Erro de estratégia ou de horário?! Era o que pensava logo assim que saí casa pra começar o 2° mezociclo (15 km): é que programei o app pra 12 km, quando já estava nos 18 km.
Como não tinha como reprogramar, continuei no meu ritmo.
O cansaço e a prostração eu atestei ao calor devido ao horário. Mas é que o sol, já perto das 6 hs, já dava sinais do que seria aquele domingo que chegaria à sensação térmica dos 54º.
Quando corro em horários diferentes, encontro corredores também de horários diferentes e, saindo por volta das 5:30, em especial, é impossível não passar por uma corredora entusiasmada, cujo nome jamais irei saber, tampouco detalhe algum sobre ela a não ser que ela sempre me deseja, entusiasticamente, uma "boa corrida!" com um largo sorriso no rosto, seguindo em seu ritmo quase parecido com o meu, quando eu já estou retornando do final da orla.
Durante os treinos longos tenho oportunidade de refletir sobre as minhas reações diante da recepção dos meus cumprimentos, do meu bom dia para as pessoas que encontro pelo caminho. Em especial, naquele longão, fiquei pensando como deve ser sacrificante para uma pessoa, em luta diária contra a balança, com uns quilinhos a mais de gordura no corpo, correndo, quase se arrastando, suando em profusão, tentando respirar com um enorme sacrifício, já completamente extenuando, receber um retumbante BOM DIA de uma pessoa magra, correndo num ritmo tranquilo e um largo sorriso no rosto, sem uma gotinha sequer de suor.
Não sabendo que efeito poderia causar em algumas pessoas com quem às vezes encontro pelo caminho, resolvi, para algumas, dar um bom dia entusiasmado e, para outras, apenas um gentil e cordial bom dia e, para outras, apenas um leve sorriso. E isto tudo está preso, claro, ao horário em que eu corro: antes das cinco horas da madrugada tem bem menos corredores e corredoras que depois.
Com os dois aplicativos abertos pude acompanhar, com maior exatidão os quilômetros percorridos assim como o tempo e o pace. Ao final da orla, subi pela rua Abílio Teixeira e corri em parte da Estrada de São Tarcísio, retornando à praia pra começar a retornar.
Por volta do 10 quilômetro, já na praia de Sepetiba, na volta, percebi que comecei a me cansar. Não sei se foi algum desgaste por cansaço ou a temperatura ou a resistência em ter que correr, não os poucos 5 km restantes, mas, sim, o aclive - ainda que suave - da Estrada do Piaí para conseguir completar a distância necessária.
O fato é que tem estado muito quente com uma umidade muito alta. Assim, o ar fica quase que irrespirável, fazendo com que a toalhinha da viseira fique encharcada. Pelo menos, ela evita que o sal do suor entre nos meus olhos, o que é um diferencial.
Finalmente cheguei na rua José Fernandes, com seu suave declive uma das poucas quase que totalmente arborizada, principalmente, em frente às escolas da prefeitura. A diferença do clima e da temperatura é perceptível.
Consegui completar os 15 km um pouco antes da metade da rua do canal o que me permitiu desacelerar caminhando por uns 700 metros até chegar em casa.
18/01/2023
Como ontem fui dormir muito tarde, acabei não conseguindo sair da cama para o treino leve de hoje que, na verdade, deveria ter sido pesado, para forçar no volume e na intensidade.
Mas, com a certeza da tranquilidade do treino, por muito pouco me deixei levar pelo canto da sereia e continuado na cama.
Mas, pensando em como, depois, iria me arrepender, me levantei e fui pagar a minha cota.
Fiz uma boa corrida nos 10 km deste ciclo terminando com 66 BPM ao completar o trajeto tão conhecido meu, subindo pela rua do canal, passando em frente a minha casa e contornando em frente à padaria.
Minha rua, assim como da vizinhança tem muitas casas, ainda, com árvores no quintal e, não é nada incomum encontrar casas com grandes árvores, ainda, apesar, cada vez mais, estarem rareando.
Muitos decepam suas árvores para simplesmente, fazer lenha, ou impedir que as grandes raízes danifiquem seus imóveis. São mangueiras, abacateiros, jaqueiras, ou seja, árvores de grande porte devido ao passado rural da região.
O fato de que a orla não ter destas grandes árvores não se refere apenas às condições naturais, mas, principalmente, devido às obras realizadas em 2012, pelo Projeto de Reabilitação Ambiental da Praia de Sepetiba, executada pelo Inea.
