domingo, 22 de janeiro de 2023

Diário, 3ª semana 3.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 04/23)

O registro mais fiel da mais importante prova de nossas vidas

Corredores de longas distâncias e, no meu caso, em preparação para correr outras maratonas, acabam desenvolvendo uma relação muito íntima e solidária com o Tempo e o Ser. 

Tanto guardo um enorme respeito pela passagem do tempo, como pelos parceiros de treino, já longevos como aquele senhor, caminhando em passos rápidos, com uma camisa do Botafogo, time de futebol do nosso estado, assumindo e estampando sua condição de veterano escrito nas costas. 

É mais do que isto! Eu entendo e, passando por ele, o cumprimento com um sonoro entusiasmado "Bom dia, Mestre!"

O Tempo é um desafiador para os seres humanos. Tanto quanto a compreensão de sua estrita relação com o Ser: é ele quem determina nossos objetivos e limita nossas possibilidades. 

Olhando as minhas fotos ainda rapaz, atleta e corredor, as marcas da idade não ficam apenas na aparência: nossa performance tem uma brusca perda de rendimento e qualidade, para muitos, depois dos 50 anos.

Quando me aposentei, no documento de concessão do meu direito trabalhista, o registro da minha estimativa de vida me impressionou bastante. Mais ainda ao nascer o meu filho, e isto depois dos 60 anos, há muito aposentado, e correndo mais de 100 km por mês, me fez relativizar aquela sinistra estatística. 

Por um milagre biomecânico, meu desempenho nas corridas de rua, aos 65 anos, é  superior ao daquele jovem rapaz quando completou sua primeira maratona em quase 5 horas, quando o limite em provas como a Maratona de Florianópolis delibera para o tempo limite para o ingresso no ranking brasileiro de maratonistas, idades entre os 65 anos e 69, o tempo abaixo de  4h:40m. Minha pretensão  - é treino para isto! - é completar a próxima maratona em 4h30,  no máximo. 

Não reclamo do problema de coluna lombar há mais de 20 anos, tampouco de uma lesão por esforço repetitivo, no ombro direito  e de um pequeno incômodo nos dedos das mãos, além de uns resquícios de varizes na parte anterior do joelho esquerdo. 

Noto que estes sintomas tem me incomodado muito menos ao retornar às corridas introduzindo os exercícios para o fortalecimento muscular. A consulta a um ortopedista esportista não prescreveu o uso de medicação, apenas exercícios de correção postural e alongamentos constantes diariamente. Também não tenho necessitado mais da fisioterapia. 

Claro que, ao final de uma longa corrida, as mãos miraculosas das massagistas do setor vip da organização valem tanto - ou mais! - que a certificação pela conclusão e a tão desejada medalha. Depois da checagem médica e do banheiro químico, meu primeiro olhar busca pelas tendas da Appai, como um viajante, no deserto, anseia por um oásis. Ainda que não queiramos, depois da passagem de tanto tempo, de comemorar tantos aniversários, acordar sem sentir dor seria mais do que um milagre.

Guardamos uma sensível intimidade com o tempo e o controle da nossa velocidade de tal forma que as batidas do meu coração, que em repouso bate lento a 55 BPM, dificilmente passa dos 70 BPM moderados, chegando ao máximo de 90 BPM, já no final de um treino de 10km tendo corrido cerca de 60 minutos.

Para uma corrida acima dos 21km - as meias maratonas - como treino progressivo, para não terminar pior do que comecei, a cada 5 km após os dois ou três primeiros quilômetros, quando já ultrapassei os 8 km/h, diminuo de 10 a 20' chegando, nos últimos 5 km finais aos 6.20/km, como aconteceu no longão que, por um desvio errado já na reta final, acabei ultrapassando a meta, fechando 16,4 km em 1h40m.

Tanto o ritmo da minha respiração, que vai do leve ao moderado chegando ao intenso, me ajuda a precisar o meu pace. E isto, sem consultar o cronômetro!

Os relógios dos corredores são instrumentos de alta precisão cuja indústria vem se esmerando em entregar o máximo de fidelidade na cronometragem, no posicionamento e outras funcionalidades esportivas.

Tudo para garantir o exato registro do desempenho, das conquistas dos atletas profissionais e amadores, assim como os corredores de rua.

Mas, o registro mais fiel do início e do final da maior e mais importante prova de nossas vidas é o intervalo entre a alegria de um nascimento e a tristeza da morte, para quem desacredita no movimento  e no ciclo de nascimentos e de renascimentos, como pequenas, média e provas de longas distâncias, vividas, em cada oportunidade, de maneira mais intensa.

Sou o irmão caçula de uma família com apenas um irmão dos meus outros dois, já falecidos, assim como nossa mãe e nosso pai. Ou seja, sobramos apenas nós dois dos Roitberg daquela geração, afora os outros filhos que nosso pai teve em segundas núpcias. 

A morte de minha irmã, Marinaila, há um ano, não só nos encheu de tristeza como me proporcionou uma experiência até então não vivenciada em toda a minha vida. Como ela faleceu no hospital, vitimada por um câncer fatal, seu corpo foi removido para o necrotério e alguém da família precisaria fazer o reconhecimento do corpo.

Acompanhei sua filha - e minha afilhada - naquela prova definitiva da face mais grotesca da morte, que transcende as certezas e incertezas sobre a efemeridade das coisas, de tudo

Leio no meu livro de cabeceira "Correr: o exercício, a cidade e o desafio da maratona", o que o Doutor Drauzio Varella me ensina: 

É tão grande a dificuldade de aceitarmos que a vida pode ser extinta aleatoriamente como a chama de uma vela, que diante dessa eventualidade procuramos razões para atirar na pessoa a culpa pelo fim que lhe foi reservado: "Ah! Mas ele bebia"; "Mas era muito deprimida; "Mas tinha perdido a vontade de viver!". Encontrar justificativa para o desenlace fatal do outro explica o inexplicável e nos deixa com a impressão de que estamos a salvo. (2015, p. 22)

A decrepitude e a perda de traços humanos na face de um defunto e, pior ainda, de uma pessoa tão amada, que viveu intensamente como a minha irmã, a "maninha". Sinto não ser mais chamado de "meu caçula" por aquela pessoa tão solidária, com tamanha vitalidade e energia para viver intensamente.

Olho-me no espelho e, no previsível - e esperado! - julgamento da imagem que se reflete, além das tão características pernas arqueadas e dos meus braços longos, magros, porém musculosos, atesto inequivocamente todas as alterações, visivelmente perceptíveis, em meu corpo como a expressiva perda de massa magra - desafio para a minha nutricionista! - e dos cabelos que já caíram, há muito, assim como, há muito, deixei o saudosismo pelos meus cachos ondulados e do meu extenso rabo de cavalo. 

Olho meu  rosto mais de perto e, ao mesmo tempo que me elogio, atesto os sinais do meu envelhecimento com os "pés de galinha", o "bigode chinês", as rugas na testa e outras marcas de expressão assinaladas pela perda do colágeno, o que não mais garante a sustentação da musculatura facial. Afinal, não foi Newton quem inventou a gravidade. 

No meu tórax, algumas pintas por ter desprezado o uso de cremes e de protetor solar ao longo da vida. Acho os meus peitos bem bonitinhos, de boa musculatura, a despeito dos meus mamilos míopes, que sempre olharam pra fora. Brinco com eles de mexer pra cima e para baixo, o que o meu filho também faz me imitando.

Não considero minha barriga avantajada e, muito pelo contrário, ela estabelece uma boa relação entre a cintura e o abdômen, apesar do cuidado constante com o nível da gordura visceral. Acho que é devido ao pouca consumo de alimentos processados e frituras e excelente hidratação. Vejo meus bíceps e  tríceps bem trabalhados com boa musculatura. Normal entre corredores com quem convivo. 

Corredores de rua e maratonistas tem este algo em comum, de acordo com os pesquisadores da Clínica Média de Medicina do Esporte, de Minas Gerais, Janaína Goston e Larissa Mendes: somos magros, de estatura mediana e pesamos entre 64 e 90 quilos, com IMC entre 19 e 29 e um mínimo de gordura corporal de 9 e máximo de 34. 

No momento, apesar de estar bem quanto ao IMC de 22, e gordura a 19, ainda estou devendo para a balança, pois, até o momento, o máximo que atingi no mês de janeiro foi 63,5, cismando no patamar dos 61,5.

