Como
a pauta da matéria de O Globo, de 11/11/2012, deslustra um dos bairros da Zona Oeste do Rio, penso naquilo que a mesma trata por
“carência” nesta e em outras áreas. Se o que se pretende afirmar é um fato, ele se dá em função da
inoperância do estado naquilo que lhe compete, apesar de todo o discurso que tenta esvaziar as suas responsabilidades, fazendo com que grande parte dos
serviços básicos ou não existam ou funcionem muito mal.
Diz
O Globo, de 11/11/2012
“Carência
de serviços públicos influi em voto na Zona Oeste
Na
Zona Oeste, o voto está restrito a poucos candidatos. A região, segundo o
Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), possui a maior área sob o domínio da
milicia no Rio. Dos dez locais de votação com a maior diferença entre o
primeiro e o segundo colocado, sete estão nessa área da cidade. O campeão de
votos em uma única localidade é de Sepetiba, no extremo oeste do Rio. Em quatro
dos cinco locais de votação do bairro, o candidato eleito Willian Coelho (PMDB)
venceu com percentuais que variaram de 30% a 56% dos votos. Durante a campanha,
Willian teve apoio maciço do deputado federal Pedro Paulo (PMDB), coordenador
da campanha do prefeito Eduardo Paes.” (O Globo, 11/11/2012, p. 10)
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Coreto construído em 1903 |
E
as demais produções em Sepetiba e entorno? As lentes socioeconômicas pouco
contribuem na amplitude das condições de compreensão das realizações cotidianas.
Elas são inoperantes quando não dialogam com as diversas manifestações
culturais e de toda a história da localidade além das aparências. E nisto percebo,
também, um forte antagonismo.
Como
pensar as ações de um Ecomuseu, em Sepetiba, que tem por marco doutrinal o
direcionamento de suas ações ao patrimônio material e imaterial, dando suporte
à recriação histórica das memórias e culturas local, interagindo com todas as demais contribuições
que não desprezam a visão total global/local blindando seus habitantes dos
centralismos perversos, que levam às delimitações do “cada um no seu quadrado”
já tão massificados pelo “eu só quero é ser feliz...”?
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Temperos do bahiano, na feira de Sepetiba |
Lembro-me
de que muitos daqueles que me entregaram material de propaganda, durante o
período eleitoral, de “seus” candidatos, quando eu recusava dizendo que havia
“fechado com ele” – com o “meu” candidato, declaravam, baixinho, sua intenção
de voto, aliás, bem diferente do que a matéria jornalística apresenta,
ingenuamente ou, o que é pior, desprezando a contribuição de autores voltados
aos “meios e às mensagens”.
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Comissão de Desenvolvimento Ecomuseu Sepetiba |
Ao
contrário, ao se fortalecer as diferenças locais e a manutenção dos laços
universais em um mundo com suas fronteiras cada dia mais esgarçadas, ou,
mantendo a metáfora, “diluídas”, caminha-se em direção a uma sociedade menos
injusta.

Na crença de sua eterna invulnerabilidade e detentores
de amplos poderes, esforçam-se em criar, no imaginário, estratégias que lhes
garantirão, encastelados, sua permanência..
Entendendo existir tal
correnteza, que arrasta um mar de opiniões, a mídia massiva constrói discursos
deslocando significados através das palavras.
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Pescaria ao entardecer na Praia de Sepetiba |
Como
a extinção das palavras precede à materialidade, um destes deslocamentos de
significado é promovido pelo esforço na substituição compulsória de alguns
vocábulos que, historicamente, têm nomeado as coisas.
O
substantivo “favelas”, por exemplo, tacitamente aceito e incorporado por muito,
pelo “sinônimo” comunidades, exige atenção, já que as palavras criam
identidades!
Muito
além do desamparo proposital, colado ao adjetivo “carente”, conforme a matéria,
ele facilita a ação daqueles que pretendem se beneficiar, apostando em suas
crenças na desinformação generalizada e na tal correnteza informacional.
Esquecem-se da força da história, que, se sobrevive aos tsunamis, quanto mais
às ações políticas.
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Colônia de Pescadores Z15. Sede do Movimento Ecomuseu Sepetiba |
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Decoração do Bar Conexão, na Praça Oscar Rossini |
Arduamente organizado pela Bianca Wild e pelo Bruno Cruz, companheiros incansáveis,
à frente de uma Comissão de Desenvolvimento, da qual eu faço parte, junta-se, no
Rio de Janeiro, aos demais existentes - apenas três!. Sua visão antropológica,
histórica e sociológica, fruto de vivências, estudos e pesquisas têm-se
mostrado suficientes para sua capacitação na coordenação do Ecomuseu de
Sepetiba.
Assim
como a matriz, o Noph - Ecomuseu
de Santa Cruz, dentre suas funções está a apropriação cultural da região pelos seus habitanes, assim como a patrimonialização do espaço vivido, afirmando a subjetividade e a singularidade da comunidade local, acrescentando a busca pela coesão social.
Talvez
esse associativismo em regime de cooperação e colaboração, agindo em parceria
com as escolas do entorno, e demais espaços de educação formais e não formais, possa
dinamizar o surgimento de um ecomuseu pedagógico.
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Seu Erasmo |
Os planos de ação do Ecomuseu de Sepetiba não restringem
às culturas locais, porém, interconectadas, através das redes, às demais
realidades planetárias existentes, resultado e motivo das transformações
sociais. E
isto propicia um olhar “além das sombras embandeiradas que separam os quintais”,
como cantou o Raul, além do que se pretende construir como realidade. Penso ser
necessária esta amplavisão, para uma análise sobre liberdade associada à
política, como pretendeu a matéria. Aspectos importantes da cultura e da
história da região foram lançados na periferia do debate entre os entrevistados,
como em uma correnteza de informações.
BARRETO, Raquel Goulart. O discurso da "inclusão". In: Discursos, tecnologias, educação. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2009. p.39-51
BERINO, Aristóteles de Paula. Território. In: A economia política da diferença. São Paulo: Cortez Editora, 2007. p. 29-63.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.
KOCH, Ingedore Villaça. Discurso e argumentação. In: Argumentação e linguagem. 8ª edição. São Paulo: Cortez Editora, 2009. p. 22-23
MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.
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OLIVEIRA,
Inês Barbosa de. Centro e periferia: a cidade como espaço educativo: processos
de periferização e centralização cultural. In: A cidade como espaço
educativo. Salto para o futuro, ano XVIII, boletim 03, abril de 2008: Secretaria
de Educação a distância, MEC, 2008. p. 27-31.
SANTOS, Milton. A transição em marcha. In: Por uma outra globalização. 16ª edição. Rio de Janeiro: Editora Record. p. 141-174.
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