domingo, 22 de janeiro de 2023

Diário, 3ª semana 3.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 04/23)

O registro mais fiel da mais importante prova de nossas vidas

Corredores de longas distâncias e, no meu caso, em preparação para correr outras maratonas, acabam desenvolvendo uma relação muito íntima e solidária com o Tempo e o Ser. 

Tanto guardo um enorme respeito pela passagem do tempo, como pelos parceiros de treino, já longevos como aquele senhor, caminhando em passos rápidos, com uma camisa do Botafogo, time de futebol do nosso estado, assumindo e estampando sua condição de veterano escrito nas costas. 

É mais do que isto! Eu entendo e, passando por ele, o cumprimento com um sonoro entusiasmado "Bom dia, Mestre!"

O Tempo é um desafiador para os seres humanos. Tanto quanto a compreensão de sua estrita relação com o Ser: é ele quem determina nossos objetivos e limita nossas possibilidades. 

Olhando as minhas fotos ainda rapaz, atleta e corredor, as marcas da idade não ficam apenas na aparência: nossa performance tem uma brusca perda de rendimento e qualidade, para muitos, depois dos 50 anos.

Quando me aposentei, no documento de concessão do meu direito trabalhista, o registro da minha estimativa de vida me impressionou bastante. Mais ainda ao nascer o meu filho, e isto depois dos 60 anos, há muito aposentado, e correndo mais de 100 km por mês, me fez relativizar aquela sinistra estatística. 

Por um milagre biomecânico, meu desempenho nas corridas de rua, aos 65 anos, é  superior ao daquele jovem rapaz quando completou sua primeira maratona em quase 5 horas, quando o limite em provas como a Maratona de Florianópolis delibera para o tempo limite para o ingresso no ranking brasileiro de maratonistas, idades entre os 65 anos e 69, o tempo abaixo de  4h:40m. Minha pretensão  - é treino para isto! - é completar a próxima maratona em 4h30,  no máximo. 

Não reclamo do problema de coluna lombar há mais de 20 anos, tampouco de uma lesão por esforço repetitivo, no ombro direito  e de um pequeno incômodo nos dedos das mãos, além de uns resquícios de varizes na parte anterior do joelho esquerdo. 

Noto que estes sintomas tem me incomodado muito menos ao retornar às corridas introduzindo os exercícios para o fortalecimento muscular. A consulta a um ortopedista esportista não prescreveu o uso de medicação, apenas exercícios de correção postural e alongamentos constantes diariamente. Também não tenho necessitado mais da fisioterapia. 

Claro que, ao final de uma longa corrida, as mãos miraculosas das massagistas do setor vip da organização valem tanto - ou mais! - que a certificação pela conclusão e a tão desejada medalha. Depois da checagem médica e do banheiro químico, meu primeiro olhar busca pelas tendas da Appai, como um viajante, no deserto, anseia por um oásis. Ainda que não queiramos, depois da passagem de tanto tempo, de comemorar tantos aniversários, acordar sem sentir dor seria mais do que um milagre.

Guardamos uma sensível intimidade com o tempo e o controle da nossa velocidade de tal forma que as batidas do meu coração, que em repouso bate lento a 55 BPM, dificilmente passa dos 70 BPM moderados, chegando ao máximo de 90 BPM, já no final de um treino de 10km tendo corrido cerca de 60 minutos.

Para uma corrida acima dos 21km - as meias maratonas - como treino progressivo, para não terminar pior do que comecei, a cada 5 km após os dois ou três primeiros quilômetros, quando já ultrapassei os 8 km/h, diminuo de 10 a 20' chegando, nos últimos 5 km finais aos 6.20/km, como aconteceu no longão que, por um desvio errado já na reta final, acabei ultrapassando a meta, fechando 16,4 km em 1h40m.

Tanto o ritmo da minha respiração, que vai do leve ao moderado chegando ao intenso, me ajuda a precisar o meu pace. E isto, sem consultar o cronômetro!

Os relógios dos corredores são instrumentos de alta precisão cuja indústria vem se esmerando em entregar o máximo de fidelidade na cronometragem, no posicionamento e outras funcionalidades esportivas.

Tudo para garantir o exato registro do desempenho, das conquistas dos atletas profissionais e amadores, assim como os corredores de rua.