Mas, sei que não me comporto como devia nos aconselhamentos e orientações da minha nutricionista, ainda mais que não sou um atleta profissional e nossa alimentação aqui em casa é de base vegetariana com pouca ingestão de alimentos ricos em gordura e nenhuma de origem animal.

O meu desafio é aumentar o consumo de carboidratos, - de rápida digestão no meu organismo! - legumes, frutas, verduras e driblar uma enorme fome que sinto entre uma refeição e outra, num intervalo de, no máximo, 3 horas, o que supro, quando estou em casa, com bananas, uva passa e folhas de ora pro nobis que tiro da nossa horta orgânica, ou um mix de oleaginosos, quando estou no trabalho. 

Mas é um desafio repor as mais de 700 calorias gastas nos treinos dos 10 km em 1 hora e cerca de 1.500, acima dos 15 km, correndo por 1 h:44 m. Perco, em média, dois quilos ao final destas corridas. Em cada um dos dois treinos semanais para fortalecimento muscular gasto 500 calorias. Felizmente, recupero muito rápido durante os dias seguintes cuidando do adequado consumo alimentar e mantendo a necessária hidratação.

Além do ovo cozido, da espiga de milho, e do pão integral com requeijão feitos aqui em casa, no café da manhã, não deixo de colocar, religiosamente, no prato meu prato - de peão! - na hora do almoço, duas conchas de feijão e 6 colheres de sopa de arroz junto aos demais alimentos no almoço e no jantar acompanhado de uma proteína vegetal que pode ser um ovo, proteína de soja texturizada com shitake, grão de bico, ervilha ou lentilha, servido com legumes e verduras a vontade, temperadas com azeite extra virgem. 

Aos finais de semana, quando não vou na feira comprar pastel com caldo de cana, gosto de fritar uns peixinhos (de horta!) servindo com salada e feijão com arroz. Nosso filho adora! De noite, uma pizza com cerveja na noite de sexta insegura com chave de ouro o fim de semana. 

Além do estrogonofe de legumes e do macarrão integral com molho se azeitonas pretas e temperos aromáticos,  preparados pela minha esposa, a sobremesa de goiabada cascão com coco queimado das Casas Pedro só perde para o picolé da moleka - iguaria local  - ou para a deliciosa e colorida gelatina também preparadas por ela.

Alguns raros corredores, de alta performance, cuja alimentação balanceada, treinamento espartano e estrito acompanhamento de uma equipe multidisciplinar tem, somente na genética, alguma provável explicação pelos excelentes resultados. O perfil dos velocistas, como o genial corredor jamaicano Usain Bolt com os seus 1,96 cm de altura e 86 kg, guarda em sua herança familiar medidas antropométricas ideais o que o fazem o maior recordista nas provas de curta distância, desafiando o mundo dos esportes a repensar o conceito de limites para o ser humano. 

Mas, quando este "antílope" começou a correr, ele comia quase de tudo. Profissionalizando, passou a ter sua alimentação totalmente organizada por uma equipe de nutricionistas. Bolt chegou a comer mais de 1000 nuggets do McDonald,  quando esteve em Pequim, quando ganhou três medalhas nas Olimpíadas de 2008, conforme matéria da Revista Saúde, assinada por Thiago Sievers.

Diz o corredor -

"Quando você começa com um treinador e há um peso que você tem que permanecer, e todos os dias você tem que se pesar e cuidar de sua comida, eu ajustei minha dieta para passar a comer mais vegetais e proteínas. Quando os desejos aparecem, você tem que olhar par o outro lado. Essa é a parte mais difícil." 

Como o velocista passou apenas 10 dias na China, ele comeu, nada mais nada menos do que 100 nuggets por dia!

Para conservar o título do homem mais rápido do mundo, Bolt consome no café da manhã sanduíche ou ovo; no almoço, massa, carne em conserva ou peixe; no lanche, manga, abacaxi e maçãs ao longo do dia e, na janta, bolinhos jamaicanos, vegetais e frango assado, ainda segundo a matéria.

Cardápio que tem rendido excelentes resultados, pois, ao final de uma prova, entre os 60 ou  80 metros, quando o rendimento dos adversários começa a cair, Bolt inicia o seu voo, quase não pisando no chão em cada passada, atingindo cerca de 44 km por hora, numa prova de 100 m, como relata Renata Cabral em sua resenha sobre o corredor, na Revista SIS Saúde.

Nas provas de longa distância, impressiona a performance de queniano Eliud Kipchoge, o queniano vencedor da maratona de Berlim, em 2022. O corredor não só liderou em toda a prova, mas, foi além ao ultrapassar a sua marca, concluindo os 42,192 km em 2h01m09s, resultado que o fez bater seu próprio recorde, a saber, 30 segundos mais rápido que seu desempenho na mesma prova em 2018.

As pernas de corredores de longa distância perseguem um padrão genético: costumam ser mais compridas que a dos velocistas.  Gosto das minhas como são. 

Apenas não me simpatizo com minhas costelas salientes e uma quase incipiente barriguinha de chopp. Minha nutricionista vê isto como um bom sinal da localização da gordura: segundo ela, longe do coração. Tomara que ela esteja certa!

Volto a olhar para baixo,  minhas coxas e batatas das pernas me enchem de orgulho, assim como a higidez da musculatura de toda a parte anterior da coxa. 

Minha bunda magra só tem músculos e isto, junto com o tornozelo, as minhas canelas também grossas, compridas - cheias de marcas de cortes pelos tombos e acidentes -, podem explicar o meu bom  rendimento nas subidas assim como os poucos eventos de cãibras e, até o momento, nenhuma canelite ou alguma lesão grave. Não me lembro da última... E, acho que por estas e outras, sempre dou um pequeno sorriso para aquela imagem, que me responde, agradecendo.

Aí reside uma grande vantagem dos corredores de longa distância: levamos muito mais tempo para denunciar nossa idade! Nossa balança de bioimpedância,  toda semana, me faz um agrado me roubando 10 anos, ao fazer os seus cálculos depois de uma corrida de mais de 10 km.

E, naquela segunda feira, depois do longão do domingo, treinei o  que cismo em chamar de "rejuvenescente", quando, na verdade, trata-se treino regenerativo às segundas feiras. Mas não são faces da mesma moeda?! Então, ao regenerar as células   rejuvenesce.

Coxas musculosas e fortes, pernas tortas e canelas marcadas; corpo magro, maior velocidade. Desvio na coluna e velhice, melhor aproveitamento das transformações em meu organismo e metabolismo acelerado. 

Ou seja: entre perdas e ganhos do jogo da vida, posso levar a final para uma disputa de pênaltis. Até lá, alheio à sorte, conto com minhas qualidades e experiência acumuladas correndo ao lado daquele rapaz que, há 40 anos conquistou sua primeira medalha com seus 30 aninhos. 

Treino pesado, de 10km fortes, também me ajudam nas minhas reflexões, como o de hoje, por exemplo. As primeiras paisagens da praia, logo após o primeiro quilômetro no calçadão - o pior, pra mim! - me levaram a refletir sobre a compensação do meu organismo, acho que a principal está no ritmo lento do meu coração. 

As minhas pisadas deveriam gradualmente se intensificar nos 60  minutos ainda pela frente e, para isto, seria de extrema importância o controle emocional para manter o ritmo da respiração. Consciente e inconsciente em plena harmonia. Um ciclo de respiração completo a cada novo passo do mesmo pé  voltando ao chão.

Como morador e utilitário da ciclovia,  quase diariamente, atesto que as obras de revitalização da praia de Sepetiba pouparam suas longevas árvores, como as amendoeiras,  cujos frutos, derrubados no chão,  sempre  me pedem mais que atenção para não pisar e não escorregar. 

A igrejinha de São Pedro, as árvores com seus enormes troncos, o barquinho guiado pelo jovem pescador, o exímio lançamento da rede que se abre é, lentamente, flutua no ar.

Foto: Márcio Pinto

A morte poética e em câmera lenta, pousa,  delicadamente no espelho dágua. A rede invisível mergulha e cerca o cardume.  A pesca, a brisa e a maresia me levam até o Posto 6, da Copacabana da minha infância. 

Foto: Márcio Pinto

A lei da compensação em tudo reverbera no circuito da orla de Sepetiba. Quando faltam árvores num determinado trecho da praia ou que ainda não crescerem o suficiente para produzir sombra,  em cada casa da praia existe uma com uma boa copa refrescante. 

