunda, que engraçada.

Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio.
Anda por sina cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
rebunda.

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3 comentários:

Escola Municipal José Veríssimo disse...

É difícil mesmo usar em sala de aula...Primeiro porque eles só iriam visualizar a própria, sem se preocupar com o contexto...rsrsrs
Muito bom!!!

JC Roitberg disse...

Quando eu e meus alunos fazemos a leitura de algumas poesias de Gregório de Mattos, a turma costuma se agitar bastante, principalmente, com sua produção burlesca e erótica, semelhante ao soneto “Pica-flor”. Daí, aproveito, ilustrando com revistas destinadas ao público masculino, um debate a fim de que percebam a diferença entre o erótico e o sensual na arte clássica e moderna.

Escola Municipal José Veríssimo disse...

Imagino que devam se agitar...normal, ainda mais quando não têm outro olhar... cabe mesmo a nós educadores, mesmo com tanta agitação, provocar a ruptura daquilo que consideravam, percebendo outras possibilidades...