Mas, o registro mais fiel do início e do final da maior e mais importante prova de nossas vidas é o intervalo entre a alegria de um nascimento e a tristeza da morte, para quem desacredita no movimento  e no ciclo de nascimentos e de renascimentos, como pequenas, média e provas de longas distâncias, vividas, em cada oportunidade, de maneira mais intensa.

Sou o irmão caçula de uma família com apenas um irmão dos meus outros dois, já falecidos, assim como nossa mãe e nosso pai. Ou seja, sobramos apenas nós dois dos Roitberg daquela geração, afora os outros filhos que nosso pai teve em segundas núpcias. 

A morte de minha irmã, Marinaila, há um ano, não só nos encheu de tristeza como me proporcionou uma experiência até então não vivenciada em toda a minha vida. Como ela faleceu no hospital, vitimada por um câncer fatal, seu corpo foi removido para o necrotério e alguém da família precisaria fazer o reconhecimento do corpo.

Acompanhei sua filha - e minha afilhada - naquela prova definitiva da face mais grotesca da morte, que transcende as certezas e incertezas sobre a efemeridade das coisas, de tudo

Leio no meu livro de cabeceira "Correr: o exercício, a cidade e o desafio da maratona", o que o Doutor Drauzio Varella me ensina: 

É tão grande a dificuldade de aceitarmos que a vida pode ser extinta aleatoriamente como a chama de uma vela, que diante dessa eventualidade procuramos razões para atirar na pessoa a culpa pelo fim que lhe foi reservado: "Ah! Mas ele bebia"; "Mas era muito deprimida; "Mas tinha perdido a vontade de viver!". Encontrar justificativa para o desenlace fatal do outro explica o inexplicável e nos deixa com a impressão de que estamos a salvo. (2015, p. 22)

A decrepitude e a perda de traços humanos na face de um defunto e, pior ainda, de uma pessoa tão amada, que viveu intensamente como a minha irmã, a "maninha". Sinto não ser mais chamado de "meu caçula" por aquela pessoa tão solidária, com tamanha vitalidade e energia para viver intensamente.

Olho-me no espelho e, no previsível - e esperado! - julgamento da imagem que se reflete, além das tão características pernas arqueadas e dos meus braços longos, magros, porém musculosos, atesto inequivocamente todas as alterações, visivelmente perceptíveis, em meu corpo como a expressiva perda de massa magra - desafio para a minha nutricionista! - e dos cabelos que já caíram, há muito, assim como, há muito, deixei o saudosismo pelos meus cachos ondulados e do meu extenso rabo de cavalo. 

Olho meu  rosto mais de perto e, ao mesmo tempo que me elogio, atesto os sinais do meu envelhecimento com os "pés de galinha", o "bigode chinês", as rugas na testa e outras marcas de expressão assinaladas pela perda do colágeno, o que não mais garante a sustentação da musculatura facial. Afinal, não foi Newton quem inventou a gravidade. 

No meu tórax, algumas pintas por ter desprezado o uso de cremes e de protetor solar ao longo da vida. Acho os meus peitos bem bonitinhos, de boa musculatura, a despeito dos meus mamilos míopes, que sempre olharam pra fora. Brinco com eles de mexer pra cima e para baixo, o que o meu filho também faz me imitando.

Não considero minha barriga avantajada e, muito pelo contrário, ela estabelece uma boa relação entre a cintura e o abdômen, apesar do cuidado constante com o nível da gordura visceral. Acho que é devido ao pouca consumo de alimentos processados e frituras e excelente hidratação. Vejo meus bíceps e  tríceps bem trabalhados com boa musculatura. Normal entre corredores com quem convivo. 

Corredores de rua e maratonistas tem este algo em comum, de acordo com os pesquisadores da Clínica Média de Medicina do Esporte, de Minas Gerais, Janaína Goston e Larissa Mendes: somos magros, de estatura mediana e pesamos entre 64 e 90 quilos, com IMC entre 19 e 29 e um mínimo de gordura corporal de 9 e máximo de 34. 

No momento, apesar de estar bem quanto ao IMC de 22, e gordura a 19, ainda estou devendo para a balança, pois, até o momento, o máximo que atingi no mês de janeiro foi 63,5, cismando no patamar dos 61,5.

Mas, sei que não me comporto como devia nos aconselhamentos e orientações da minha nutricionista, ainda mais que não sou um atleta profissional e nossa alimentação aqui em casa é de base vegetariana com pouca ingestão de alimentos ricos em gordura e nenhuma de origem animal.

