domingo, 31 de agosto de 2008

A terceira margem do rio

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n´água, proava pra cá, concordando. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto - o primeiro, depois de tamanhos anos dsecorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimenteo? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro - o rio.


(ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. José Olympio, RJ, 1988, p. 37)
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poetinha

Soneto de inspiração

Não te amo como uma criança, nem
Como um homem e nem como um mendigo
Amo-te como se ama todo o bem
Que o grande mal da vida traz consigo.

Não é nem pela calma que me vem
De amar, nem pela glória do perigo
Que me vem de te amar, que te amo; digo
Antes que por te amar não sou ninguém.

Amo-te pelo que és, pequena e doce
Pela infinita inércia que me trouxe
A culpa de te amar – soubesse eu ver

Através de tua carne defendida
Que sou triste demais para esta vida
E que és pura demais para sofrer.

Vinícius de Moraes

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sábado, 30 de agosto de 2008

PERDAS E GANHOS

Meu livro atual, um presente especial!

Um diálogo sobre inquietações do universo feminino, nos fazendo repensar nossa própria trajetória.

'A vida não tece apenas uma teia de perdas mas nos proporciona uma sucessão de ganhos.'










Perdas & Ganhos
Luft, Lya
Record, 32ª. edição ,2006



Não sou a areia
Onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou
mistério.
A quatro mãos escrevemos o roteiro
para o palco do meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério. (p.12)
Fruto de enganos ou de amor,
nasço de minha própria contradição.
O contorno da boca,
a forma da mão, o jeito de andar
(sonhos e temores incluídos)
virão desses que se formaram.
Mas o que eu traçar no espelho
há de se armar também
segundo o meu desejo.
Terei meu par de asas
cujo vôo se levanta desses
que me dão a sombra onde eu cresço
como, debaixo da árvore,
um caule
e sua flor. (p.20)

O canto do irmão Sol

Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as tuas criaturas,
especialmente pelo irmão Sol,
que gera o dia e pelo qual nos iluminas,
Ele é belo e radiante
com grande esplendor
e de ti, Altíssimo, nos
traz a imagem.

Louvado sejas, meu Senhor,
por irmã Lua e as Estrelas
que formaste no céu, claras,
preciosas e belas.
Louvado sejas, meu
Senhor,
pelo irmão vento, pelo ar, nuvem,
orvalho, firmamento, pelas
quatro estações
com que asseguras nutrição
e saúde às criaturas.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água
que se arrasta útil,
humilde
preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão
fogo,
fonte de calor que aclara a noite,
belo, jocundo, varonil e forte.

Louvado sejas, meu Senhor,
por nossa mãe terra,
que produz o
tesouro vegetal
de frutas, flores e ervas.

(Francisco de
Assis, in PIERAZZI, Rina Maria. Clara, a companheira de Francisco. Ed.
Paulinas, São Paulo: 4ª ed., 1994, pág. 148)
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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Um anjo torto

POESIA

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

(ANDRADE, Carlos Drummond. in Reunião. José Olympio, Rio de Janeiro, 10ª ed. 1980)
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Superiores ? Em quê ?

"Somos inteligentes para construir computadores
capazes de processar milhões de cálculos por segundo. Inventamos máquinas que
substituem o trabalho de mil homens e construímos usinas nucleares que produzem
milhões de kilowats de potência por hora. Nos julgamos "superiores", porque somos
capazes de criar vírus e modificar bactérias nos laboratórios. Mas, com que
objetivo temos realizado tudo isso? E a que resultados tem levado tudo isso? A rigor, a parafernália tecnologica, sob a égide do capitalismo, tem servido,
fundamentalmente, para alimentar a voracidade obssessiva com que estão sendo
consumidos os recursos naturais da Terra e com a qual se explora da forma mais
desumana possível a força de trabalho de milhões e milhões de seres humanos em
todas as partes do planeta.
A espécie humana é, hoje, a maior portadora de
doenças dentre todas as espécies vivas existentes na face da terra, além de ser,
para nosso desencanto , a que possui o maior índice de violência coletiva já
observado na história de todas as espécies que habitaram nosso planeta
."
(RONALD, César. O mito da superioridade humana. Estúdio Cem, Rio de Janeiro, 1986, pág. 118)
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O fabricante de tendas

"Nada de largas esperanças, nada de grandes ilusões. A vida há de ser sempre uma constante renúncia. Renunciemos, pois, serenamente, sem reclamações: só assim evitaremos capitulações humilhantes. Renunciemos ao que nos parece ser a sublime ventura, e não perderemos muita coisa, pois não passa de amarga mentira, de dolorosa ilusão. Evitemos decepções. Mas que a renúncia não traia o desespero e, se desespero houver no fundo da alma, que não suba à flor dos lábios, que não ensombre a luz dos olhos, - nunca exploda numa imprecação de revolta, e se dilua num sorriso, que pode ser amargo... "
Tristão de Athayde, in KHÁYYÁM, Omar. Rubáiyát. José Olympio ed., Rio de Janeiro, 1955Posted by Picasa

Com versos, com Deus (Eraldo Maia e Chico Alencar)


É Deus neste papel
que já foi branquinho
e agora jaz sob as letras
de umas tantas palavras

é Deus na ponta da caneta
numa esfera minúscula
é Deus nos meus olhos que olham
e no meu pensamento que não entende
e no meu coração que esplende
porque é nele Deus

é Deus no ar da chuvinha
fria muito fria
nos barulhos pequenos das pessoas
também é Deus
é Deus nas pessoas
em mim
é Deus nos movimentos das pessoas
é Deus pairando sobre tudo e morando em tudo

é Deus na idéia
no gesto
no pedido que alguém faz(dá licença?)
é Deus no ato e na face e no esperar
de todas as pessoas

é Deus acolhendo e sendo
é Deus com sua luz luzindo
é Deus clareando a noite
e nos dizendo
sou Eu

sou Eu aqui ali e lá e acolá
sou Eu algures e alhures
sou Eu mesmo
o único Deus
misterioso e inefável Deus
no papel que jaz sob as letras
das palavras
e no silêncio grande que se constrói
também é Deus
especialmente no silêncio grande
que se constrói

(MAIA; Eraldo. ; ALENCAR, Chico. Com versos, com Deus: conversas diárias em poemas de fé. SP; Editora Salesiana, 2002. p. 20-21)


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Palavras aéreas


UMA GALERA COM UM AMOR EM COMUM...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Ó de casa ? Tem gente !


Nossas origens além da chegada do europeu. É que cismam em dizer que a gente foi "descoberto"!