As duas enormes figueiras, matriarcas veteranas da praia do Recôncavo, antecipam a deliciosa sombra das amendoeiras e dos coqueiros da praia Dona Luiza, logo depois do santuário do Santo Guerreiro e da imagem majestosa de Yemanjá,  - a nova  -abençoando os devotos em seu pedestal de dentro do mar. 

A partir deste ponto é que "ligo o motor"  e acelero, ladeira acima, passando pelo corpo de bombeiros e Iate Clube para curtir aquela deliciosa descida.

Relaxo com os braços soltos e me recupero da rápida e intensa aceleração até reiniciar o trecho da ciclovia, agora, rumo à praia do Cardo. É o trecho em que desenvolvo o máximo de velocidade, nos meus treinos fortes de 10 km, na metade da semana. 

Para compensar, mais uma vez, o furo na planilha de treino, ao trocar os dias da semana, no final do dia, lá pelas 7 hs, como há muito não fazia, resolvi correr os 10 km leves e repeti o mesmo percurso da orla de Sepetiba.

Claro que as impressões seriam totalmente diferentes ao correr de madrugada ou pelo início da manhã: desde as sensações mais sutis, como a brisa da noite e o perfume de alguns corredores passando por mim, até a profusão de vida, entusiasmo e alegria que toma conta das mesas dos quiosques à beira mar.

Crianças brincando, famílias reunidas pescando com varas, casais passeando, um jovem skaetista,  de rabo de cavalo, que passa, rapidamente, por mim e até um violeiro solitário, sentado na calçada, com uma cadeira de rodas ao seu lado, tocando Raul Seixas; rapazes e moças jogando "altinho" se misturam com o delicioso cheiro de peixe frito servido no Pirata's Pub, da Praia do Recôncavo.

À noite, bares, lanchonetes e restaurantes são as melhores opções para quem deseja uma refeição salutar num lugar agradável, como é a noite em Sepetiba. Ainda mais, fazendo o calor que tem feito ultimamente, uma cerveja gelada, - duplo malte ou Heineken - cai muito bem.

As roupas da corredoras associam a sensualidade à leveza e ao conforto necessários aos esportes e isto é um diferencial de quem sai para correr de noite, na beira da praia, infelizmente, com alguns trechos de péssima iluminação.

Nosso bairro não conta com policiamento de espécie alguma. Entretanto, não há registros significativos de assaltos, roubos, ou outros delitos como são comuns em outras praias, principalmente, as da zona sul, o que leva muitas famílias, durante as férias, a aproveitar esta nossa excelente opção de lazer.

Diferente das manhãs e madrugadas, não há barcos navegando e, apenas alguns, atracados, com luzes acesas, assim como cachorros afoitos para morder minhas canelas. 

A quantidade de pessoas correndo, passeando de bicicleta, caminhando, me leva a, prazerosamente, me desviar. E isto, em nada altera o meu ritmo de corrida, pois não estou preocupado com a minha performance. Apenas aproveito aquela deliciosa corrida de noite, entre pessoas que saem de casa para o lazer.

Como evito correr pelas ruas, muito menos onde haja trânsito intenso de automóveis, optando a maior parte do trajeto pelo calçadão da orla, não me exponho tanto aos perigos de atropelamentos - o que não não me isenta de todo o devido cuidado, principalmente, durante as noites, como, correr na contra mão, usar calção ou camiseta vermelha ou amarela.

Ao trocar os dias de preparação,  pensei noutra estratégia para estas duas últimas semanas de treino que foi a de treinar durante as noites e reservar o longão de final de semana para o mesmo horário em que vou correr a Meia de Angra. Assim, relaxo e aproveito melhor o finalzinho das férias, dormindo até um pouco mais tarde durante a semana. Afinal, entre dezembro e janeiro, excetuando a São Silvestre, não há corridas expressivas no calendário anual.

Afinal, tenho corrido apenas cerca de uma hora às quartas e sextas. Na segunda, apenas meia hora. No domingo, cedinho, antes da família acordar, já voltei com o pão. E isto, não me rouba de minhas responsabilidades em casa, tampouco de minha esposa e do nosso filho. E é o que eu tenho para hoje e me basta para ser feliz.

Ainda que  eu mantenha uma relação  íntima e solidária com o Tempo e o Ser e guarde um enorme respeito pela passagem do tempo, sei que um dia irei perder pra Morte, e, claro, farei o máximo pra que ela demore a me alcançar. 

Por mais perfeito que seja o nosso organismo, ele, assim como o melhor tênis do melhor fabricante,  do melhor relógio com GPS, tem o seu limite de uso e, definitivamente, junto ao meu espírito, irei pendurar minha última medalha pela conquista da liberdade definitiva,  cura de  todas as dores do meu corpo e o apagamento de toda a minha consciência de localização no Tempo e no Espaço.





 

domingo, 15 de janeiro de 2023

Diário, 2ª semana 2.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 03/23)

15/01/23 (primeiro dia) longão

Erro de estratégia ou de horário?! Era o que pensava logo assim que saí casa pra começar o 2° mezociclo (15 km): é que programei o app pra 12 km, quando já estava nos 18 km.

Como não tinha como reprogramar, continuei no meu ritmo. 

O cansaço e a prostração eu atestei ao calor devido ao horário. Mas é que o sol, já perto das 6 hs, já dava sinais do que seria aquele domingo que chegaria à sensação térmica dos 54º.

Quando corro em horários diferentes, encontro corredores também de horários diferentes e, saindo por volta das 5:30, em especial, é impossível não passar por uma corredora entusiasmada, cujo nome jamais irei saber, tampouco detalhe algum sobre ela a não ser que ela sempre me deseja, entusiasticamente, uma "boa corrida!" com um largo sorriso no rosto, seguindo em seu ritmo quase parecido com o meu, quando eu já estou retornando do final da orla.

Durante os treinos longos tenho oportunidade de refletir sobre as minhas reações diante da recepção dos meus cumprimentos, do meu bom dia para as pessoas que encontro pelo caminho. Em especial, naquele longão, fiquei pensando como deve ser sacrificante para uma pessoa, em luta diária contra a balança, com uns quilinhos a mais de gordura no corpo, correndo, quase se arrastando, suando em profusão, tentando respirar com um enorme sacrifício, já completamente extenuando, receber um retumbante BOM DIA de uma pessoa magra, correndo num ritmo tranquilo e um largo sorriso no rosto, sem uma gotinha sequer de suor.

Não sabendo que efeito poderia causar em algumas pessoas com quem às vezes encontro pelo caminho, resolvi, para algumas, dar um bom dia entusiasmado e, para outras, apenas um gentil e cordial bom dia e, para outras, apenas um leve sorriso. E isto tudo está preso, claro, ao horário em que eu corro: antes das cinco horas da madrugada tem bem menos corredores e corredoras que depois.

Com os dois aplicativos abertos pude acompanhar, com maior exatidão os quilômetros percorridos assim como o tempo e o pace. Ao final da orla, subi pela rua Abílio Teixeira e corri em parte da Estrada de São Tarcísio, retornando à praia pra começar a retornar.

Por volta do 10 quilômetro, já na praia de Sepetiba, na volta, percebi que comecei a me cansar. Não sei se foi algum desgaste por cansaço ou a temperatura ou a resistência em ter que correr, não os poucos 5 km restantes, mas, sim, o aclive - ainda que suave - da Estrada do Piaí para conseguir completar a distância necessária.

O fato é que tem estado muito quente com uma umidade muito alta. Assim, o ar fica quase que irrespirável, fazendo com que a toalhinha da viseira fique encharcada. Pelo menos, ela evita que o sal do suor entre nos meus olhos, o que é um diferencial.

Finalmente cheguei na rua José Fernandes, com seu suave declive uma das poucas quase que totalmente arborizada, principalmente, em frente às escolas da prefeitura. A diferença do clima e da temperatura é perceptível.

Consegui completar os 15 km um pouco antes da metade da rua do canal o que me permitiu desacelerar caminhando por uns 700 metros até chegar em casa.

18/01/2023

Como ontem fui dormir muito tarde, acabei  não conseguindo sair da cama para o treino leve de hoje que, na verdade, deveria ter sido pesado, para forçar no volume e na intensidade. 

Mas, com a certeza da tranquilidade do treino, por muito pouco me deixei levar pelo canto da sereia e continuado na cama. 