Foi feito o remanejamento de 500 mil mudas invasoras do mangue e dos seus 780 mil caranguejos, que foram morar na área vizinha à Base Aérea de Santa Cruz e, depois, toda a lama foi coberta com geotêxtil, que permite o fluxo da água e de gases e, em cima, distribui-se uma nova camada de areia limpa.
Nossa praia, com seus 5 km, antes da obras havia sido degradada e se encontrava poluída por lodo orgânico, fruto do fechamento do canal pela instalação de uma siderúrgica internacional, tantas vezes multadas pelos órgãos competentes e que, apesar de todas as ações judiciais, segue comprometendo o meio ambiente.
No passado, nossa região já havia sido referência para a economia pesqueira, por ser um criadouro natural para peixes, moluscos, crustáceos, foi "degradada pela poluidora Companhia Mercantil e Industrial Ingá que processava minério para a produção de lingotes de zinco e se instalou em 1962 na Ilha da Madeira em Itaguaí, como se lê no artigo da EcoDebates, de 2018, "Por que os botos estão morrendo na Baía de Sepetiba e em extinção na Baía de Guanabara, de Sérgio Ricardo.
Não só o Portal Inea, assim como para os moradores, "as obras recuperaram a faixa de areia, trazendo de volta a urbanização praiana e beneficiando cerca de 40 mil moradores da região" atendendo, assim, às nossas reivindicações.
Ainda adolescente, nossa mãe costumava nos trazer, a mim e aos meus irmãos, para passear em Sepetiba e, confesso, pouco tinha a ver com o que eu vivencio hoje e dia. aquela Sepetiba paradisíaca, dos anos de 1970, em que os jovens da zona sul vinha para curtir, namorar, passear, com um mar piscoso, de camarões que saltavam de noite, iluminados pelos farois dos carros, só existe nas minha lembranças.
O que resta da resistência, do esforço e sacrifício dos remanescentes da pesca artesanal é fruto das lentes de Márcio Pinto, meu colega de trabalho e fotógrafo talentoso, morador em Santa Cruz, que, além de apresentar aos estudantes e público em geral o Corredor Cultural, parte do passeio "Descubra Santa Cruz", incluído, no ano passado, entre os bairros históricos do Rio de Janeiro, como parte do Patrimônio Histórico e Cultural de nossa cidade.
Márcio, com extrema habilidade, sensibilidade, técnica, estética e profissionalismo, além de comprometido com as questões sociais e ambientais da região, vem se utilizando de suas lentes para, não só divulgar os encantos e desencantos do extremo oeste do Rio de Janeiro, como, também, sensibilizar os agentes públicos.
Elogiado, reconhecido e premiado local e internacionalmente, Marcio expôs recentemente alguns dos seus registros sensíveis e inspirados, na "Lost Paradise" em Minas Gerais, em 2022.
Mas, correr pelas ruas do bairro, principalmente pelas do antigo caminho do triunfo, que corta caminho até a estrada principal em direção à Santa Cruz, ainda permite usufruir de um clima bem mais ameno nestes dias de muito calor, como os do verão, exatamente, porque aquela região ainda abriga muitos sítios e casas com grandes terrenos, com árvores frondosas de sombra agradável.
As correntes de vento em Sepetiba, contrárias ao ar poluído que vem do Terminal da Vale S.A, tem se mostrado uma aliada natural bem mais eficiente do que as políticas ambientais de deveria agir com rigor, cumprindo, assim, o seu papel em benefício do meio ambiente e de toda a população da região.
E isto, conforme o site Baía Viva, em pleno século XXI, quando vivenciamos a Década do Oceano e Restauração dos Ecossistemas determinado pela Organização das Nações Unidas.
20/01/2023
Existe alguma relação entre a corrida de rua e a religião?
Lá pelos 5 km do treino da meio da semana, já retornando, foi que isto de corrida como religião ideia grudou na minha cabeça e, até agora, não paro de pensar nisto.
As corridas acima dos 10 km, como aquela, por exemplo, a de sexta feira, dia do treino leve, tranquilo, para relaxar no ritmo e me despreocupar com a performance, estimulam devaneios e ensaios filosóficos de maior aprofundamento.
Mais do que aquelas ideias que, na mesma velocidade que vem, também, logo a seguir, desaparecem, talvez mais a ver com corredores velocistas, de provas curtas, cujos músculos contraídos precisam obedecer inequivocamente aos comandos do cérebro voltado à técnica e às tecnologias biomecânicas.
A questão espiritual, de foro íntimo, sempre esteve presente na minha vida, diferente, das religiões e da religiosidade que entendo como pertencente à esfera institucional e organizada por grupos, agremiações, pessoas com anseios e desejos em comum.
