quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Dinossauros ainda correm por aí?! Corridas: o prazer pela longevidade (Episódio 03/2022)

Dinossauros ainda correm por aí?!

O que aquela geração dos anos 80 tinha como motivador para uma nova atividade física que despontava nas grandes cidades do Brasil eram os livros de Jim Fix, o homem que popularizou as corridas, o Guia completo de corrida (1977), exemplar de capa dura do Círculo do Livro e O novo livro de corrida (1980), que seguiram, no Brasil, à publicação  do Método Cooper: aptidão física em qualquer idade (1972), que virou sinônimo de corridas, do médico Kenneth Cooper, hoje com 91 anos. O jogging definitivamente chegará pra ficar. 



Passados 40 anos, a evolução do esporte não deslustra o valor daquelas obras que despontam como grandes incentivadores do que viria de transformar numa grande indústria de consumo, seguindo a onda neoliberal com a expansão do capital nos anos 80 em busca de novos mercados, notadamente, dos países periféricos, como o Brasil.




Do meu relógio analógico da Technos, com cronômetro com que completei minhas duas primeiras maratonas, às pulseiras inteligentes  passando pelos aplicativos com GPS e os tênis leves, de solas finas, de alta performance houve,  sem dúvida alguma  um salto quântico qualitativo!

Claro que são produtos muito pouco acessíveis à população de baixa renda, tendo em vista o corte de classe social  apesar da romântica visão democrática para alguns esportes e para o lazer. Não estou, aqui, falando do ócio, assunto para outra conversa!

Resta, portanto, a utilização dos celulares, presos por suportes no braço, com aplicativos gratuitos instalados e que, nem sempre funcionam adequadamente, dependendo tanto da tecnologia quanto da qualidade de recepção do sinal do GPS para o devido funcionamento do geolocalizador. 



E isto sem a incômoda faixa de borracha a ser afixada no peito para o monitoramento cardíaco, completamente incômoda e antiigiênica, devendo ser lavada imediatamente após cada corrida, experiência terrível que me fez descartar o meu relógio Speedo, na primeira semana de uso, devolvendo ao vendedor, assim como sua péssima proteção contra a chuva, mergulho e, por incrível que pareça, banho! 


Com chuva ou sol, a retirada dos kits - camiseta, chip, número de peito... - que antecedem as corridas, vão além de momentos de reencontro de antigos amigos, mas, também, autênticas feiras livres com expositores das novidades no mundo das corridas. 

Uma verdadeira tentação pra quem não se contenta apenas com as fotos nos painéis de divulgação nos stands e grandes salões. Há, desde camisetas e bermudas com tecidos especialmente desenvolvidos para corredores, assim como produtos alimentares, óculos, relógios, mochilas, squeezes e outros.



Se naqueles anos precisava medir os batimentos cardíacos com os dedos na veia do pescoço, agora, vem tudo no smartwhatch, o relógio via bluetooth. Vem, não! Vai. Os dados do monitoramento - frequência cardíaca, pulsão, passos, ritmo, distância, altimetria, calorias... - são armazenados em bases de dados nas nuvens.  Em tempo real!

Mas, a elaboração de planilhas assim como o meu diário ainda me são muito úteis e necessárias. Talvez aí - confesso! - seja um vício adquirido ao longo do tempo por quem gosta muito de correr. E de escrever! 

Portanto, claro que são gostosas, impagáveis e perenes as lembranças os momentos daqueles anos em que o staff das provas nem ao menos sequer dispunha de copos dágua descartáveis, patenteado em 1996 chegando junto com as garrafas de material termoplástico, os PETs, naquela década, no Brasil, já tendo sido utilizada bem antes nos EUAs e Inglaterra. 

Entretanto, milhares de copos descartáveis são largados no percurso das provas para serem recolhidos, como lixo biodegradável (?!) ao final das corridas.

Louvável é o esforço de alguns organizadores conscientes com a degradação ambiental e os riscos de uma catástrofe climática, como é o caso da Maratona de Londres, que, no ano de 2019, substituiu os copos descartáveis por bolsas de água comestíveis - sem sabor, desaparecendo em seis semanas -, indo ao encontro da sustentabilidade, evitando, assim, o acúmulo de lixo poluente, a despeito de toda ação de reciclagem.  