Mas, pensando em como, depois, iria me arrepender, me levantei e fui pagar a minha cota.

Fiz uma boa corrida nos 10 km deste ciclo terminando com 66 BPM ao completar o trajeto tão conhecido meu, subindo pela rua do canal, passando em frente a minha casa e contornando em frente à padaria.

Minha rua, assim como da vizinhança tem muitas casas, ainda, com árvores no quintal e, não é nada incomum encontrar casas com grandes árvores, ainda, apesar, cada vez mais, estarem rareando.

Muitos decepam suas árvores para  simplesmente, fazer lenha, ou impedir que as grandes raízes danifiquem seus imóveis. São mangueiras, abacateiros, jaqueiras, ou seja, árvores de grande porte devido ao passado rural da região.

O fato de que a orla não ter destas grandes árvores não se refere apenas às condições naturais, mas, principalmente, devido às obras realizadas em 2012, pelo Projeto de Reabilitação Ambiental da Praia de Sepetiba, executada pelo Inea.

Foi feito o remanejamento de 500 mil mudas invasoras do mangue e dos seus 780 mil caranguejos, que foram morar na área vizinha à Base Aérea de Santa Cruz e, depois, toda a lama foi coberta com geotêxtil, que permite o fluxo da água e de gases e, em cima, distribui-se uma nova camada de areia limpa.

Nossa praia, com seus 5 km, antes da obras havia sido degradada e se encontrava poluída por lodo orgânico, fruto do fechamento do canal pela instalação de uma siderúrgica internacional, tantas vezes multadas pelos órgãos competentes e que, apesar de todas as ações judiciais, segue comprometendo o meio ambiente. 

No passado, nossa região já havia sido referência para a economia pesqueira, por ser um criadouro natural para peixes, moluscos, crustáceos, foi "degradada pela poluidora  Companhia Mercantil e Industrial Ingá que processava minério para a produção de lingotes de zinco e se instalou em 1962  na Ilha da Madeira em Itaguaí, como se lê no artigo da EcoDebates, de 2018, "Por que os botos estão morrendo na Baía de Sepetiba e em extinção na Baía de Guanabara, de Sérgio Ricardo.

Não só o Portal Inea, assim como para os moradores, "as obras recuperaram a faixa de areia, trazendo de volta a urbanização praiana e beneficiando cerca de 40 mil moradores da região" atendendo, assim, às nossas reivindicações.

Foto: Márcio Pinto

Ainda adolescente, nossa mãe costumava nos trazer, a mim e aos meus irmãos, para passear em Sepetiba e, confesso, pouco tinha a ver com o que eu vivencio hoje e dia. aquela Sepetiba paradisíaca, dos anos de 1970, em que os jovens da zona sul vinha para curtir, namorar, passear, com um mar piscoso, de camarões que saltavam de noite, iluminados pelos farois dos carros, só existe nas minha lembranças.
Foto: Márcio Pinto

O que resta da resistência, do esforço e sacrifício dos remanescentes da pesca artesanal é fruto das lentes de Márcio Pinto, meu colega de trabalho e fotógrafo talentoso, morador em Santa Cruz, que, além de apresentar aos estudantes e público em geral o Corredor Cultural, parte do passeio "Descubra Santa Cruz", incluído, no ano passado, entre os bairros históricos do Rio de Janeiro, como parte do Patrimônio Histórico e Cultural de nossa cidade.

Márcio, com extrema habilidade, sensibilidade, técnica, estética e profissionalismo, além de comprometido com as questões sociais e ambientais da região, vem se utilizando de suas lentes para, não só divulgar os encantos e desencantos do extremo oeste do Rio de Janeiro, como, também, sensibilizar os agentes públicos.

Elogiado, reconhecido e premiado local e internacionalmente, Marcio expôs recentemente alguns dos seus registros sensíveis e inspirados, na "Lost Paradise" em Minas Gerais, em 2022.

Mas, correr pelas ruas do bairro, principalmente pelas do antigo caminho do triunfo, que corta caminho até a estrada principal em direção à Santa Cruz, ainda permite usufruir de um clima bem mais ameno nestes dias de muito calor, como os do verão, exatamente, porque aquela região ainda abriga muitos sítios e casas com grandes terrenos, com árvores frondosas de sombra agradável. 

As correntes de vento em Sepetiba, contrárias ao ar poluído que vem do Terminal da Vale S.A, tem se mostrado uma aliada natural bem mais eficiente do que as políticas ambientais de deveria agir com rigor, cumprindo, assim, o seu papel em benefício do meio ambiente e de toda a população da região. 

E isto, conforme o site Baía Viva,  em pleno século XXI, quando vivenciamos a Década do Oceano  e Restauração dos Ecossistemas determinado pela Organização das Nações Unidas.

20/01/2023 

Existe alguma relação entre a corrida de rua e a religião?

Lá pelos 5 km do treino da meio da semana, já retornando, foi que isto de corrida como religião ideia grudou na minha cabeça e, até agora, não paro de pensar nisto.

As corridas acima dos 10 km, como aquela, por exemplo, a de sexta feira, dia do treino leve, tranquilo, para relaxar no ritmo e me despreocupar com a performance, estimulam devaneios e ensaios filosóficos de  maior aprofundamento.

Mais do que aquelas ideias que, na mesma velocidade que vem, também, logo a seguir, desaparecem, talvez mais a ver com corredores velocistas, de provas curtas, cujos músculos contraídos precisam obedecer inequivocamente aos comandos do cérebro voltado à técnica e às tecnologias biomecânicas.

A questão espiritual, de foro íntimo, sempre esteve presente na minha vida, diferente, das religiões e da religiosidade que entendo como pertencente à esfera institucional e organizada por grupos, agremiações, pessoas com anseios e desejos em comum.

Não faço e nunca fiz acepção de religião alguma, inclusive ao direito de não se acreditar em Deus tampouco ao agnosticismo .

Talvez, a geração da qual eu faço parte, que viveu intensamente a atmosfera psicodélica, hippie e alternativa dos anos 70, tenha alguma responsabilidade sobre esta minha herança, notadamente, a de rejeição ao instituído.

As nossas possibilidades - ao menos para uma parcela da juventude da zona sul -, naquela ocasião, se ampliaram sobremaneira através das canções e mantras do músico e poeta Bob Dylan (1941), dos mantras do músico e também guitarrista George Harrisson, dos Beatles (1943-2001) e o movimento Hare Krishna; dos mararishis - líderes espirituais indianos; da alimentação macrobiótica, do filósofo japonês George Ohsawa (1893-1966); dos movimentos pacifistas e do Ahinsa, - a não violência - , de Gandy,  ecoando, através da música, da cultura, da alimentação e da dança, com os apelo fim da Guerra do Vietnã (1959-1975) e consciência ambiental. E isto tudo nos anos de 1970!

Em casa, de banho tomado e feito o meu alongamento, antes de sentar para escrever, olho o meu filho, minha esposa e nossa cachorrinha dormindo em paz, harmonia e serenidade e volto meus pensamentos para a espiritualidade e penso nos locais por onde passo durante as corridas aqui, pelo meu bairro.

Não são poucas as ofertas religiosas em Sepetiba: são igrejas católicas, paróquias, centros espíritas, kardecistas, templo messiânico e terreiros de umbanda; roças de candomblé.

A Igreja da Profunda Intimidade, como se lê em grandes letras azuis, no alto da edificação, igreja evangélica neopentecostal, na praia de Sepetiba, sempre me chamou a atenção, muito mais do que a infinidade de outras igrejas protestantes, pelo seu apelo na escolha do nome e, claro, não tenho como deixar de pensar nas motivações de quem escolheu aquele sugestivo, inquietante, desafiante e, por que não dizer, corajoso nome?!

Talvez porque ela expresse um desejo universal do homem se reconectar com aquilo que tem de mais profundo no seu íntimo; que lhe permita responder à nossa cruel e atávica indagação jamais respondida -, quem sou, de onde vim, para onde vou - como Édipo diante do seu Destino, ao nos franquear nosso maior desejo, o do autoconhecimento, talvez, a construção do caminho para a felicidade e realização plena.

Nome bem melhor escolhido do que a internacionalmente conhecida, com sede em diversas partes do mundo, com um patrimônio somente inferior à da igreja católica, Universal do Reino de Deus, do Bispo Edir Macedo, cujo templo, na esquina da minha rua, desde sua inauguração, passou a ser ponto de referência para os correios e entregadores de encomendas, tamanha a sua expansão publicitária e, claro, econômica!

