quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Dinossauros ainda correm por aí?! Corridas: o prazer pela longevidade (Episódio 03/2022)

Dinossauros ainda correm por aí?!

O que aquela geração dos anos 80 tinha como motivador para uma nova atividade física que despontava nas grandes cidades do Brasil eram os livros de Jim Fix, o homem que popularizou as corridas, o Guia completo de corrida (1977), exemplar de capa dura do Círculo do Livro e O novo livro de corrida (1980), que seguiram, no Brasil, à publicação  do Método Cooper: aptidão física em qualquer idade (1972), que virou sinônimo de corridas, do médico Kenneth Cooper, hoje com 91 anos. O jogging definitivamente chegará pra ficar. 



Passados 40 anos, a evolução do esporte não deslustra o valor daquelas obras que despontam como grandes incentivadores do que viria de transformar numa grande indústria de consumo, seguindo a onda neoliberal com a expansão do capital nos anos 80 em busca de novos mercados, notadamente, dos países periféricos, como o Brasil.




Do meu relógio analógico da Technos, com cronômetro com que completei minhas duas primeiras maratonas, às pulseiras inteligentes  passando pelos aplicativos com GPS e os tênis leves, de solas finas, de alta performance houve,  sem dúvida alguma  um salto quântico qualitativo!

Claro que são produtos muito pouco acessíveis à população de baixa renda, tendo em vista o corte de classe social  apesar da romântica visão democrática para alguns esportes e para o lazer. Não estou, aqui, falando do ócio, assunto para outra conversa!

Resta, portanto, a utilização dos celulares, presos por suportes no braço, com aplicativos gratuitos instalados e que, nem sempre funcionam adequadamente, dependendo tanto da tecnologia quanto da qualidade de recepção do sinal do GPS para o devido funcionamento do geolocalizador. 



E isto sem a incômoda faixa de borracha a ser afixada no peito para o monitoramento cardíaco, completamente incômoda e antiigiênica, devendo ser lavada imediatamente após cada corrida, experiência terrível que me fez descartar o meu relógio Speedo, na primeira semana de uso, devolvendo ao vendedor, assim como sua péssima proteção contra a chuva, mergulho e, por incrível que pareça, banho! 


Com chuva ou sol, a retirada dos kits - camiseta, chip, número de peito... - que antecedem as corridas, vão além de momentos de reencontro de antigos amigos, mas, também, autênticas feiras livres com expositores das novidades no mundo das corridas. 

Uma verdadeira tentação pra quem não se contenta apenas com as fotos nos painéis de divulgação nos stands e grandes salões. Há, desde camisetas e bermudas com tecidos especialmente desenvolvidos para corredores, assim como produtos alimentares, óculos, relógios, mochilas, squeezes e outros.



Se naqueles anos precisava medir os batimentos cardíacos com os dedos na veia do pescoço, agora, vem tudo no smartwhatch, o relógio via bluetooth. Vem, não! Vai. Os dados do monitoramento - frequência cardíaca, pulsão, passos, ritmo, distância, altimetria, calorias... - são armazenados em bases de dados nas nuvens.  Em tempo real!

Mas, a elaboração de planilhas assim como o meu diário ainda me são muito úteis e necessárias. Talvez aí - confesso! - seja um vício adquirido ao longo do tempo por quem gosta muito de correr. E de escrever! 

Portanto, claro que são gostosas, impagáveis e perenes as lembranças os momentos daqueles anos em que o staff das provas nem ao menos sequer dispunha de copos dágua descartáveis, patenteado em 1996 chegando junto com as garrafas de material termoplástico, os PETs, naquela década, no Brasil, já tendo sido utilizada bem antes nos EUAs e Inglaterra. 

Entretanto, milhares de copos descartáveis são largados no percurso das provas para serem recolhidos, como lixo biodegradável (?!) ao final das corridas.

Louvável é o esforço de alguns organizadores conscientes com a degradação ambiental e os riscos de uma catástrofe climática, como é o caso da Maratona de Londres, que, no ano de 2019, substituiu os copos descartáveis por bolsas de água comestíveis - sem sabor, desaparecendo em seis semanas -, indo ao encontro da sustentabilidade, evitando, assim, o acúmulo de lixo poluente, a despeito de toda ação de reciclagem.  

Também são servidos copos e embalagens tidos como biodegradáveis e descartáveis, como bebidas energéticas, ao longo das provas. Afinal, plástico é plástico: os oceanos, estômago dos peixes e a tartarugas que o digam.

Assim como o meu fiel relógio de aço cromado, também me lembro das balas de café e de amendoim, assim como da rapadura que não dispensava nas corridas daqueles anos em que contava com o apoio de minha ex companheira que, junto com minha filha mais velha, levava água, mais balas e banana pra mim durante o percurso.

Sobre a história e a evolução da Maratona do Rio, para quem pretende se deter e aprofundar no assunto, assim como os apaixonados pelas corridas, vale à pena a consulta tanto ao blog "A Maratona do Rio, na década de 80, da Contrarelógio, postado em 26/09/2017, assim como os artigos acadêmicos da área da educação física.

Agora, não só bebidas energéticas, repositores e isotônicos são servidos, como, também, há a disponibilidade de lounge, com tratamento vip, guarda volumes, massagem, posto médico dentre outros serviços que tornam a conclusão de uma maratona uma verdadeira chegada no Éden, além da medalha e da conclusão no tempo tão esperado. Logo, logo, o corpo se ressente, claro! 

Afinal, as centenas de milhares de batidas da sola do pé no chão refletem por todo o corpo, notadamente, na base da coluna, panturrilha e coxas onde o gelo e a massagem chegam como um alívio. Tanto quanto uma longneck bem gelada! Antes da tradicional macarronada cheia de molho. 


Os dinossauros, ao menos nas maratonas, ainda não foram extintos - e não sei se o serão! - pois, as histórias e memórias de algumas provas para as quais tanto nos preparamos e sonhamos realizar, são como projetos de vida em que, na medida de nossas possibilidades, procuramos incluir pessoas cuja companhia nos fazem e fizeram tão bem. 

Nossos amigos, familiares e, até mesmo anônimos que conhecemos somente no percurso da prova, como foi o caso do rapaz que me ajudou, na minha primeira maratona, não só a concluir aquela prova - correndo ! -, como, também, segurou o meu braço para eu não cair, compõe nossa passagem por esta vida e estada no planeta e, creio, necessário compartilhar tamanha experiência que pode nos tornar menos egoístas, conscientes de nossas responsabilidades com o planeta e, quem sabe, mais fraternos, generosos e solidários.


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