Também são servidos copos e embalagens tidos como biodegradáveis e descartáveis, como bebidas energéticas, ao longo das provas. Afinal, plástico é plástico: os oceanos, estômago dos peixes e a tartarugas que o digam.

Assim como o meu fiel relógio de aço cromado, também me lembro das balas de café e de amendoim, assim como da rapadura que não dispensava nas corridas daqueles anos em que contava com o apoio de minha ex companheira que, junto com minha filha mais velha, levava água, mais balas e banana pra mim durante o percurso.

Sobre a história e a evolução da Maratona do Rio, para quem pretende se deter e aprofundar no assunto, assim como os apaixonados pelas corridas, vale à pena a consulta tanto ao blog "A Maratona do Rio, na década de 80, da Contrarelógio, postado em 26/09/2017, assim como os artigos acadêmicos da área da educação física.

Agora, não só bebidas energéticas, repositores e isotônicos são servidos, como, também, há a disponibilidade de lounge, com tratamento vip, guarda volumes, massagem, posto médico dentre outros serviços que tornam a conclusão de uma maratona uma verdadeira chegada no Éden, além da medalha e da conclusão no tempo tão esperado. Logo, logo, o corpo se ressente, claro! 

Afinal, as centenas de milhares de batidas da sola do pé no chão refletem por todo o corpo, notadamente, na base da coluna, panturrilha e coxas onde o gelo e a massagem chegam como um alívio. Tanto quanto uma longneck bem gelada! Antes da tradicional macarronada cheia de molho. 


Os dinossauros, ao menos nas maratonas, ainda não foram extintos - e não sei se o serão! - pois, as histórias e memórias de algumas provas para as quais tanto nos preparamos e sonhamos realizar, são como projetos de vida em que, na medida de nossas possibilidades, procuramos incluir pessoas cuja companhia nos fazem e fizeram tão bem. 

Nossos amigos, familiares e, até mesmo anônimos que conhecemos somente no percurso da prova, como foi o caso do rapaz que me ajudou, na minha primeira maratona, não só a concluir aquela prova - correndo ! -, como, também, segurou o meu braço para eu não cair, compõe nossa passagem por esta vida e estada no planeta e, creio, necessário compartilhar tamanha experiência que pode nos tornar menos egoístas, conscientes de nossas responsabilidades com o planeta e, quem sabe, mais fraternos, generosos e solidários.


Night Run (1a etapa). Corridas: o prazer pela longevidade (Episódio 02/2022)

Nigth Run (1ª etapa)

Foi assim que decidi por participar, depois de 36 anos longe das corridas de rua, de uma prova de 12 km, a Nigth Run, com o percurso da orla de Botafogo, no Rio de Janeiro, até o Aterro do Flamengo, tendo obtido a 8ª colocação em minha categoria. 




Além de incluir pedaladas na minha planilha de treino, comecei acompanhar o canal do preparador físico, especialista em corridas, Rodrigo Bicudo, criador do programa #boracorrer,  do qual até hoje integro.

Minha alimentação sofreu, claro  sensíveis modificações, na medida que aumentou consideravelmente o meu gasto calórico. No meu cardápio adaptado às minhas necessidades, no café da manhã e lanche da tarde,  busco incluir ovo, batata  e milho cozidos, torrada com pasta de gergilim, café com leite (pingado) com cacau 100%, banana e granola que eu mesmo preparo.

Repito, quando possível, o almoço, aumentando o consumo de proteínas e não rejeito os carboidratos: adoro macarronadas e pão francês, principalmente a casquinha e o miolo. Com manteiga de coco temperada aquela iguaria que sobra do prato de minha companheira fica uma delícia no café da tarde. Ainda mais com a conversa gostosa da sua boa companhia, antes de buscar nosso filho na creche. 

Meu desafio continua sendo o consumo adequado de água e a diminuição do sal, apesar de que não ingerimos fritura, enlatados, alimentos preparados e refrigerante, consumimos poucos doces a não ser irresistiveis bolos da Jéssica, nos finais de semana, a que se juntam as baguete de gergilim com pasta de ricota, preferidos pelo José Vitor.

Correndo regularmente, descansando, sem abrir mão de uma latinha de cerveja pra brindar a vida, às sextas feiras e me alimentando bem, me senti muito confortável pra concluir aquelas duas voltas, do Monumento aos Pracinhas à Glória  mesmo não conseguindo superar a marca do treino.