Não faço e nunca fiz acepção de religião alguma, inclusive ao direito de não se acreditar em Deus tampouco ao agnosticismo .
Talvez, a geração da qual eu faço parte, que viveu intensamente a atmosfera psicodélica, hippie e alternativa dos anos 70, tenha alguma responsabilidade sobre esta minha herança, notadamente, a de rejeição ao instituído.
As nossas possibilidades - ao menos para uma parcela da juventude da zona sul -, naquela ocasião, se ampliaram sobremaneira através das canções e mantras do músico e poeta Bob Dylan (1941), dos mantras do músico e também guitarrista George Harrisson, dos Beatles (1943-2001) e o movimento Hare Krishna; dos mararishis - líderes espirituais indianos; da alimentação macrobiótica, do filósofo japonês George Ohsawa (1893-1966); dos movimentos pacifistas e do Ahinsa, - a não violência - , de Gandy, ecoando, através da música, da cultura, da alimentação e da dança, com os apelo fim da Guerra do Vietnã (1959-1975) e consciência ambiental. E isto tudo nos anos de 1970!
Em casa, de banho tomado e feito o meu alongamento, antes de sentar para escrever, olho o meu filho, minha esposa e nossa cachorrinha dormindo em paz, harmonia e serenidade e volto meus pensamentos para a espiritualidade e penso nos locais por onde passo durante as corridas aqui, pelo meu bairro.
Não são poucas as ofertas religiosas em Sepetiba: são igrejas católicas, paróquias, centros espíritas, kardecistas, templo messiânico e terreiros de umbanda; roças de candomblé.
A Igreja da Profunda Intimidade, como se lê em grandes letras azuis, no alto da edificação, igreja evangélica neopentecostal, na praia de Sepetiba, sempre me chamou a atenção, muito mais do que a infinidade de outras igrejas protestantes, pelo seu apelo na escolha do nome e, claro, não tenho como deixar de pensar nas motivações de quem escolheu aquele sugestivo, inquietante, desafiante e, por que não dizer, corajoso nome?!
Talvez porque ela expresse um desejo universal do homem se reconectar com aquilo que tem de mais profundo no seu íntimo; que lhe permita responder à nossa cruel e atávica indagação jamais respondida -, quem sou, de onde vim, para onde vou - como Édipo diante do seu Destino, ao nos franquear nosso maior desejo, o do autoconhecimento, talvez, a construção do caminho para a felicidade e realização plena.
Nome bem melhor escolhido do que a internacionalmente conhecida, com sede em diversas partes do mundo, com um patrimônio somente inferior à da igreja católica, Universal do Reino de Deus, do Bispo Edir Macedo, cujo templo, na esquina da minha rua, desde sua inauguração, passou a ser ponto de referência para os correios e entregadores de encomendas, tamanha a sua expansão publicitária e, claro, econômica!
Polos opostos, assim que as entendo. Mas, guardando entre elas, algo em comum, a necessidade humana do agrupamento, do estar junto, da irmandade, além de favorecimentos particulares, o compartilhamento de uma determinada visão de mundo, talvez, de um desejo de uma determinada coletividade, haja vista os enormes esforços, o grande financiamento e empenho para a campanha do ex presidente, derrotado nas últimas eleições.
Desta forma, vejo-me, então, distante da religiosidade do senso comum e, até pouco tempo, como um ateu, o que descobri não ser uma verdade absoluta, pois, o ateísmo, ao negar a divindade, acaba elegendo a própria pessoa como deus. Então, ela acredita em um deus que é ela mesma. Definitivamente, não é o meu caso: sou uma pessoa de relacionamentos e dependo de todas e de todos.
Não é o meu caso, mas, guardo, com muito carinho e respeito, as minhas crenças, que oscilam entre o panteísmo e a filosofia budista, e a espiritualidade natural - porque entendo todos os seres - do ser humano ao vira latas; da mula ao beija-flor; da minhoca à samambaia - que, propriamente, de uma religião instituída, institucional.
Meu corpo, meu organismo precisam ser cuidados e respeitados como um templo, em minha individualidade e, nos meus interrelacionamentos, como uma egrégora, pois pertenço ao universo.
Constituo-me não num organismo, cujas células mantém-se unidas através de um miraculoso equilíbrio de atributos da física, em minhas células e moléculas. e disto tenho uma tremenda certeza! É mais que uma certeza: é a minha fé!
