sábado, 9 de outubro de 2021

Resumo de texto

Fonte: Brasil Escola UOL

Resumo de Texto. Como Fazer um Resumo de Texto - Brasil Escola (uol.com.br)

Acesso em 09/10/2021


 Por que resumir um texto? Qual a finalidade?

Bom, a verdade é que se resumo não fosse bom, o professor não insistia em cobrar ou aconselhar que fosse feito!

Resumir é o ato de ler, analisar e traçar em poucas linhas o que de fato é essencial e mais importante para o leitor.

Quando reescrevemos um texto, internalizamos melhor o assunto e não nos esquecemos dele. Afinal, não aprendemos com um simples passar de olhos pelas letras! Dessa forma, podemos até dizer que lemos o texto, mas quanto a assimilar...será difícil afirmar que sim!

O fato de sintetizar um texto ou capítulos longos pode se tornar um ótimo hábito e auxiliá-lo muito em todas as disciplinas, pois estará atento às ideias principais e se lembrará dos pontos chaves do conteúdo.

Expor o texto em um número reduzido de linhas não parece ser fácil? Não se preocupe, a seguir estão alguns passos para se fazer um bom resumo e se dar bem:

- Faça uma primeira leitura atenciosa do texto, a fim de saber o assunto geral dele;

- Depois, leia o texto por parágrafos, sublinhando as palavras-chaves para serem a base do resumo;

- Logo após, faça o resumo dos parágrafos, baseando-se nas palavras-chaves já destacadas anteriormente;

- Releia o seu texto à medida que for escrevendo para verificar se as ideias estão claras e sequenciais, ou seja, coerentes e coesas.

- Ao final, faça um resumo geral deste primeiro resumo dos parágrafos e verifique se não está faltando nenhuma informação ou sobrando alguma;

- Por fim, analise se os conceitos apresentados estão de acordo com a opinião do autor, porque não cabem no resumo comentários pessoais.

Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
 

Veja mais!

A importância dos resumos - Por que resumir é importante? Leia aqui!


Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

VILARINHO, Sabrina. "Resumo de Texto"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/resumo-texto.htm. Acesso em 09 de outubro de 2021.

Resumos, resenhas, sinopses (Guia de Educação)

 Olá,

Quando lemos um livro, ou assistimos a um filme, por exemplo, é importante que saibamos nos posicionar, que consigamos tanto expor o conteúdo daquele livro ou filme quanto emitir nossa opinião a respeito.

Neste texto, apresentaremos a diferença entre três gêneros textuais que se encarregam exatamente disso que estamos falando: resumir e opinar sobre uma obra. Os gêneros textuais em questão são: o resumo, a resenha e a sinopse. Confira abaixo cada um deles:

Resumo

Resumir é apresentar, de forma abreviada e concisa, o conteúdo, os acontecimentos ou as ideias presentes em alguma coisa, geralmente um texto, um livro, um filme ou uma peça de teatro.

A finalidade do resumo é compartilhar, de maneira seletiva, as principais características do objeto a ser resumido. Para isso, ao fazermos um resumo, devemos procurar destacar os elementos mais relevantes daquilo que resumimos.

Algumas dicas sobre resumo

  • Não dê a sua opinião: o resumo deve conter apenas aquilo que puder ser retirado do texto original. Portanto, o resumo não é um texto opinativo. Apresente apenas de forma sintetizada o conteúdo da obra original e nada mais.
  • Use a terceira pessoa: ao fazer um resumo você deve ser imparcial. Portanto, procure usar a terceira pessoa em vez da primeira.
  • Não copiar ou fazer citações: o resumo deve ser escrito com as suas palavras. Logo, não copie trechos do texto original.

Exemplo de resumo

Confira nos links abaixo alguns exemplos de resumos:

A Cartomante, de Machado de Assis

 O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente

Resenha

Resenhar é sintetizar uma obra expondo de maneira crítica a sua opinião, tendo como finalidade avaliar a obra que estiver sendo resenhada. Ou seja, ao escrever uma resenha, você deve apresentar um resumo da obra original acompanhado de sua opinião ou avaliação.