Mas valeram cada metro daqueles 12 km, nos meus fabulosos 65 anos de idade, concluindo a prova com pressão 12 x 7, aferida pela médica do posto. 

Experiência maravilhosa, e primeira medalha dedicada ao meu filho, que não pode ir pois ainda não havia sido vacinado e da insegurança e os perigos das noites cariocas. Gostei muito do clima, daquela noite estrelada, no mês de maio, de 2022, contagiante e temperatura super agradável.


Organização exemplar: serviço de água, frutas, posto médico, batedores, lounge, guarda volumes e ao longo do percurso, sinalização e policiamento presentes. 

Pais e mães com seus filhos, nos ombros ou em carrinhos empurrados,  correndo com eles; Idosos, casais, jovens animados em equipes vindas de lugares distantes. 

Apesar de  haver  retirado meu kit no dia anterior, na sede da associação da minha categoria profissional,  a Appai, no Centro do Rio, deixei pra colocar o número de peito com o chip, pouco tempo antes da largada.

Um erro por ignorância e atraso na chegada por transporte coletivo: calculei mal o translado contando com a presteza do uber, o que, conforme a lei de Murphy, não teria como funcionar. 

Poderia ter pegado o VLT na saída da Estação Central do Brasil e, apenas caminhado da Glória até o Aterro  local da largada. Mas pensei errado e não consegui pedir um uber a tempo.

Na concentração, música estimulante e muita gente quase colada uas às outras  o que tornava tanto o alinhamento quanto a locomoção inviáveis. Impressionei-me, durante a corrida, com muitos corredores iluminando o trajeto com lanternas presas na testa

Depois daquela noite inesquecível, ainda contei com a recepção na casa de minha primogênita e do meu genro, o que espero retribuir logo. 

Torci pra que, no dia 3 de setembro, já estar correndo ao lado de uma de minhas filhas que também corre, o que ainda não será possível.

Organizando-me e me preparando pra próxima corrida, torço pela vacinação de todas as crianças e que brasileiras e brasileiros, em outubro deste ano, não repitam o mesmo erro e elejamos um presidente devidamente preparado para o cargo seguindo aproveitando intensamente a vida ao lado de quem amamos e nos amam! É o que vale!


terça-feira, 30 de agosto de 2022

O desafio de voltar a correr. Corridas: o prazer pela longevidade. (Episódio 01/2022)

O desafio de voltar a correr

Aos sessenta e um anos, um menino chegou na minha vida.  Já com tudo estabilizado: casado, servidor público, no último nível de formação acadêmica, faltando apenas juntar os documentos para me aposentar, pai de duas filhas, adultas casadas, formadas e, também, funcionárias públicas, presentes do meu meu primeiro casamento. 

Eu e Ana Paula, minha companheira  não havíamos planejado uma criança que, efetiva e definitivamente, mudou as nossas vidas, claro, pra bem melhor! 

Tudo se reveste de outros significados num casamento, depois de quase 30 anos!!!

Com a sua chegada, tudo mudou em nossas vidas, principalmente, nossos objetivos e planejamentos: tudo agora incluiria nosso filho! 



No seu segundo aninho de vida, e eu, prestes a concluir o doutorado com a defesa de minha tese,  o Brasil mergulha num pesadelo que persiste até o momento em que inicio este texto. 

Nosso país conhece o seu mais sinistro momento histórico: a eleição de um governante, que, ainda em sua campanha já havia se mostrado déspota, homofóbico, misógeno e fascista e, logo, logo seria percebido, além de despreparado para o cargo, algo bem pior.  

A luta pela liberdade e pela democracia sempre foi uma constante na minha vida e da minha família. Talvez ai resida a minha paixão por um dos esportes tão democrático quanto o futebol no nosso país: as corridas de rua. Elas atraem pessoas de todas as classes sociais, cor, religião, condição sexual, idade...

Estudante universitário,  participei do movimento pelas Diretas Já, após um longo período de ditadura civil militar, militei pelas causas sociais, consciente da minha classe social.

Estive presente em diversas manifestações históricas, dentre elas, a principal: o ato pela democracia na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, em 1988, quando, também, participei da minha primeira maratona, a do Rio de Janeiro.