Polos opostos, assim que as entendo. Mas, guardando entre elas, algo em comum, a necessidade humana do agrupamento, do estar junto, da irmandade, além de favorecimentos particulares, o compartilhamento de uma determinada visão de mundo, talvez, de um desejo de uma determinada coletividade, haja vista os enormes esforços, o grande financiamento e empenho para a campanha do ex presidente, derrotado nas últimas eleições. 

Desta forma, vejo-me, então, distante da religiosidade do senso comum e, até pouco tempo, como um ateu, o que descobri não ser uma verdade absoluta, pois, o ateísmo, ao negar a divindade, acaba elegendo a própria pessoa como deus. Então, ela acredita em um deus que é ela mesma. Definitivamente, não é o meu caso: sou uma pessoa de relacionamentos e dependo de todas e de todos.

Não é o meu caso, mas, guardo, com muito carinho e respeito, as minhas crenças, que oscilam entre o panteísmo e a filosofia budista, e a espiritualidade natural - porque entendo todos os seres - do ser humano ao vira latas; da mula ao beija-flor; da minhoca à samambaia - que, propriamente, de uma religião instituída, institucional.

Meu corpo, meu organismo precisam ser cuidados e respeitados como um templo, em minha individualidade e, nos meus interrelacionamentos, como uma egrégora, pois pertenço ao universo.

Constituo-me não num organismo, cujas células mantém-se unidas através de um miraculoso equilíbrio de atributos da física, em minhas células e moléculas. e disto tenho uma tremenda certeza! É mais que uma certeza: é a minha fé!

E, para alimentar esta minha fé, guardo meus ritos como os das corridas de rua e, talvez, tudo isto tenha sido, formado, educado, construído, durante toda a minha vida, passando pela paisagem tão bem apreciada das praias, do mar, do céu estrelado, que me devolviam a paz  do espírito curioso e aventureiro de uma criança, assim como dos raios e dos  trovões, que alimentaram minha curiosidade e jogavam adrenalina no meu sangue, a me preparar para os desafios e perigos da vida.

Não consigo viver longe do mar e, apesar de impróprias para o banho, a maresia, a brisa marinha das praias de Sepetiba, do Recôncavo, do Cardo, promovem um up no meu treinamento.

Gosto de correr na chuva e, mais ainda, pela orla da praia: o espelho d'água, antes do sol nascer, ainda pouco iluminado; as lanternas acesas das raras embarcações, cujos pescadores artesanais voltam do mar, ainda de madrugada, são os círios a compor uma dinâmica aquarela multimidiática, cuja Natureza  insere, na pauta musical, os acordes de cantos estranhos de aves migratórias, de passagem pela região, consorciadas às aves de brejos e mangues, como o socó e as gaivotas brancas, do extremo oeste fluminense.

Foto: Márcio Pinto

Àquela orquestra de câmara, junta-se o solo do motor de popa, de um pescador, contrito em seu pequeno barco,  ainda com suas lanternas acesas, elevando-se além dos acordes da paleta musical,  dissonantes, porém harmônicas, do socó e da altaneira presença das gaivotas do mar.

Tais espaços destinados ao meu culto diário sempre foram muito próximos às minhas experiências contemplativas: em minha adolescência e juventude vividas na zona sul  quando não estava com meus amigos, gostava bastante de ficar sozinho na beira do mar, olhando a linha do horizonte, ou na Pedra do Arpoador, esperando o por do sol.

Em minha prancha de surfe, quando não tinha onda, permanecia deitado de bruços, com os braços apoiados segurando o pescoço, ainda fitando aquela divisa entre o céu e o mar, entre o finito e o infinito.

Quando criança, nossa mãe Maria, diariamente às seis da tarde, benzia-nos - a mim, meus irmãos e a alguns amiguinhos, quando interrompíamos nossa pelada pra subir até o nosso apartamento e terminado o rito, em seguida e apressadamente, voltar aos jogos e às brincadeiras infantis, sempre descalço.

Segurando os sapatos, aos domingos, caminhávamos pela areia da praia até o final de Copacabana, no Posto 6, para assistir à missa, mas, confesso, eu pouco prestava atenção naquelas palavras estranhas - a missa era em latim! - proferidas por um padre. De costas!

A igreja do Forte de Copacabana, bem pequenininha,  tinha um atrativo especial: ficava numa praça cheia de amendoeiras doces e refrescantes!

Bem maior era a da Paróquia São Paulo Apóstolo, na Rua Barão de Ipanema, de arquitetura imponente e belos vitrais, algumas quadras depois, que frequentei nos anos de 1960, em preparação para a Primeira Comunhão: as brincadeiras no pátio da igreja, antes das aulas, as balas doces e macias que recebíamos até hoje tem um sabor de boas lembranças, de uma amizade, de laços de afeto, que nos uníamos enquanto crianças, enquanto irmãos.

Assim, não vejo como não entender a magia das corridas de rua como religião, não só devido aos ritos e rituais, diariamente praticados, pelos seus adeptos, como, também, daquilo que nos alimenta em nossa crença: para alguns, a da superação da condição humana, da certeza da finitide; para outros, a da transformação íntima, subjetiva pela eficácia simbólica, conforme Silva, Rigoni e Teixeira, no artigo  O ritual no âmbito do lazer numa prova de meia maratona, publicado em 2019.

Mas, o caráter coletivo sobrepõe-se a todos os demais, visto que um rito não pode ser composto somente pelo envolvimento emocional individual, na medida em que ele é, antes de tudo, "uma forma de celebrar (de viver) que é coletiva, portanto, pública.", como leio na página 239.

Reencontrar parceiros que só encontro nestas provas de longa distância, como as meias maratonas e, certamente, reencontrarei nas diversas corridas e maratonas deste ano; fazer novas amizades e estabelecer novos laços de afeto é, também, o que irmana corredores de rua, nesta teia universal de nossa existência.

Bem além dos elementos relacionados aos "sacrifícios" e das dores do treinamento, de atletas profissionais e de competidores, tidas como elementos constituintes da beleza esportiva, os rituais corporais, de pessoas comuns, de corredores de rua, de atletas amadores, despreocupados com o podium, transformamos o nosso envolvimento com o esporte num verdadeiro rito, muito além do sacrifício, bem mais próximos aos elementos motivacionais coletivos, inerentes aos ritos mágicos. 


segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Diário, 2ª semana 2.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 02/23)

MINHA SEMANA DE TREINOS

08/01/23 (primeiro dia) - longão. Como já havia obtido a marca necessária conforme meu planejamento para 2022, após uma semana de repouso pelo estresse da fadiga muscular, acúmulo de ácido lático, normal entre corredores de rua, decidi começar com um volume menor que o obtido no último dia do ciclo de treinos anterior, partindo dos 12 km. 

Fui dormir no meu horário regular tendo um lanche feito de carboidratos e proteínas - stocks com tahyne e ricota  - seguida de uma deliciosa sopa de feijão com crutons de apoio na air fryer. Estava chovendo fino e fazendo frio o que me levou a dormir logo assim que deitei debaixo do cobertor. 

Acordei às 4 da madrugada mais pela noite agradável e bem dormida nas minhas suficientes 6 horas diárias de sono noturno. É que compenso com a siesta, hábito herdado de família, dormindo uma hora depois do almoço, quando não estou trabalhando, claro!

Em silêncio, pra não acordar a família, fui preparar o café da manhã e deixar a mesa posta antes de sair pra treinar, como sempre faço. 

Coloquei um ovo pra cozer enquanto passava o café,  aquecia meia espiga de milho e uma caneca de leite integral. 

Esperando o café passar, amassei duas bananas e comi com aveia integral, amendoim picado torrado e farinha de chia. 

Minha intenção era, se não estivesse chovendo muito e fazendo muito frio, sair de casa perto das 5 para uma corrida de 1:20, com ritmo médio de 6:30 pra não começar forçando neste plano de aumento gradativo de volume e intensidade.

Como um colega da Efusivos Runner, "a pista estava chamando, o que era pura verdade!

A meta até 06/02 era de 83 km de corrida incluindo 2 dias de fortalecimento muscular em treinos funcionais e alongamento diário com um dia de repouso (sábado) e um treino regenerativo - os 5 km, leves, às segundas feiras, após o longão do domingo.