A resenha é comumente publicada em veículos de comunicação logo após a edição de uma obra. Contudo, não há regras quanto isso, portanto podemos escrever resenhas sobre obras de qualquer época.

lgumas dicas sobre resenha

  • Apresente um resumo das principais ideias da obra;
  • Deixe claro para o leitor qual é o assunto abordado na obra;
  • Apresente como o autor aborda o assunto;
  • Informe o leitor se a obra exige conhecimentos prévios;
  • Informe, se possível, em qual teoria a obra foi embasada;
  • Indique a que tipo de público a obra se destina;
  • Ao dar a sua opinião, você pode avaliar coisas como:
  1. O mérito da obra: o que ela apresenta de novo? A abordagem e os conceitos são diferentes dos habituais?
  2. O estilo: informe ao leitor qual o tipo de linguagem presente na obra. O autor é conciso ou prolixo? Usa uma linguagem de fácil acesso ou exagera no uso de termos técnicos?

Exemplo de resenha

Confira nos links a seguir alguns exemplos de resenhas:

A cidade e as Serras

A hora da estrela

Sinopse

A sinopse é um resumo que geralmente acompanha a obra original e é escrita pelo próprio autor ou por alguém envolvido na produção da obra.

Além de acompanhar a obra, a sinopse costuma aparecer em materiais de divulgação, pois a sinopse é um resumo escrito com o intuito de chamar a atenção para a obra em questão. Trata-se, portanto, de uma espécie de resumo que desperta a curiosidade para que o leitor se interesse pela obra original.

Exemplo de sinopse

Um avião cai em uma ilha deserta e logo um grupo de passageiros precisa lutar para sobreviver. Liderados pelo médico Jack Shephard (Matthew Fox) e pelo misterioso John Locke (Terry O’Quinn), eles irão descobrir que o local esconde perigosos segredos. Com o passar do tempo, são reveladas informações sobre o passado dos sobreviventes, como Hugo ‘Hurley’ Reyes (Jorge Garcia), Sayid Jarrah (Naveen Andrews), Kate Austen (Evangeline Lilly) e James ‘Sawyer’ Ford (Josh Holloway).

Fonte: Adoro Cinema 

Diferenças entre resumo, resenha e sinopse

Agora que conceituamos o que é resumo, resenha e sinopse, ficará mais fácil apresentar as suas diferenças.

Primeiramente, perceba que nos três gêneros há a presença de um resumo. Contudo, a intenção comunicativa de cada texto é diferente. Veja essa intenção para entendermos melhor essas diferenças:

  • Resumo: tem a intenção de apresentar de forma sintetizada os principais pontos de uma obra;
  • Resenha: tem a intenção de avaliar uma obra, apresentando seus pontos positivos e/ou negativos com o intuito de incentivar ou não que seu leitor tenha contato com a obra original.
  • Sinopse: tem a intenção de despertar interesse pela obra orihttps://canaldoensino.com.br/blog/qual-a-diferenca-entre-resumo-resenha-e-sinopseginal através de um breve resumo. Perceba que a sinopse deve despertar curiosidade em relação à obra original.

Conclusão

Você viu neste texto quais são as principais diferenças entre resumo, resenha e sinopse. Leia o conteúdo quantas vezes forem necessárias para você assimilar bem os conceitos e não confundir mais.

Um grande abraço, e até a próxima!

Fonte: Ensino: guia de educação. In: Qual a diferença entre resumo, resenha e sinopse? (canaldoensino.com.br) Em 09/10/2021

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Tatuagens que marcam e vacina que salva: por que não registrar?!

 

Tatuagens para todos

Carol Bensimon

Sou o último ser humano que se imaginava com uma tatuagem - a tela em branco entre os amigos, a pessoa que não muda tanto assim, mas que tem medo do aspecto permanente da tinta. Um belo dia, no entanto, começo a pensar em carregar para sempre no braço um tipo específico de árvore, que simbolizaria uma experiência x, muito importante na minha vida, e blá blá blá. Instantes depois, estou falando sobre essa vontade no Facebook. Estou pedindo opiniões. Estou recebendo incontáveis incentivos. Um conhecido me passa o contato de uma tatuadora que está com a agenda cheia pelos próximos 10 meses. Por que agora todo o tipo de gente, de todas as idades, quer rosas, nomes de filho, frases em alemão ou robôs guerreiros na pele?