Minha mãe e irmãos sempre militaram por um país justo e democrático e procuramos passar para os nossos filhos um pouco de nossa história e comprometimento na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Permanecemos tentando manter o estado de Direito democrático por mais de trinta anos antes do golpe contra a democracia e instalação de governo que iria facilitar as retiradas dos direitos dos trabalhadores, enriquecimento das elites às custas do empobrecimento das famílias brasileiras. 

Em meio ao caos social, fome e desemprego, uma nova tragédia, - claro, de maior magnitude! - acometeu, agora,  todo o planeta: a pandemia do novo coronavírus.

 Em seu primeiro ano, em 2020, ceifou a vida de 250 mil brasileiros, grande parte, devido à política genocida, que, aliada a uma propaganda negacionista de Jair Bolsonaro, com suas claras e eficazes ações para a rápida e maior disseminação do vírus.

Além do atraso na compra de vacinas, retardou o envio de balões de oxigênio para a cidade de Manaus  contribuindo para deslustrar a imagem do SUS, que já vinha sofrendo com sua depauperação 



José estava em seu primeiro ano de creche tendo comparecido a tão somente duas semanas de aula, apesar de toda a nossa alegria e entusiasmo com a sua felicidade. I

Isolados em nossa casa devido ao afastamento social necessário, passamos a viver uma realidade que jamais poderíamos ter imaginado e que sequer pudéssemos vir a viver: rígidos protocolos sanitários, uso de máscara e do álcool gel, ao receber, em nossa casa, motoboys trazendo produtos essenciais como alimentos e produtos farmacêuticos,  comprados por aplicativos de celular.


Em nosso nova rotina, passei a incluir algumas atividades físicas, na medida em que o tempo passava e a curva de mortes e contaminação seguia sem previsão de queda. Muito pelo contrário, devido à clara intenção do presidente, contrário ao lockdown e à vacinação compulsória.

Apesar de, há muito, não me dedicar às atividades físicas regularmente, a despeito de, até os primeiros anos do meu segundo casamento, correr, com minha esposa, em volta do Estádio do Maracanã e ainda praticar uma arte marcial, com o passar do tempo, deixe-me seduzir pela preguiça e me tornei sedentário.

Crianças e animais correm bem mais que adultos que se deixam levar pela posição sentada ou deitada. Bem diferente e a infância! Na escola, quando pequeno, meu grande amigo e colega, o Joel, me chamava de frango veloz. 

Também, era a maneira mais fácil que encontrava de fugir de apanhar dele quando eu, propositadamente, implicava com ele. bem maior e bem mais gordo do que eu que sempre fui bem magrinho. 

Entre 1988 e 1990, completei duas maratonas e uma corrida rústica e treinava regularmente no Alto da Boa Vista, já que morava na Tijuca, no Rio de Janeiro. 

Saía da Praça Saens Peña, na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca e seguia em direção ao Alto da Boa Vista.  De lá, passando pela Casa do Bispo, seguia até a Vista Chinesa e descia pelo Rio Comprido, já nas últimas semanas antes de minha  segunda  grande corrida. 

Assim,completei a Maratona do Rio de Janeiro, de 1990, em 4h13m, melhorando o meu tempo anterior, dois anos antes, em 39 minutos.

Foi num treino longo, de 30 km, nas semanas que antecederam a prova que descobri a necessidade da rotina de tudo durante o treinamento: a inobservância dos horários de alimentação. Precisei, às pressas, correr para o mato. 


Então, no ano de 2020, devido ao lockdown e isolamento social prescritos pelas autoridades sanitárias,  despeito das diversas tentativas de impedimentos do governo federal e de algumas prefeituras, mal sabia que, a suspensão das aulas presenciais na FAETEC duraria tanto tempo.

Naquele final do dia, fui um dos últimos professores a sair do prédio com a sensação de que, no máximo, em quinze dias, retornaríamos à normalidade.

Em função disto, sem a menor preparação ou planejamento, comecei a trabalhar em home office, e tivemos que nos organizar para que nosso filho tivesse o apoio necessário a uma fase de seu desenvolvimento que necessita sobremaneira de atividades lúdico e pedagógicas. 

Mas, sem a presença do amiguinho e da amiguinha, claro que seria apenas um paliativo, mesmo com meus vários anos de magistério, com especializações e pós graduação em educação, estudante de pedagogia e Ana Paula, com licenciatura plena, já graduada. 