Me vesti com a roupa e o tênis que ja havia deixado separado na noite anterior e, por precaução, peguei um frasco de álcool e uma máscara ainda devido a Covid e variantes.

Liguei os aplicativos , ainda não deu pra comprar um bom relógio com GPA, - sonho de todo corredor apaixonado! - e saí de casa às 5:24, seguindo pela Estrada do Piaí em direção à orla, passando pelo Coreto de Sepetiba, na Colônia dos Pescadores.

Tanto o Adidas Running quanto o Runkeeper, da Asics,  fabricante do meu tênis, alertavam que eu deveria segurar o ritmo, pois já estava aquém da meta logo nos primeiros kilômetros  lembrando que a intenção não era diminuir o pace, mas, sim, manter o ritmo e o fôlego gradativamente em longas distâncias, a partir dos 10km. 


Não fora os dois cachorros no retorno na Praia do Cardo - a última da orla de Sepetiba, que me fizeram correr de costas tentando proteger meus calcanhares, teria mantido o ritmo e os batimentos cardíacos (rs)


Mas, no final, me senti muito bem tanto pelo rendimento quanto por dispor de uma pista bem conservada e uma paisagem deslumbrante,  mesmo com o tempo nublado. 


Pace mínimo de 6:01 e máximo de 6:57 está muito bom pra começar com este primeiro longão de final de semana .


Ao chegar em casa, fiz a limpeza do tênis, e fui tomar minha ducha. Logo depois, fiz meu alongamento e fui tomar outro café da manhã, com minha esposa que acabara de acordar. Nosso filho continuara dormindo. 

Comemos aipim cozido com azeite, passei outra garrafa de café e terminei a minha caneca, já com toda a família acordada. Já já vou cuidar do almoço, com o reforço nos carboidratos de um macarrão com creme: estamos em dieta... de engorda! Compramos uma nova balança: digital com leitura de bioimpedância. Minha companheira está fazendo ginástica!

 09/01/23 (segundo dia) - treino regenerativo 

Não diria que a noite foi tão agradável pra se descansar, apesar do friozinho gostoso e da ceia leve, no domingo, com direito a salgadinhos, pizzas e vinho. 

Mas é que, as atitudes antidemocráticas e as ações de terror promovidas pelos vândalos que depredaram o Congresso Nacional e invadiram a Praça dos Três Poderes

O inconformismo da derrota nas eleições presidenciais é a barbárie no DF tornaram o final do domingo muito tenso pra gente aqui em casa e pra muitos amigos, companheiros e conhecidos nossos que lutamos para a eleição do atual Presidente da República.


Esperando a família acordar, ainda em férias, debelada a "revolta dos manés", tenho a certeza de que tudo está sendo providenciado pelas autoridades competentes, já que retornamos ao regime democrático e dele não nos afastaremos, jamais!

Acordei um pouco mais tarde hoje, pois sabia que o treino seria suave como planejado em um treino regenerativo que desempenha a função de relaxar as fibras musculares ainda tensionadas devido ao longão do domingo. 

Além disto, tem a propriedade de remover o lactato,  devido ao acúmulo de metabólitos, ou seja, de eliminar o acúmulo de ácido lático, responsável pelas dores e câimbras no pós treino.

As atividades físicas de grande intensidade e esforço exigem estas pausas no treinamento, com a rígida observância dos treino regenerativos, que tem como finalidade o descanso do metabolismo, 24 horas após o catabolismo pós treino (degradação muscular). 

A periodização de treinos, conforme os professores Joao Vitor e Rafael Oliveira, no livro Periodização e Técnicas Avançadas de Força (2020).  baseada no princípio da adaptação considera que o organismo passa por três fases, quando confrontado com um esforço elevado, catabolismo, adaptação e plateu, que, para ser ultrapassado, precisa de um outro estímulo, de maior volume e intensidade, conforme os objetivos.

Então, depois de fazer a minha habitual refeição, saí de casa um pouco mais tarde e, apesar de ter pensado num trajeto curto, não repetitivo, preferencialmente, num circuito plano, evitando a estrada, já que haveria veículos circulando naquele horário, desci direto pela rua do canal, a Avenida Ary Chagas - uma reta de um quilômetro, plana, com um leve declive, em direção à praia, contornando pelo coreto. 


Correndo, pensei que poderia contornar o canal e, assim, obteria os dois quilômetros, completando os demais, dando uma volta na Praça Oscar Rossini. Mas, não tenho a menor afeição por circuitos repetitivos. Aliás, tenho aversão às rotinas, sejam quais forem!

O ritmo era tranquilo, como havia planejado e, na praia, estava com os meus 7m/k, o que seria o ideal durante todo o percurso.  Completando os dois quilômetros pelo calçadão da praia, ao chegar  na esquina da rua de acesso à Praça Oscar Rossini, iniciando o retorno pela Rua da Floresta voltando em direção ao canal.

Daria subir pela rua do canal, mas, em função do desgaste do aclive, ainda que suave, mas segui em frente, em direção à Base Aérea de Santa Cruz. 

Como tenho treinado no mesmo circuito, correndo por quase todo o percurso, na orla de Sepetiba, devido à pista regular e, claro, a agradável vista da linha do horizonte encontrando com o mar, a brisa e as belas paisagens.

Não só isto: como conheço a distância relacionada a cada ponto que me chama a atenção, fica muito fácil eu saber quantos quilômetros e o meu ritmo ao passar por eles, o que é benéfico no acompanhamento do rendimento.

Para isto, em cada mesociclo a partir dos 10 km (12 km, 15 km, 18 km), recupero o mesmo trajeto do treinamento para minha última meia que eu completei no ano passado, que foi a Meia da Reserva, procurando repetir principalmente toda a extensão da orla como prioridade, deixando a volta pela Estrada do Piaí, como "reserva", em caso de não completar a distância necessária.

É que, nesta época do ano, como a estrada não é arborizada, é o trajeto de maior incidência do sol, sem contar com o trânsito: ainda que bem cedinho, já tem vans circulando junto com motocicletas e alguns carros se deslocando em direção à Santa Cruz.

O fato é que não considerei esta minha decisão e não me lembrei de já ter feito um excelente treino regenerativo há bem pouco tempo correndo estritamente pela orla, ida e volta e, então, copiei integralmente o trajeto que incluía retornar pela entrada da Base Aérea o que não foi nada agradável, assim como em nada contribuiu para que eu "relaxasse", como tem que ser feito no treino regenerativo após um longão. 

Comprometido com as lutas sociais, herdando a formação e a consciência de classe da minha família, professor e antifascista, lutando pelos direitos humanos,  e pelo fim dos privilégios de quem acumula as grandes riquezas expropriadas dos trabalhadores,  não seria estranho eu pensar em outra coisa a não ser nos prejuízos à democracia promovido por um governo de exceção, ditatorial, como nos anos de chumbo da ditadura militar.

Da mesma forma, claro que seria esperado eu refletir, diante daquelas placas, da ameaça de que nos livramos com a derrota de um governo, cujo ex presidente indiciado por estímulo aos atos considerados golpistas e terroristas, assistidos e repudiados por todo o mundo democrata, com a invasão do Congresso Nacional e depredação do nosso patrimônio, com enormes prejuízos materiais à cultura, à história e à memória.

O ex presidente, ora nos Estados Unidos, por conta de internação devido a dores abdominais, nada pronuncia a respeito das atitudes criminosas dos seus apoiadores, muitos deles, devidamente presos pelas forças de segurança em Brasília, graças às rápidas ações tomadas pelo nosso presidente Lula e de todos os parlamentares indignados como a maioria dos cidadãos brasileiros.

Claro que não ultrapassei o perímetro demarcado da área militar, ali contornando em direção, novamente, à Praça Oscar Rossini.Conseguindo deixar estes pensamentos no seu devido lugar, voltei a pensar na corrida e, no retorno, já estava passando em frente ao reduto da boemia sepetibana, o Bar do Bill, seguindo adiante, mantendo o mesmo ritmo, e passando em frente à Igreja de São Pedro, na praia de Sepetiba.


Entretanto, apesar da minha desconfiança, não precisei ganhar mais alguns metros a percorrer, pois, ao passar  em frente ao canal, o GPS já marcava os 4 k e, faltando apenas 1 k, retornei em direção a minha casa, entendendo aquele, o circuito ideal para os próximos treinos regenerativos. água, tomei uma ducha e fiz o alongamento necessário. 