E, para alimentar esta minha fé, guardo meus ritos como os das corridas de rua e, talvez, tudo isto tenha sido, formado, educado, construído, durante toda a minha vida, passando pela paisagem tão bem apreciada das praias, do mar, do céu estrelado, que me devolviam a paz do espírito curioso e aventureiro de uma criança, assim como dos raios e dos trovões, que alimentaram minha curiosidade e jogavam adrenalina no meu sangue, a me preparar para os desafios e perigos da vida.
Não consigo viver longe do mar e, apesar de impróprias para o banho, a maresia, a brisa marinha das praias de Sepetiba, do Recôncavo, do Cardo, promovem um up no meu treinamento.
Gosto de correr na chuva e, mais ainda, pela orla da praia: o espelho d'água, antes do sol nascer, ainda pouco iluminado; as lanternas acesas das raras embarcações, cujos pescadores artesanais voltam do mar, ainda de madrugada, são os círios a compor uma dinâmica aquarela multimidiática, cuja Natureza insere, na pauta musical, os acordes de cantos estranhos de aves migratórias, de passagem pela região, consorciadas às aves de brejos e mangues, como o socó e as gaivotas brancas, do extremo oeste fluminense.
Àquela orquestra de câmara, junta-se o solo do motor de popa, de um pescador, contrito em seu pequeno barco, ainda com suas lanternas acesas, elevando-se além dos acordes da paleta musical, dissonantes, porém harmônicas, do socó e da altaneira presença das gaivotas do mar.
Tais espaços destinados ao meu culto diário sempre foram muito próximos às minhas experiências contemplativas: em minha adolescência e juventude vividas na zona sul quando não estava com meus amigos, gostava bastante de ficar sozinho na beira do mar, olhando a linha do horizonte, ou na Pedra do Arpoador, esperando o por do sol.
Em minha prancha de surfe, quando não tinha onda, permanecia deitado de bruços, com os braços apoiados segurando o pescoço, ainda fitando aquela divisa entre o céu e o mar, entre o finito e o infinito.
Quando criança, nossa mãe Maria, diariamente às seis da tarde, benzia-nos - a mim, meus irmãos e a alguns amiguinhos, quando interrompíamos nossa pelada pra subir até o nosso apartamento e terminado o rito, em seguida e apressadamente, voltar aos jogos e às brincadeiras infantis, sempre descalço.
Segurando os sapatos, aos domingos, caminhávamos pela areia da praia até o final de Copacabana, no Posto 6, para assistir à missa, mas, confesso, eu pouco prestava atenção naquelas palavras estranhas - a missa era em latim! - proferidas por um padre. De costas!
A igreja do Forte de Copacabana, bem pequenininha, tinha um atrativo especial: ficava numa praça cheia de amendoeiras doces e refrescantes!
Bem maior era a da Paróquia São Paulo Apóstolo, na Rua Barão de Ipanema, de arquitetura imponente e belos vitrais, algumas quadras depois, que frequentei nos anos de 1960, em preparação para a Primeira Comunhão: as brincadeiras no pátio da igreja, antes das aulas, as balas doces e macias que recebíamos até hoje tem um sabor de boas lembranças, de uma amizade, de laços de afeto, que nos uníamos enquanto crianças, enquanto irmãos.
Assim, não vejo como não entender a magia das corridas de rua como religião, não só devido aos ritos e rituais, diariamente praticados, pelos seus adeptos, como, também, daquilo que nos alimenta em nossa crença: para alguns, a da superação da condição humana, da certeza da finitide; para outros, a da transformação íntima, subjetiva pela eficácia simbólica, conforme Silva, Rigoni e Teixeira, no artigo O ritual no âmbito do lazer numa prova de meia maratona, publicado em 2019.
Mas, o caráter coletivo sobrepõe-se a todos os demais, visto que um rito não pode ser composto somente pelo envolvimento emocional individual, na medida em que ele é, antes de tudo, "uma forma de celebrar (de viver) que é coletiva, portanto, pública.", como leio na página 239.
Reencontrar parceiros que só encontro nestas provas de longa distância, como as meias maratonas e, certamente, reencontrarei nas diversas corridas e maratonas deste ano; fazer novas amizades e estabelecer novos laços de afeto é, também, o que irmana corredores de rua, nesta teia universal de nossa existência.
Bem além dos elementos relacionados aos "sacrifícios" e das dores do treinamento, de atletas profissionais e de competidores, tidas como elementos constituintes da beleza esportiva, os rituais corporais, de pessoas comuns, de corredores de rua, de atletas amadores, despreocupados com o podium, transformamos o nosso envolvimento com o esporte num verdadeiro rito, muito além do sacrifício, bem mais próximos aos elementos motivacionais coletivos, inerentes aos ritos mágicos.
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