Começo a pensar sobre a popularização da tatuagem e deixo minha árvore meio de lado. Melhor ter certeza. Sinto que apenas isso - "um tempo para amadurecer a ideia" - já me coloca anos-luz distante do pessoal de vinte e poucos anos, que normalmente não frita a cabeça refletindo sobre o desenho perfeito, o mais significativo entre todas as opções cogitadas, ou se ele vai fazer sentido depois de uma década ou mais. Segundo uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em 2014, 36% dos jovens norte-americanos de 18 a 25 anos tinham ao menos uma tatuagem.

Quando falamos em tatuagem, não há dúvida de que estamos falando da construção e da exposição de uma identidade. Nessa segunda metade do século 21, além de querermos nos sentir muito especiais e únicos, parece que precisamos estampar o que somos em praça pública - ou na arena virtual - o mais rápido possível, já que quase ninguém tem tempo ou paciência para se conhecer de fato. Nesse sentido, etiquetas facilitam e likes são muito bem-vindos. Em texto para a revista The Atlantic sobre tatuagens, o escritor Chris Weller resume muito bem essa ideia: "A modernidade nos leva a declarar nossa identidade com convicção, quer já a tenhamos encontrado ou não."

Weller acredita, além disso, que o ato de tatuar-se não se relaciona simplesmente com a busca por esse "eu"; a narrativa que vai se construindo na pele é a própria identidade. Ler esse acúmulo de desenhos e frases como uma narrativa da vida de alguém, aliás, pode explicar o fato de que a maioria dos tatuados consegue lidar com marcas do passado que talvez não façam tanto sentido hoje, algo semelhante a "essa cicatriz aqui foi de quando sofri um acidente de moto". Uma parte de nossa história, em resumo, para o bem ou para o mal. Ainda assim, segundo uma pesquisa divulgada pelo The Guardian, 23% dos adultos britânicos se dizem arrependidos de ter feito uma tatuagem.

Um tempo atrás, eu achava que essa questão da permanência era de certa forma uma contradição, afinal havia nas tatuagens algo de tão instantâneo, tão transitório, tão dependente da estética de determinado período, que o fato de elas serem algo inapagável me parecia uma espécie de "apesar". O mesmo para a dor do processo (em uma época em que tentamos a todo custo evitar dores, físicas ou psicológicas). De maneira que fiquei surpresa quando, no já citado texto, Weller oferece uma outra chave de interpretação: a nova geração não está fugindo de um senso de estabilidade e permanência, mas está buscando isso desesperadamente. Faz sentido. Ela está dizendo que não quer que o mundo gire tão rápido. Que precisa se definir, ser e ter alguma coisa, no meio desse turbilhão. Soma-se a isso o fato de que, diferente das anteriores, essa é uma geração que ainda não conquistou coisas concretas (e alguns deles simplesmente não estão interessados nisso). Se não há carros, casas, carreiras sólidas, relacionamentos de décadas, há então tatuagens. Algo que dure. Precisamos todos de algo que dure.

Uma estranha na cidade. [S. l.]: Dublinense, 2016.






Imagens da internet

Conteúdo adaptado da Olimpíada de Língua Portuguesa

sábado, 4 de setembro de 2021

A origem da família, da propriedade e do Estado


 Esta obra tem no Estado o desaguadouro de sua análise histórica e, em torno do problema estatal, muito do seu vigor e das críticas que recaem sobre  seus apontamentos. Tal como fez com a família, ao dessacralizá-la, Engels rechaça uma leitura idealista do Estado. Temos aqui uma arma de combate contra os que insistem em afirmar supostas moralidades dos costumes ou apregoar a submissão à ordem capitalista e ao domínio estatal, tidos como auge da civilização. É a crítica da história da exploração contra os que,  até hoje, teimam em louvar tradição, família e propriedade (Alysson Leandro Mascaro). 

sábado, 21 de agosto de 2021

A não tão sereníssima República: de Machado de Assis aos nossos dias.