Agora, é tratar de repor as calorias perdidas - ainda que poucas, creio! - e começar o dia.

10/01/23 (terceiro dia) fortalecimento muscular 

Mais ainda que ontem, acordei bem mais tarde: não estabeleci uma rotina de treino funcional, apesar de saber necessária pro treinamento pra maratona.

Nas duas meias corridas em 2022, até que fui direitinho com os exercícios, mas, como aquela rotina de repetições me cansou tremendamente, decidi alterar significativamente usando o pacote de treinos de fortalecimento, equilíbrio e alongamentos da Adidas Running, com a novidade de fazer as séries programadas semanalmente brincando com meu filho, normalmente, à noite.

Hoje fiz uma série de 20 minutos com 3 repetições de polochinelos, exercícios para os braços, pernas e abdômen com ritmo intenso e me senti muito bem. 


11/01/23 (quarto dia) - 10km forte 

 "...mas são só 10km ! ", pensava alto logo que comecei a correr já prevendo o esforço que teria que empenhar pra, não só manter o ritmo, como, aumentar a velocidade.

Tinha que fazer os 5 quilômetros em meia hora. Ocorre que este "tinha" não seria naquele dia, pois ainda estava na primeira semana de treinos e isto seria pra daqui a duas semanas. E olhe lá!

Se eu ficasse na marca dos 10 quilômetros em "mais ou menos" uma hora eu concluiria a Meia em pouco mais de duas horas. No máximo, passaria uns 10 minutos.

A Meia da Reserva, em setembro de 2022, eu concluí em 2:03, com um ritmo médio de 05:51 e velocidade máxima de 14,1; A Meia Internacional, pouco menos de um mês antes, em 2:18, ritmo médio de 6:31 e velocidade máxima de 12,6.

Algo na metade disto já estaria muito bom para as minhas pretensões com a Maratona do Rio, na metade do ano. Ou seja, completaria em 2:11, com ritmo médio de 5,91 e velocidade máxima de 13,35 estaria excelente, pois teria baixado o meu índice, e, daí, teria alguns meses para manter este ritmo, podendo ganhar ou perder, mas, com certeze, seria muito bom.

"Seria", ou seja, "provavelmente", mas, entrando um pouco no aspecto da minha personalidade, uma criatura tão ansiosa como eu, logo no começo da corrida já estava pensando no esforço que seria ficar abaixo do pace 6, no máximo, após o segundo quilômetro pois "seriam apenas 10 km!

Mas, enfim, completei a corrida em 1:02, com pace 6:13 e velocidade máxima de 11 k/h, já no primeiro dia de treino forte para os 10 km. Claro que tenho que tormar cuidadeo com  com a fadiga muscular e as lesões provocadas pelo excesso de treino, mas, isto, vai do controle psicológico, do treinamento, fortalecimento muscular, alongamento, alimentação, hidratação. Ou seja, passou da hora de  correr com seriedade, o que venho me esforçando há pouco mais de um ano, desde que voltei a  correr e começar a correr com rigorosidade.

E isto exigirá acordar religiosamente às 4 hs da madrugada, pois pego no trabalho às 9hs e o nosso filho, às 7 hs durante toda a semana. Ou seja, às 6 hs, não só tenho que estar de volta, mas, tomado a minha ducha e feito o alongamento em 4 dias da semana, pela manhã.

Os dias de fortalecimento muscular, na terça e na quinta, tem como fazer os exercícios em qualquer momento do dia o que, juntando a segunda feira, de regenerativo e o sábado de descanso, não será, assim, tão "sacrificante", ainda mais com um objetivo tamanho que é completar uma maratona inteirinha - e inteirinho! - não só aos 66 anos de idade, mas, tendo voltar a correr maratonas depois de mais de 30 anos. E com o foco em manter aquele índice daquele rapaz de seus trinta e poucos aninhos. 

Estranho isto de eu não ter me dedicado a outros esportes e, ao contrário, me ver tão aficionado pela corrida de rua. Não sei se ponho na conta do meu biótipo, da falta de tesão, das oportunidades ou de qualquer outra motivação de ordem fisiológica ou psicológica, sem desprezar, claro, o fator econômico.

Na minha adolescência, apesar do estímulo à educação física dos governos militares nos anos 60 e 70, como fiz todo o ensino médio, antigo segundo grau, estudando à  noite, porque sempre trabalhei durante todo o dia, fui dispensado das aulas de educação física, e, diga-se de passagem, elas existiam apenas "no papel", pois, não me lembro de jamais ter visto ou assistido a uma aula sequer de prática esportiva.

Meu irmão mais novo tinha uma caloi 10 e, de vez em quando, eu passeava com ela, mas, como ele passou no vestibular para uma outra cidade e precisou sair de casa, deixei de andar de bicicleta. Naquela época, deixei de pegar jacaré em prancha de isopor e consegui comprar a minha primeira prancha de surf, esporte que pratiquei até eu me casar: fui morar distante da praia.

Alguns anos depois, comprei um caiaque, contratei uma professora de canoagem  e passei a remar na lagoa Rodrigues de Freitas e na Praia Vermelha, na Urca. Quando viajava com a família, minhas filhas adoravam passear de caiaque.

Na faculdade, nos anos de 1980, também trabalhava e estudava à noite, tendo sido dispensado, o que, na época, me frustrava bastante pois, estudando na UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, quando não estava em aulas, costumava visitar o pólo esportivo e ver alguns alunos jogando basquete, futebol, correndo... e isto durante à noite.

No meu primeiro casamento, conheci o tae kwon do , uma arte marcial coreana que usa bastante os pés, os saltos e os socos, e passei a me dedicar com afinco àquela atividade. As dores na coluna me fizeram abandonar a luta na penúltima graduação - faixa vermelha ponta preta! 

Mas, hoje, aprendi com o corredor maratonista e triatleta Karuki Murakami que as dores são inevitáveis. O sofrimento é opcional!

Mas, com o Dr. Drauzio Varela, já havia aprendido a não colocar na conta das dores inevitáveis da idade a falta de motivação para as corridas de rua o que me fez pensar - e fazer por onde! -  pra voltar a correr. 

Claro que bem antes, escritores como Julio Verne, A Ilha Secreta, Hernest Hemigway, com O velho e o mar" e Amyr Klink, com "Cem dias entre céu e o mar " me serviram de estímulo,  tanto quanto os clássicos A Odisséia , A Ilíada, Dom Quixote e  Os Lusíadas. 

Afinal, a corrida de rua pede muito menos que toda aquela bravura, diga-se de passagem, romanceada. Ela pede muito pouco, aliás: apenas a vontade de correr e isto, eu tenho de sobra, além de um par de tênis!

12/01/23 (quinto dia) fortalecimento muscular

Sem sombra de dúvida,  fazer exercícios ao ar livre motiva, inspira e rende muito mais! E foi com este espírito que hoje abri a porta e fiz a minha série, mas, com algumas adaptações por causa de uma dor nas costas que arranjei nos últimos dias.

Em primeiro lugar, achei que foi por causa de um exercício  diferente que forçou a musculatura das costas, mas, pensando melhor, atestei aos movimentos de poda que venho fazendo no nosso quintal, além, claro, de brincar com o meu filho intensamente.

Mas, pela manhã, com todos dormido a mistura do canto dos pássaros com algumas e vozes de vizinhos tornaram a série mais do que agradável.

Pensei no quanto o cuidado com as plantas, com o quintal e a grama me faz tão bem quanto às corridas.  Tanto correndo sozinho, quanto à jardinagem me devolve a paz e a serenidade tão bem-vinda.

A observação de um ramo a ser cortado, a inspeção para ver se há alguma praga, a limpeza das raízes, adubação, transplante de mudas e troca de vasos acompanha um movimento que medeia entre a razão e a paixão.

Não é diferente com as corridas que pede todo um trabalho de concentração, mas, jamais deixa de ser uma brincadeira séria.

Minha esposa divide comigo os cuidados com o nosso jardim e hoje, em especial, passamos quase o dia inteiro cuidando dele. E, ao final do dia, jantamos uma panqueca de ora pronobis nutritiva e deliciosa, para uma noite chuvosa.

13/01/23 (sexto dia) 10km leve

Às vezes, mudar os caminhos pode ser uma solução.´

E isto eu posso aplicar em muitos momentos da minha vida, desde que decidi, nos meus 20 e poucos anos pela minha profissão, assim como, ainda na adolescência, pela minha opção político-ideológica e espiritual.