Não nos faltou o devido apoio de quem pudesse nos orientar, principalmente da dinda Carol, pedagoga e coordenadora pedagógica, vovô, vovó e meus e minhas colegas de trabalho, que partilhavam realidade semelhante. 

Claro que logo percebi a necessidade de me esforçar para manter a sanidade, retornando com as sessões de terapia, agora, na modalidade online para o necessário equilíbrio psicológico. 
 

Entretanto, o corpo passou a se ressentir da falta de movimentos, das caminhadas, de subir e descer escadas, de algum esforço além dos poucos dentro de uma casa.

E, num dos meus isolamentos dentro de nossa casa - realidade estranha demais!, trancado em nosso quarto devido à suspeita de contaminação, ao visitar um colega, voltei a fazer exercícios físicos regulares o que, após a quarentena, evoluiu, seguindo o exemplo do meu sogro, para caminhadas no quintal da nossa casa. 

Parece que o corpo se acostuma com tudo, tanto o que é bom quanto com o que é ruim e, digo isto por experiência própria! 

Dois anos após a pandemia, com a queda nos números de óbitos e contaminação no mundo e campanha de vacinação avançando, o Brasil seguiu a tendência e o Rio de Janeiro e decreta o fim do isolamento social com o retorno progressivo das atividades econômicas e culturais. 

Talvez o sedentarismo compulsório tenha sido o grande motivador para pensar em voltar a correr. E isto depois de mais de 35 anos da minha última maratona concluída, entretanto, sedentário, não me arriscaria naquela tentação.



E não poderia ser diferente o início, caminhando pela orla de Sepetiba e, por aconselhamento médico, marquei consulta com vários especialistas, principalmente cardiologista, ortopedista e nutricionista. 

Enquanto caminhava e pedalava algumas vezes por semana, realizava vários exames e, assim permaneci por um ano: segurando uma vontade enorme de voltar a correr! 



Até que, tendo me adaptado a um ritmo confortável em mais de 5 km de caminhada, três dias por semana, retornei ao cardiologista que, depois de verificar pressão, batimentos cardíacos, os resultados de exames de sangue, ecocardiograma, ecodopler, transtoráxica, monitoramento de pressão arterial, teste ergométrico e outros, definitivamente, com os devidos aconselhamentos, me liberou pra voltar a correr o que, também, realizei bem devagar, começando com um ritmo e distância bem tranquilas, correndo pela orla, no final do ano de 2021.


Meu horário de trabalho  me permitia conciliar os treinos, ainda sem um planejamento definido, com o curso de pedagogia na modalidade online e a rotina da minha casa - preparar o café,  e, junto com Ana, acordar, arrumar e levar nosso filho pra creche saindo pro trabalho. 
Algum tempo perfeitamente adaptado a esta rotina, ao retornar, quando possível, ainda regava a grama e molhava as plantas.
E, esta rotina, me permitiu me sentir mais confortável ainda nos 10 km, com pace 7 a 8km/h. 

Sair de casa às 5hs da madrugada, muitas vezes ainda escuro, correndo pelas ruas do bairro, me fez acompanhar a rotina de uma outra Sepetiba, a dos trabalhadores e trabalhadoras com reciclados e, numa destas madrugadas, me impressionei com uma enorme carroça puxada por uma senhora: a pandemia agravou a situação dos pobres revelando abertamente a frieza, ganância e  insensibilidade dos governantes que além de se enriquecer mais ainda, favoreceram muitos dos grandes empresários brasileiros, que nunca lucraram tanto com a tragédia alheia.

Ao contrário do delivery de alimentos e produtos farmacêuticos e hospitalares, o trabalho com reciclados, devido à falta de descarte de embalagens, foi um serviço que sofreu muito com a pandemia e, agora, com o retorno à normalidade, volta a crescer tendo em vista o desemprego, a inflação e a perda de poder aquisitivo das famílias, notadamente, às mais pobres.

Ainda amargamos um desgoverno que não tem a menor capacidade de gerenciar um país continental como o Brasil, que depois de ter zerado a fome, com um programa de excelência inspirado na genialidade do Betinho, volta à linha da miséria e desnustrição crônica.

Não há espaço para estes e estas trabalhadoras dispor de tempo ou de uma adequada alimentação para a prática de algum esporte. A disputa ainda é pelos restos de comida às portas dos supermercados.