 

Machado de Assis (1839-1908) já era escritor conhecido quando se dá a Proclamação da República, através de um edito, e, não, da vontade popular, em 15 de novembro de 1889. Ao Império e ao Antigo Regime, impunha-se o modo republicano de gerir o país, através da mudança do regime monárquico para a República.  presa à prática escravagista, base da economia colonial. Antecedendo a conjuntura, poucos anos antes, Machado, dentre outras obras, escreve o conto "A sereníssima república", integrante da obra Papeis Avulsos (1882) cujo protagonista, o Cônego Vargas, descreve um Estado à semelhança de uma espécie de aranha que fala. Atento às discussões políticas do meio em que circulava, o escritor, à semelhança de um cronista, descreve um sistema eleitoral baseado na República Veneziana: ao se retirar bolinhas de um saco com o nome dos candidatos que pleiteavam cargos no Governo, saber-se-ia, de maneira prática, rápida e transparente, quais os governantes eleitos. Nas últimas semanas, muito se tem ouvido falar em Reforma no Sistema Eleitoral, como, por exemplo, o retrocesso ao modelo de votação, ao voto distrital, proporcionalidade, coligações...; mas, a questão apresentada por Machado – tão atual! – se resumiria a, simplesmente, no sistema, no modo e no método de escolha dos candidatos? Ou o autor nos permite ir além? Enxergar outras possibilidades? Além do seu tempo?!

Leia, então, o conto que segue, A sereníssima República, de Machado de Assis e pense estas questões tão atuais...

A sereníssima República (Conferência do cônego Vargas) - 4/4

Este novo estatuto deu lugar a um caso novo e imprevisto, como ides ver. Tratou-se de eleger um coletor de espórtulas, funcionário encarregado de cobrar as rendas públicas, sob a forma de espórtulas voluntárias. Eram candidatos, entre outros, um certo Caneca e um certo Nebraska. A bola extraída foi a de Nebraska. Estava errada, é certo, por lhe faltar a última letra; mas, cinco testemunhas juraram, nos termos da lei, que o eleito era o próprio e único Nebraska da república. Tudo parecia findo, quando o candidato Caneca requereu provar que a bola extraída não trazia o nome de Nebraska, mas o dele. O juiz de paz deferiu ao peticionário. Veio então um grande filólogo, - talvez o primeiro da república, além de bom metafísico, e não vulgar matemático, - o qual provou a coisa nestes termos: - Em primeiro lugar, disse ele, deveis notar que não é fortuita a ausência da última letra do nome Nebraska. Por que motivo foi ele inscrito incompletamente? Não se pode dizer que por fadiga ou amor da brevidade, pois só falta a última letra, um simples a. Carência de espaço? Também não; vede: há ainda espaço para duas ou três sílabas. Logo, a falta é intencional, e a intenção não pode ser outra, senão chamar a atenção do leitor para a letra k, última escrita, desamparada, solteira, sem sentido. Ora, por um efeito mental, que nenhuma lei destruiu, a letra reproduz-se no cérebro de dois modos, a forma gráfica e a forma sônica: k e ca. O defeito, pois, no nome escrito, chamando os olhos para a letra final, incrusta desde logo no cérebro, esta primeira sílaba: Ca. Isto posto, o movimento natural do espírito é ler o nome todo; volta-se ao princípio, à inicial ne, do nome Nebrask. - Cané. - Resta a sílaba do meio, bras, cuja redução a esta outra sílaba ca, última do nome Caneca, é a coisa mais demonstrável do mundo. E, todavia, não a demonstrarei, visto faltar-vos o preparo necessário ao entendimento da significação espiritual ou filosófica da sílaba, suas origens e efeitos, fases, modificações, conseqüências lógicas e sintáxicas, dedutivas ou indutivas, simbólicas e outras. Mas, suposta a demonstração, aí fica a última prova, evidente, clara, da minha afirmação primeira pela anexação da sílaba ca às duas Cane, dando este nome Caneca. A lei emendou-se, senhores, ficando abolida a faculdade da prova testemunhal e interpretativa dos textos, e introduzindo-se uma inovação, o corte simultâneo de meia polegada na altura e outra meia na largura do saco. Esta emenda não evitou um pequeno abuso na eleição dos alcaides, e o saco foi restituído às dimensões primitivas, dando-se-lhe, todavia, a forma triangular. Compreendeis que esta forma trazia consigo, uma conseqüência: ficavam muitas bolas no fundo. Daí a mudança para a forma cilíndrica; mais tarde deu-se-lhe o aspecto de uma ampulheta, cujo inconveniente se reconheceu ser igual ao triângulo, e então adotou-se a forma de um crescente, etc. Muitos abusos, descuidos e lacunas tendem a desaparecer, e o restante terá igual destino, não inteiramente, decerto, pois a perfeição não é deste mundo, mas na medida e nos termos do conselho de um dos mais circunspectos cidadãos da minha república, Erasmus, cujo último discurso sinto não poder dar-vos integralmente. Encarregado de notificar a última resolução legislativa às dez damas incumbidas de urdir o saco eleitoral, Erasmus contou-lhes a fábula de Penélope, que fazia e desfazia a famosa teia, à espera do esposo Ulisses. - Vós sois a Penélope da nossa república, disse ele ao terminar; tendes a mesma castidade, paciência e talentos. Refazei o saco, amigas minhas, refazei o saco, até que Ulisses, cansado de dar às pernas, venha tomar entre nós o lugar que lhe cabe. Ulisses é a Sapiência. FIM