Também, a decisão de largar o sedentarismo e voltar a correr depois dos 65, a fim de acompanhar o pique do meu filho, de 4 anos de idade.

Hoje foram aqueles cachorros que tentaram me morder no começo da semana. Lembra?! 

Então... já na no final da orla, chegando aos 5 m,  contornando na rua Abílio Teixeira de Aguiar, na praia do Cardo, olhei o ponto onde havia sido atacado pelos amigos nervosos. Pelo horário, o encontro seria inevitável...

Nem pensei duas vezes para seguir em frente, subindo aquele que seria o maior aclive da semana, de 11 m, pra dar a volta pela rua de trás. Assim, não só evitaria o confronto como, também, garantiria o trajeto ideal, voltando pela rua do canal, fugindo do movimento e do trânsito da hora.

E, não foi diferente: ao completar o contorno, já avistando a praia, olhei à esquerda e os cachorros estavam exatamente no mesmo ponto, prontinhos reforçar o café da manhã com um naco da minha canela.

Pode ser por oportunidade,  possibilidade, facilidade. Mas, sempre precisei decidir e fazer uma escolha. Nem sempre foram as melhores, claro rs

Mas esta, com certeza, foi muito boa, não só por ter me livrado de umas dentadas na perna, como, também, por ter decidido pelo trajeto ideal pra completar os treinos semanais de 10 km: o forte, da segunda feira e o leve da quarta.

Ter decidido pelo magistério também foi uma excelente decisão, pois esta é uma profissão com quem tenho feito muitas amizades além de que os dias de trabalho, o lugar e os horários, além de flexíveis, são de relativa negociação.

Há mais de 40 anos lecionando, hoje, trabalho bem menos que trabalhava, e bem mais perto de minha residência, quando completei minhas duas primeiras maratonas o que entendo ser um facilitador para que eu tenha como completar outras provas longas, mesmo tendo passado tanto tempo.

A instituição em que trabalho dispõe de parque aquático com atividades facultadas tanto aos estudantes, professores e comunidade. E de lá que tenho recebido estímulo, incentivo e aconselhamento dos professores de educação física, dois deles, inclusive, também são corredores.

Ao terminar as férias, pretendo associar os exercícios para o fortalecimento muscular com as aulas de natação, na piscina do meu trabalho, nos dois dias destinados a estas atividades ou, ainda, alternar entre a natação na terça feira e os exercícios funcionais na quinta. Mas isto, vou decidir ao retornar as aulas no mês que vem.

A minha associação (Appai - Associação Beneficente dos Professores Públicos Ativos e Inativos), disponibiliza entre os seus associados um grande leque de opções de atividades de lazer e, dentre eles, o benefício corridas e caminhadas.

Assim, posso  desfrutar, o ano inteiro do calendário das principais corridas no meu estado, incluindo, as do calendário oficial, apesar das inscrições limitadas aos seus associados e dependentes.

Ao contrário das estatísticas sobre o adoecimento profissional dos meus colegas, entendo que, ao escolher as salas de aula como lugar em que passaria boa parte da minha vida trabalhando foi - e continua sendo! - uma atividade prazerosa que contribui, também, para a minha longevidade, apesar de todo o risco da nossa profissão.


14/01/2023 (sétimo dia) - descanso

Surfando na onda do esforço de ontem, hoje é dia de ficar de boas (rs). Descanso, descanso e descanso, além de muito macarrão pra enfrentar o longão dos 15 km de amanhã.

Compramos uma balança de bioimpedância como estímulo para o nosso propósito de ganhar peso, o que é um baita desafio pra uma magrela e outro magrelo como somos eu e minha esposa.

Fiz uma primeira medição há dois dias e, amanhã, antes de sair de casa faço outra e repito assim que retornar com grandes possibilidades de emagrecimento, claro!

Mas, tendo aproveitado bastante a sexta feira, com direito a churrasquinho vegetariano e uma latinha de cerveja, pra gente e piscina com sorvete e esquibunda (escorrega dentro da piscina) para as crianças foi tão prazeroso quanto termos cuidado do jardim no dia anterior e noites super agradáveis com temperaturas amenas. 

O verão, por aqui, é marcado por fortes tempestades que, apesar de intensas, são rápidas e, logo, volta o sol mais intenso ainda. São as famosas chuvas de verão que antecedem as "águas de março" que fecham a estação, mais de acordo com a famosa canção do que, propriamente, o clima que tem sofrido bastante alterações

Ontem à noite, inclusive, com a temperatura bem agradável, nos demos ao luxo de assistir a um filme que terminou relativamente tarde o que me fez ficar na cama até às 6 hs, o que é muito difícil durante a semana.

Antes de sair pra encontrar com alguns amigos, fiz um macarrão com molho verde (ora pro  nobis), acompanhado de feijão e antes de voltar pra casa, comi um pastel com caldo de cana, pra não passar de três horas sem me alimentar.

Agora, é tomar uma latinha de cerveja, ver alguma coisa na televisão e preparar o jantar pra garantir o que acho que vou perder amanhã.









sábado, 7 de janeiro de 2023

Diário, 1ª semana 1.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 01/23)

Foi passeando pelo calendário de provas para 2023, revendo o meu planejamento, que me deparei com esta prova e que muito me interessou por diversos motivos e, talvez, o mais importante tenha sido o fato de ter morado, trabalhado e habitado naquela cidade por alguns anos.

Claro que juntou a comodidade de uma prova longa, como preparatório para a Maratona do Rio, em junho e sua distância temporal suficiente para o necessário preparo, de 16 semanas, além da relativa proximidade do Rio de Janeiro não bastasse a possibilidade de visitar alguns familiares muito queridos.

O circuito, -  muito bem conhecido e muito bonito!, - pelas praias do centro de Angra, apesar de que as praias mais bonitas ficam distantes, já próximas à divisa com Paraty - Perequê, no Parque Mambucaba, passando pela a Vila Histórica.

Naquele bairro, onde residimos, conhecemos as melhores praias, como a Praia Brava, a Secreta,  a da Vila Histórica, a de Coqueiros, Vila Operária, São Gonçalo,  São Gonçalinho - esta já na cidade vizinha, ainda selvagem, na ocasião. 

O circuito da Meia, no centro histórico de Angra, inicia na Praia do Anil e passa pelas Docas, estação das barcas, enseada Batista das Neves, entrando no Colégio Naval, ida e volta.

Trajeto bem conhecido meu, pois, ao nos mudar do Rio para Angra, lecionando naquele estabelecimento de ensino militar,  naval, nos primeiros anos deste século, ia do Perequê, em Parque Mambucaba, de ônibus.  Saltava no centro de Angra e caminhava até a sua entrada toda semana  aproveitando a paisagem muito agradável da enseada, pela manhã.

A temperatura, em fevereiro - aliás, o ano inteiro! - costuma ser menor que a do Rio de Janeiro e chove bastante o que, pra mim, é muito bom, pois adoro correr na chuva.

Dizem que o motivo pelo qual a usina nuclear foi construída em Angra dos Reis, durante a ditadura militar foi o alto índice pluviométrico, na ocasião. 

Quando lá residimos, eram raros os dias de sol durante o ano inteiro . Mas, no começo, devido à novidade, isto não nos impedia de aproveitar bastante aquele lugar aprazível. 


Estou em férias do trabalho e descansando após o treino pesado pra São Silvestre que, apesar de não ter ido a São Paulo, completei os 15 k com a média de 10 k por hora, o que me sinalizou ideal para a Maratona na metade do ano antecedida por mais uma meia maratona, daí, ter descoberto esta,  caiu feito uma luva!

Fiz a reserva num hostel, bem recomendado,  na praia, tanto pra mim como para minha companheira e meu filho com a possibilidade de levar, também, seu primo, caso lhe interessasse ir viajar comigo e aproveitar como lazer num lugar aprazível .

Como esperava concluir em, aproximadamente 2h30m, chegando no dia anterior, poderíamos aproveitar bastante passeando pelas ruas do bairro, ou, ainda, indo visitar conhecidos.

Fiz a inscrição e estou voltando à rotina dos treinos, já nos meus 12 k, do primeiro longo, no primeiro domingo após o dia de Reis, quando desmontamos a árvore de Natal e o presépio, segundo a tradição cristã. 

Agora, vamos aos treinos!