O meu desafio é aumentar o consumo de carboidratos, - de rápida digestão no meu organismo! - legumes, frutas, verduras e driblar uma enorme fome que sinto entre uma refeição e outra, num intervalo de, no máximo, 3 horas, o que supro, quando estou em casa, com bananas, uva passa e folhas de ora pro nobis que tiro da nossa horta orgânica, ou um mix de oleaginosos, quando estou no trabalho. 

Mas é um desafio repor as mais de 700 calorias gastas nos treinos dos 10 km em 1 hora e cerca de 1.500, acima dos 15 km, correndo por 1 h:44 m. Perco, em média, dois quilos ao final destas corridas. Em cada um dos dois treinos semanais para fortalecimento muscular gasto 500 calorias. Felizmente, recupero muito rápido durante os dias seguintes cuidando do adequado consumo alimentar e mantendo a necessária hidratação.

Além do ovo cozido, da espiga de milho, e do pão integral com requeijão feitos aqui em casa, no café da manhã, não deixo de colocar, religiosamente, no prato meu prato - de peão! - na hora do almoço, duas conchas de feijão e 6 colheres de sopa de arroz junto aos demais alimentos no almoço e no jantar acompanhado de uma proteína vegetal que pode ser um ovo, proteína de soja texturizada com shitake, grão de bico, ervilha ou lentilha, servido com legumes e verduras a vontade, temperadas com azeite extra virgem. 

Aos finais de semana, quando não vou na feira comprar pastel com caldo de cana, gosto de fritar uns peixinhos (de horta!) servindo com salada e feijão com arroz. Nosso filho adora! De noite, uma pizza com cerveja na noite de sexta insegura com chave de ouro o fim de semana. 

Além do estrogonofe de legumes e do macarrão integral com molho se azeitonas pretas e temperos aromáticos,  preparados pela minha esposa, a sobremesa de goiabada cascão com coco queimado das Casas Pedro só perde para o picolé da moleka - iguaria local  - ou para a deliciosa e colorida gelatina também preparadas por ela.

Alguns raros corredores, de alta performance, cuja alimentação balanceada, treinamento espartano e estrito acompanhamento de uma equipe multidisciplinar tem, somente na genética, alguma provável explicação pelos excelentes resultados. O perfil dos velocistas, como o genial corredor jamaicano Usain Bolt com os seus 1,96 cm de altura e 86 kg, guarda em sua herança familiar medidas antropométricas ideais o que o fazem o maior recordista nas provas de curta distância, desafiando o mundo dos esportes a repensar o conceito de limites para o ser humano. 

Mas, quando este "antílope" começou a correr, ele comia quase de tudo. Profissionalizando, passou a ter sua alimentação totalmente organizada por uma equipe de nutricionistas. Bolt chegou a comer mais de 1000 nuggets do McDonald,  quando esteve em Pequim, quando ganhou três medalhas nas Olimpíadas de 2008, conforme matéria da Revista Saúde, assinada por Thiago Sievers.

Diz o corredor -

"Quando você começa com um treinador e há um peso que você tem que permanecer, e todos os dias você tem que se pesar e cuidar de sua comida, eu ajustei minha dieta para passar a comer mais vegetais e proteínas. Quando os desejos aparecem, você tem que olhar par o outro lado. Essa é a parte mais difícil." 

Como o velocista passou apenas 10 dias na China, ele comeu, nada mais nada menos do que 100 nuggets por dia!

Para conservar o título do homem mais rápido do mundo, Bolt consome no café da manhã sanduíche ou ovo; no almoço, massa, carne em conserva ou peixe; no lanche, manga, abacaxi e maçãs ao longo do dia e, na janta, bolinhos jamaicanos, vegetais e frango assado, ainda segundo a matéria.

Cardápio que tem rendido excelentes resultados, pois, ao final de uma prova, entre os 60 ou  80 metros, quando o rendimento dos adversários começa a cair, Bolt inicia o seu voo, quase não pisando no chão em cada passada, atingindo cerca de 44 km por hora, numa prova de 100 m, como relata Renata Cabral em sua resenha sobre o corredor, na Revista SIS Saúde.

Nas provas de longa distância, impressiona a performance de queniano Eliud Kipchoge, o queniano vencedor da maratona de Berlim, em 2022. O corredor não só liderou em toda a prova, mas, foi além ao ultrapassar a sua marca, concluindo os 42,192 km em 2h01m09s, resultado que o fez bater seu próprio recorde, a saber, 30 segundos mais rápido que seu desempenho na mesma prova em 2018.