DOMÍNIO PÚBLICO


A Sereníssima República, de Machado de Assis Fonte: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II. Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais. Texto-base digitalizado por: Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística (http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/literat.html) Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima sejam mantidas. Para maiores informações, escreva para escreva para <bibivirt@futuro.usp.br>

A sereníssima República (Conferência do cônego Vargas) - 3/4

 A assembléia, diante de um fenômeno psicológico inelutável, como é a distração, não pôde castigar o oficial; mas, considerando que a estreiteza do saco podia dar lugar a exclusões odiosas, revogou a lei anterior e restaurou as três polegadas. Nesse ínterim, senhores, faleceu o primeiro magistrado, e três cidadãos apresentaram-se candidatos ao posto, mas só dois importantes, Hazeroth e Magog, os próprios chefes do partido retilíneo e do partido curvilíneo. Devo explicar-vos estas denominações. Como eles são principalmente geômetras, é a geometria que os divide em política. Uns entendem que a aranha deve fazer as teias com fios retos, é o partido retilíneo; - outros pensam, ao contrário, que as teias devem ser trabalhadas com fios curvos, - é o partido curvilíneo. Há ainda um terceiro partido, misto e central, com este postulado: - as teias devem ser urdidas de fios retos e fios curvos; é o partido reto-curvilíneo; e finalmente, uma quarta divisão política, o partido anti-reto-curvilíneo, que fez tábua rasa de todos os princípios litigantes, e propõe o uso de umas teias urdidas de ar, obra transparente e leve, em que não há linhas de espécie alguma. Como a geometria apenas poderia dividi-los, sem chegar a apaixoná-los, adotaram uma simbólica. Para uns, a linha reta exprime os bons sentimentos, a justiça, a probidade, a inteireza, a constância, etc., ao passo que os sentimentos ruins ou inferiores, como a bajulação, a fraude, a deslealdade, a perfídia, são perfeitamente curvos. Os adversários respondem que não, que a linha curva é a da virtude e do saber, porque é a expressão da modéstia e da humildade; ao contrário, a ignorância, a presunção, a toleima, a parlapatice, são retas, duramente retas. O terceiro partido, menos anguloso, menos exclusivista, desbastou a exageração de uns e outros, combinou os contrastes, e proclamou a simultaneidade das linhas como a exata cópia do mundo físico e moral. O quarto limita-se a negar tudo. Nem Hazeroth nem Magog foram eleitos. As suas bolas saíram do saco, é verdade, mas foram inutilizadas, a do primeiro por faltar a primeira letra do nome, a do segundo por lhe faltar a última. O nome restante e triunfante era o de um argentário ambicioso, político obscuro, que subiu logo à poltrona ducal, com espanto geral da república. Mas os vencidos não se contentaram de dormir sobre os louros do vencedor; requereram uma devassa. A devassa mostrou que o oficial das inscrições intencionalmente viciara a ortografia de seus nomes. O oficial confessou o defeito e a intenção; mas explicou-os dizendo que se tratava de uma simples elipse; delito, se o era, puramente literário. Não sendo possível perseguir ninguém por defeitos de ortografia ou figuras de retórica, pareceu acertado rever a lei. Nesse mesmo dia ficou decretado que o saco seria feito de um tecido de malhas, através das quais as bolas pudessem ser lidas pelo público, e, ipso facto, pelos mesmos candidatos, que assim teriam tempo de corrigir as inscrições. Infelizmente, senhores, o comentário da lei é a eterna malícia. A mesma porta aberta à lealdade serviu à astúcia de um certo Nabiga, que se conchavou com o oficial das extrações, para haver um lugar na assembléia. A vaga era uma, os candidatos três; o oficial extraiu as bolas com os olhos no cúmplice, que só deixou de abanar negativamente a cabeça, quando a bola pegada foi a sua. Não era preciso mais para condenar a idéia das malhas. A assembléia, com exemplar paciência, restaurou o tecido espesso do regime anterior; mas, para evitar outras elipses, decretou a validação das bolas cuja inscrição estivesse incorreta, uma vez que cinco pessoas jurassem ser o nome inscrito o próprio nome do candidato. (Continua...)

