sábado, 21 de março de 2009

Problemas de Redação, Alcir Pécora


Trabalho editado, pela primeira vez, pela Martins Fontes, há 10 anos que apresenta um diagnóstico dos problemas mais recorrentes na produção escrita de vestibulandos e universitários, analisando esse diagnóstico à luz das noções relativas ao discurso.

A obra original foi apresentada, em 1980, como tese de mestrado ao Departamento de Teoria Literária do instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP, quando o autor pesquisava junto a Hakira Osakabe.

O diagnóstico deste estudo, procura determinar em função de que circunstâncias específicas, internas à produção das redações e ao seu processo de aprendizagem, os usos, particulares da linguagem manifestam problemas na realização dos mecanismos gerais.

A partir das condições de produção do texrto, o autor entende que se pode estabelecer um quadro de características permitindo uma reavaliação das dificuldades encontradas pelos estudantes para o cumprimento da tarefa de escrever, e auxiliar o levantamento de hipóteses quanto às fontes dessas dificuldades.

Introdução ao Estudo da Literatura



A obra dos professores Audemaro Taranto Goulart e Oscar Vieira da Silva (Editora Lê,RJ, 1984) apesar de distante no tempo, se mostra um excelente manual prático a ser utilizado, principalmente, com os exercícios propostos, em turmas do Ensino Médio e pré-vestibulares.

Trata-se de uma obra introdutória ao estudo da Literatura bastante completa, aliando à informação teórica um complemento didático, contendo exercícios e textos suplementares.

Os principais assuntos abordados são: texto literário e não literário, gêneros literários, poesia e prosa, ritmo e espaço, romance, conto ação, lugar e tempo , personagens, ponto de vista e estilos de época.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Construção

Um grito pula no ar como foguete. Vem da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes hirtos. O sol cai sobre as coisas em placa fervendo. O sorveteiro corta a rua. E o vento brinca nos bigodes do construtor. (Carlos Drummond de Andrade)


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

(Chico Buarque de Holanda)