As pernas de corredores de longa distância perseguem um padrão genético: costumam ser mais compridas que a dos velocistas.  Gosto das minhas como são. 

Apenas não me simpatizo com minhas costelas salientes e uma quase incipiente barriguinha de chopp. Minha nutricionista vê isto como um bom sinal da localização da gordura: segundo ela, longe do coração. Tomara que ela esteja certa!

Volto a olhar para baixo,  minhas coxas e batatas das pernas me enchem de orgulho, assim como a higidez da musculatura de toda a parte anterior da coxa. 

Minha bunda magra só tem músculos e isto, junto com o tornozelo, as minhas canelas também grossas, compridas - cheias de marcas de cortes pelos tombos e acidentes -, podem explicar o meu bom  rendimento nas subidas assim como os poucos eventos de cãibras e, até o momento, nenhuma canelite ou alguma lesão grave. Não me lembro da última... E, acho que por estas e outras, sempre dou um pequeno sorriso para aquela imagem, que me responde, agradecendo.

Aí reside uma grande vantagem dos corredores de longa distância: levamos muito mais tempo para denunciar nossa idade! Nossa balança de bioimpedância,  toda semana, me faz um agrado me roubando 10 anos, ao fazer os seus cálculos depois de uma corrida de mais de 10 km.

E, naquela segunda feira, depois do longão do domingo, treinei o  que cismo em chamar de "rejuvenescente", quando, na verdade, trata-se treino regenerativo às segundas feiras. Mas não são faces da mesma moeda?! Então, ao regenerar as células   rejuvenesce.

Coxas musculosas e fortes, pernas tortas e canelas marcadas; corpo magro, maior velocidade. Desvio na coluna e velhice, melhor aproveitamento das transformações em meu organismo e metabolismo acelerado. 

Ou seja: entre perdas e ganhos do jogo da vida, posso levar a final para uma disputa de pênaltis. Até lá, alheio à sorte, conto com minhas qualidades e experiência acumuladas correndo ao lado daquele rapaz que, há 40 anos conquistou sua primeira medalha com seus 30 aninhos. 

Treino pesado, de 10km fortes, também me ajudam nas minhas reflexões, como o de hoje, por exemplo. As primeiras paisagens da praia, logo após o primeiro quilômetro no calçadão - o pior, pra mim! - me levaram a refletir sobre a compensação do meu organismo, acho que a principal está no ritmo lento do meu coração. 

As minhas pisadas deveriam gradualmente se intensificar nos 60  minutos ainda pela frente e, para isto, seria de extrema importância o controle emocional para manter o ritmo da respiração. Consciente e inconsciente em plena harmonia. Um ciclo de respiração completo a cada novo passo do mesmo pé  voltando ao chão.

Como morador e utilitário da ciclovia,  quase diariamente, atesto que as obras de revitalização da praia de Sepetiba pouparam suas longevas árvores, como as amendoeiras,  cujos frutos, derrubados no chão,  sempre  me pedem mais que atenção para não pisar e não escorregar. 

A igrejinha de São Pedro, as árvores com seus enormes troncos, o barquinho guiado pelo jovem pescador, o exímio lançamento da rede que se abre é, lentamente, flutua no ar.

Foto: Márcio Pinto

A morte poética e em câmera lenta, pousa,  delicadamente no espelho dágua. A rede invisível mergulha e cerca o cardume.  A pesca, a brisa e a maresia me levam até o Posto 6, da Copacabana da minha infância. 

Foto: Márcio Pinto

A lei da compensação em tudo reverbera no circuito da orla de Sepetiba. Quando faltam árvores num determinado trecho da praia ou que ainda não crescerem o suficiente para produzir sombra,  em cada casa da praia existe uma com uma boa copa refrescante. 

As duas enormes figueiras, matriarcas veteranas da praia do Recôncavo, antecipam a deliciosa sombra das amendoeiras e dos coqueiros da praia Dona Luiza, logo depois do santuário do Santo Guerreiro e da imagem majestosa de Yemanjá,  - a nova  -abençoando os devotos em seu pedestal de dentro do mar. 

A partir deste ponto é que "ligo o motor"  e acelero, ladeira acima, passando pelo corpo de bombeiros e Iate Clube para curtir aquela deliciosa descida.