A sereníssima República (Conferência do cônego Vargas) - 2/4

 Desde Plínio até Darwin, os naturalistas do mundo inteiro formam um só coro de admiração em torno desse bichinho, cuja maravilhosa teia a vassoura inconsciente do vosso criado destrói em menos de um minuto. Eu repetiria agora esses juízos, se me sobrasse tempo; a matéria, porém, excede o prazo, sou constrangido a abreviá-la. Tenho-os aqui, não todos, mas quase todos; tenho, entre eles, esta excelente monografia de Büchner, que com tanta subtileza estudou a vida psíquica dos animais. Citando Darwin e Büchner, é claro que me restrinjo à homenagem cabida a dois sábios de primeira ordem, sem de nenhum modo absolver (e as minhas vestes o proclamam) as teorias gratuitas e errôneas do materialismo. Sim, senhores, descobri uma espécie araneida que dispõe do uso da fala; coligi alguns, depois muitos dos novos articulados, e organizei-os socialmente. O primeiro exemplar dessa aranha maravilhosa apareceu-me no dia 15 de dezembro de 1876. Era tão vasta, tão colorida, dorso rubro, com listras azuis, transversais, tão rápida nos movimentos, e às vezes tão alegre, que de todo me cativou a atenção. No dia seguinte vieram mais três, e as quatro tomaram posse de um recanto de minha chácara. Estudei-as longamente; achei-as admiráveis. Nada, porém, se pode comparar ao pasmo que me causou a descoberta do idioma araneida, uma língua, senhores, nada menos que uma língua rica e variada, com a sua estrutura sintáxica, os seus verbos, conjugações, declinações, casos latinos e formas onomatopaicas, uma língua que estou gramaticando para uso das academias, como o fiz sumariamente para meu próprio uso. E fi-lo, notai bem, vencendo dificuldades aspérrimas com uma paciência extraordinária. Vinte vezes desanimei; mas o amor da ciência dava-me forças para arremeter a um trabalho que, hoje declaro, não chegaria a ser feito duas vezes na vida do mesmo homem. Guardo para outro recinto a descrição técnica do meu arácnide, e a análise da língua. O objeto desta conferência é, como disse, ressalvar os direitos da ciência brasileira, por meio de um protesto em tempo; e, isto feito, dizer-vos a parte em que reputo a minha obra superior à do sábio de Inglaterra. Devo demonstrá-lo, e para este ponto chamo a vossa atenção. Dentro de um mês tinha comigo vinte aranhas; no mês seguinte cinqüenta e cinco; em março de 1877 contava quatrocentas e noventa. Duas forças serviram principalmente à empresa de as congregar: - o emprego da língua delas, desde que pude discerni-la um pouco, e o sentimento de terror que lhes infundi. A minha estatura, as vestes talares, o uso do mesmo idioma, fizeram-lhes crer que era eu o deus das aranhas, e desde então adoraram-me. E vede o benefício desta ilusão. Como as acompanhasse com muita atenção e miudeza, lançando em um livro as observações que fazia, cuidaram que o livro era o registro dos seus pecados, e fortaleceram-se ainda mais na prática das virtudes. A flauta também foi um grande auxiliar. Como sabeis, ou deveis saber, elas são doidas por música. Não bastava associá-las; era preciso, dar-lhes um governo idôneo. Hesitei na escolha; muitos dos atuais pareciam-me bons, alguns excelentes, mas todos tinham contra si o existirem. Explico-me. Uma forma vigente de governo ficava exposta a comparações que poderiam amesquinhá-la. Era-me preciso, ou achar uma forma nova, ou restaurar alguma outra abandonada. Naturalmente adotei o segundo alvitre, e nada me pareceu mais acertado do que uma república, à maneira de Veneza, o mesmo molde, e até o mesmo epíteto. Obsoleto, sem nenhuma analogia, em suas feições gerais, com qualquer outro governo vivo, cabia-lhe ainda a vantagem de um mecanismo complicado, - o que era meter à prova as aptidões políticas da jovem sociedade. Aconteceu, porém, que na eleição seguinte, um candidato deixou de ser inscrito na competente bola, não se sabe se por descuido ou intenção do oficial público. Este declarou que não se lembrava de ter visto o ilustre candidato, mas acrescentou nobremente que não era impossível que ele lhe tivesse dado o nome; neste caso não houve exclusão, mas distração. (Continua...)

