Um diálogo sobre inquietações do universo feminino, nos fazendo repensar nossa própria trajetória.
'A vida não tece apenas uma teia de perdas mas nos proporciona uma sucessão de ganhos.'

Perdas & Ganhos
Luft, Lya
Record, 32ª. edição ,2006
Não sou a areia
Onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou
mistério.
A quatro mãos escrevemos o roteiro
para o palco do meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério. (p.12)
Fruto de enganos ou de amor,
nasço de minha própria contradição.
O contorno da boca,
a forma da mão, o jeito de andar
(sonhos e temores incluídos)
virão desses que se formaram.
Mas o que eu traçar no espelho
há de se armar também
segundo o meu desejo.
Terei meu par de asas
cujo vôo se levanta desses
que me dão a sombra onde eu cresço
como, debaixo da árvore,
um caule
e sua flor. (p.20)
2 comentários:
Bete,
Como estes versos lembram, por demais, o estilo de Cecília Meireles! Ao mesmo tempo melancólica e buscadora da essência, daquilo que nos prende aos demais com quem compartilhamos o mesmo destino.
O verso "sou orelha encostada em uma concha" remete ao momento lúdico e mágico de nossa eterna infância.
Vou colocar em minha lista de espera...
Valeu a dica, minha querida
Precisamos conservar em nós um pouco desse momento mágico da infância... Isso nos ajudará a tornar a caminhada mais leve,a fazer rir mais do que chorar, a tirar das perdas os ganhos, para recomeçar ou simplesmente continuar.
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