Entretanto, neste país de contrastes, há, também, aqueles que podem dispor de um tempo de ócio. Diferentes são as pessoas que encontro quando decido correr exclusivamente pela orla de Sepetiba, em busca de corridas planas, também longas, porém, de maior velocidade, sem disputar com os automóveis, pela ciclovia. 

São casais caminhando de mãos dadas e ouvindo música; uma militante da causa ecológica, catando pets pela areia da praia - nossa memorável e simpática Xuxa, a de Sepetiba -; bombeiros militares da base naval; rapazes que correm numa velocidade admirável, mocinhas com os seus legs e fones de ouvido, dentre outras e outros.

Assim como o cardiologista, a nutricionista comprou o meu desafio: chegar aos 75 anos em pleno vigor, com saúde plena, participando de maratonas, pois, com esta idade, José estaria com os seus 14 anos exigindo muito mais de mim.

A nutriconista me propôs uma dieta de baixo consumo de carboidratos, pois, ainda, não havia mergulhado num dos esportes aeróbicos de maior consumo de calorias: as corridas de rua rumo, com grandes percursos, ruma  às maratonas, pelo que, logo precisou ajustar o meu cardápio aumentando o poder calórico inserindo os flocos de quinoa junto aos ovos e peito de frango.

O meu maior desafio continuava sendo o de ganhar massa magra, pois, com a minha idade, o que é muito fácil, se descuidar da alimentação, com grande ingestão de proteínas, é emagrecer cada vez mais. A alimentação aqui em casa é estritamente ovolactovegetariana, e, portanto, aumentei a ingestão de oleaginosos e voltei a jantar sem descuidar do feijão com arroz diário, lentilha ou grão de bico junto com verduras e folhas escuras.

De duas a três vezes na semana, ainda consumo proteína animal, no almoço no trabalho, o que me satisfaz plenamente, muito mais pela saciedade que, propriamente, pela necessidade alimentar propriamente dita, já que, ainda que não coincida o cardápio do dia, não tenho sentido a fome que sentia antes da reformulação alimentar.

Minha esposa conhece bastante de alimentação vegetariana e vegana, na medida em que, desde a gravidez ela, não só continua cuidando de sua saúde como, também a do nosso filho, que adora brócolis rs

Passei a levar um mix de oleaginosos para o meu lanche, a fim de não passar de 3 horas sem me alimentar, e aumntei o consumo de banana e amendoim, inserindo a quinoa em minha alimentação diária.

Seguindo as orientações de um professor de educação física, também colega de trabalho, para voltar a correr, confiei meus planos a outro amigo e corredor, o Paulo, que me presenteou com um livro, que passou a ser o meu livro de cabeceira sobre corridas, do Dr. Dráuzio Varela. 

Além de trocar muita experiência, logo me convidou a participar de um grupo de corredores apaixonados, pelo WhatsApp, onde, a cada treino concluído, postamos nossos resultados e comentamos o dos colegas, motivando-nos a nos superar.


A festa do Capitão Zeca, o tesouro escondido no jardim dos gnomos.

As portas da nossa casa, ainda que de maneira bem estreita, reservada e cuidadosamente, foram abertas a poucas pessoas.



Mas, todo este cuidado não significou a expansão, o entusiasmo, as conversas gostosas e animadas, além da agradável bagunça das crianças à caça do tesouro escondido, e a viagem de navio, comandado por um pirata.


Assim, neste quarto aniversário de nosso menino, o José Vitor, ousamos receber, depois de afastamento devido a Covid,  com gratidão e generosidade nossos familiares. 



O Capitão Zeca não cabia dentro dele mesmo de tanto entusiasmo, energia e alegria, com os afagos, mimos e dengo das irmãs, cunhado, dindas, dindo, prima e primos, vovó, vovô, mamãe e papai.



E, claro, aproveitamos para inaugurar o jardim, muito desejado pelo aniversariante, que pediu -"Faz um jardim com gnomos pra mim e uma poção pra eles viverem, mamãe!".


Não bastasse a presença de tanta gente querida, Zeca ainda recebeu uma ligação de vídeo especial feita pelo seu grande amigo  - e herói! - o homem aranha,  que o chamou para, juntos, salvarem o mundo. E já começaram jogando a teia que nos une pelos laços de afeto.