A sereníssima República (Conferência do cônego Vargas) - 1/4

 Meus senhores, Antes de comunicar-vos uma descoberta, que reputo de algum lustre para o nosso país, deixai que vos agradeça a prontidão com que acudisses ao meu chamado. Sei que um interesse superior vos trouxe aqui; mas não ignoro também, - e fora ingratidão ignorá-lo, - que um pouco de simpatia pessoal se mistura à vossa legítima curiosidade científica. Oxalá possa eu corresponder a ambas. Minha descoberta não é recente; data do fim do ano de 1876. Não a divulguei então, - e, a não ser o Globo, interessante diário desta capital, não a divulgaria ainda agora, - por uma razão que achará fácil entrada no vosso espírito. Esta obra de que venho falar-vos, carece de retoques últimos, de verificações e experiências complementares. Mas o Globo noticiou que um sábio inglês descobriu a linguagem fônica dos insetos, e cita o estudo feito com as moscas. Escrevi logo para a Europa e aguardo as respostas com ansiedade. Sendo certo, porém, que pela navegação aérea, invento do padre Bartolomeu, é glorificado o nome estrangeiro, enquanto o do nosso patrício mal se pode dizer lembrado dos seus naturais, determinei evitar a sorte do insigne Voador, vindo a esta tribuna, proclamar alto e bom som, à face do universo, que muito antes daquele sábio, e fora das ilhas britânicas, um modesto naturalista descobriu coisa idêntica, e fez com ela obra superior. Senhores, vou assombrar-vos, como teria assombrado a Aristóteles, se lhe perguntasse: Credes que se possa dar um regime social às aranhas? Aristóteles responderia negativamente, com vós todos, porque é impossível crer que jamais se chegasse a organizar socialmente esse articulado arisco, solitário, apenas disposto ao trabalho, e dificilmente ao amor. Pois bem, esse impossível fi-lo eu. Ouço um riso, no meio do sussurro de curiosidade. Senhores, cumpre vencer os preconceitos. A aranha parece-vos inferior, justamente porque não a conheceis. Amais o cão, prezais o gato e a galinha, e não advertis que a aranha não pula nem ladra como o cão, não mia como o gato, não cacareja como a galinha, não zune nem morde como o mosquito, não nos leva o sangue e o sono como a pulga. Todos esses bichos são o modelo acabado da vadiação e do parasitismo. A mesma formiga, tão gabada por certas qualidades boas, dá no nosso açúcar e nas nossas plantações, e funda a sua propriedade roubando a alheia. A aranha, senhores, não nos aflige nem defrauda; apanha as moscas, nossas inimigas, fia, tece, trabalha e morre. Que melhor exemplo de paciência, de ordem, de previsão, de respeito e de humanidade? Quanto aos seus talentos, não há duas opiniões. (Continua...)