Relaxo com os braços soltos e me recupero da rápida e intensa aceleração até reiniciar o trecho da ciclovia, agora, rumo à praia do Cardo. É o trecho em que desenvolvo o máximo de velocidade, nos meus treinos fortes de 10 km, na metade da semana. 

Para compensar, mais uma vez, o furo na planilha de treino, ao trocar os dias da semana, no final do dia, lá pelas 7 hs, como há muito não fazia, resolvi correr os 10 km leves e repeti o mesmo percurso da orla de Sepetiba.

Claro que as impressões seriam totalmente diferentes ao correr de madrugada ou pelo início da manhã: desde as sensações mais sutis, como a brisa da noite e o perfume de alguns corredores passando por mim, até a profusão de vida, entusiasmo e alegria que toma conta das mesas dos quiosques à beira mar.

Crianças brincando, famílias reunidas pescando com varas, casais passeando, um jovem skaetista,  de rabo de cavalo, que passa, rapidamente, por mim e até um violeiro solitário, sentado na calçada, com uma cadeira de rodas ao seu lado, tocando Raul Seixas; rapazes e moças jogando "altinho" se misturam com o delicioso cheiro de peixe frito servido no Pirata's Pub, da Praia do Recôncavo.

À noite, bares, lanchonetes e restaurantes são as melhores opções para quem deseja uma refeição salutar num lugar agradável, como é a noite em Sepetiba. Ainda mais, fazendo o calor que tem feito ultimamente, uma cerveja gelada, - duplo malte ou Heineken - cai muito bem.

As roupas da corredoras associam a sensualidade à leveza e ao conforto necessários aos esportes e isto é um diferencial de quem sai para correr de noite, na beira da praia, infelizmente, com alguns trechos de péssima iluminação.

Nosso bairro não conta com policiamento de espécie alguma. Entretanto, não há registros significativos de assaltos, roubos, ou outros delitos como são comuns em outras praias, principalmente, as da zona sul, o que leva muitas famílias, durante as férias, a aproveitar esta nossa excelente opção de lazer.

Diferente das manhãs e madrugadas, não há barcos navegando e, apenas alguns, atracados, com luzes acesas, assim como cachorros afoitos para morder minhas canelas. 

A quantidade de pessoas correndo, passeando de bicicleta, caminhando, me leva a, prazerosamente, me desviar. E isto, em nada altera o meu ritmo de corrida, pois não estou preocupado com a minha performance. Apenas aproveito aquela deliciosa corrida de noite, entre pessoas que saem de casa para o lazer.

Como evito correr pelas ruas, muito menos onde haja trânsito intenso de automóveis, optando a maior parte do trajeto pelo calçadão da orla, não me exponho tanto aos perigos de atropelamentos - o que não não me isenta de todo o devido cuidado, principalmente, durante as noites, como, correr na contra mão, usar calção ou camiseta vermelha ou amarela.

Ao trocar os dias de preparação,  pensei noutra estratégia para estas duas últimas semanas de treino que foi a de treinar durante as noites e reservar o longão de final de semana para o mesmo horário em que vou correr a Meia de Angra. Assim, relaxo e aproveito melhor o finalzinho das férias, dormindo até um pouco mais tarde durante a semana. Afinal, entre dezembro e janeiro, excetuando a São Silvestre, não há corridas expressivas no calendário anual.

Afinal, tenho corrido apenas cerca de uma hora às quartas e sextas. Na segunda, apenas meia hora. No domingo, cedinho, antes da família acordar, já voltei com o pão. E isto, não me rouba de minhas responsabilidades em casa, tampouco de minha esposa e do nosso filho. E é o que eu tenho para hoje e me basta para ser feliz.

Ainda que  eu mantenha uma relação  íntima e solidária com o Tempo e o Ser e guarde um enorme respeito pela passagem do tempo, sei que um dia irei perder pra Morte, e, claro, farei o máximo pra que ela demore a me alcançar. 

Por mais perfeito que seja o nosso organismo, ele, assim como o melhor tênis do melhor fabricante,  do melhor relógio com GPS, tem o seu limite de uso e, definitivamente, junto ao meu espírito, irei pendurar minha última medalha pela conquista da liberdade definitiva,  cura de  todas as dores do meu corpo e o apagamento de toda a minha consciência de localização no Tempo e no Espaço.





 

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