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Memórias literárias (Parte 3)

 Memórias literárias – Trecho de Nas ruas do Brás

O pai do meu pai era pastor de ovelhas numa aldeia bem pequena, nas montanhas da Galícia, ao norte da Espanha. Antes de o dia clarear, ele abria o estábulo e saía com as ovelhas para o campo. Junto, seu amigo inseparável: um cachorrinho ensinado.

Numa noite de neve na aldeia, depois que os irmãos menores dormiram, meu avô sentou ao lado da mãe na luz quente do fogão a lenha:

– Mãe, eu quero ir para o Brasil, quero ser um homem de respeito, trabalhar e mandar dinheiro para a senhora criar os irmãos.

Ela fez o que pôde para convencê-lo a ficar. Pediu que esperasse um pouco mais, era ainda um menino, mas ele estava determinado:

– Não vou pastorear ovelhas até morrer, como fez o pai.

Mais tarde, como em outras noites de frio, a mãe foi pôr uma garrafa de água quente entre as cobertas para esquentar a cama dele:

– Doze anos, meu filho, quase um homem. Você tem razão, a Espanha pouco pode nos dar. Vá para o Brasil, terra nova, cheia de oportunidades. E trabalhe duro, siga o exemplo do seu pai.

Meu avô viu os olhos de sua mãe brilharem como líquido. Desde a morte do marido, era a primeira vez que chorava diante de um filho.

Drauzio VARELLA. Nas ruas do Brás. São Paulo: Companhia das letrinhas, 2000, p. 5.

Coleção Memória e História.

Conteúdo adaptada da 7ª Olimpíada de Língua Portuguesa

ATIVIDADES (16/08/2021)

O Brás é um bairro da cidade de São Paulo e abrigou muitos imigrantes espanhóis, italianos etc. que vieram tentar a vida no Brasil. Foi nesse bairro bem popular que nosso autor cresceu e viveu as aventuras que registrou nesse livro destinado às crianças. Entre suas próprias lembranças, ele conta também as histórias de juventude de seu avô.

nesse trecho do livro, ele reconstitui a conversa do avô com a mãe, quando tinha 12 anos, no momento em que ele decide deixar seu país e vir para o Brasil.

RODA DE OPINIÕES

  • O que imaginaram e sentiram enquanto ouviam o texto?
  • Alguma parte chamou mais a atenção? Qual? Por quê?
  • O que o autor conta nesse trecho: um fato que viveu, uma situação, suas lembranças pessoais ou as de outra pessoa?
  •  Desenhem, no computador ou no papel, uma cena que tenha lhes chamado a atenção. Se optar pela realização da atividade no computador, você pode utilizar não somente programas como o Paint, disponível em computador com sistema operacional Windows, mas também ferramentas on-line de criação e compartilhamento de desenhos, como o Sketchpad.
  • Sabendo que esse livro foi publicado quando Drauzio tinha 57 anos e que nesse trecho ele conta uma história que deve ter ouvido do avô (ou de seu pai) quando era criança, você acha que o autor escreveu exatamente o que ouviu naquela época? Por quê?

A crônica (Parte 3)

 

Cobrança

Moacyr Scliar

Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: “Aqui mora uma devedora inadimplente.”

— Você não pode fazer isso comigo — protestou ela.

— Claro que posso — replicou ele. — Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.

— Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...

— Já sei — ironizou ele. — Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.

— Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...

— Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com vocêexpliqueiavisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.

Neste momento começou a chuviscar.

— Você vai se molhar — advertiu ela. — Vai acabar ficando doente.

Ele riu, amargo:

— E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.

— Posso lhe dar um guarda-chuva...

— Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.

Ela agora estava irritada:

— Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.

— Sou seu marido — retrucou ele — e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu a avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhumVou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.

Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.

In: O imaginário cotidiano.
São Paulo: Global, 2001. © by herdeiros de Moacyr Scliar.

Conteúdo adaptado da 7ª Olimpíada da Língua Portuguesa.

ATIVIDADE ( 16/08/2021)
Após a leitura e audição do áudio no link original, responda às questões que seguem
  • O autor é observador ou personagem (foco narrativo)?
  • Como o narrador introduz as personagens?
  • Existe um elemento surpresa?
  • Que aspectos do cotidiano são narrados? De que forma?
  • Como é o diálogo das personagens?
  • É possível localizar o conflito? E o desfecho?