sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Diário, 7ª semana 7.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 07/23)


Nesta última semana de treino, eu estou saindo hoje, às 6:44, em pleno domingo de carnaval, estranhando  gravar e correr ao mesmo tempo. 

Passo por  muita gente fantasiada,  talvez, voltando pra casa da festa madrugada a dentro saindo para o Carnaval. Neste clima do Reinado de Momo, a gente ainda deu uma saidinha ontem, - eu, minha esposa e nosso filho: fomos numa festinha,  um bloquinho de crianças, lá na Pedra de Guaratiba a convite do dindinho do  Zeca.

Encerro esta semana com o último mesociclo, e início do última, ainda com a ideia de redes nas minhas reflexões. É que quando eu corro,  penso em muita coisa e em nada ao mesmo tempo, para não ficar sufocado ou voltar para o foco de vez em quando - que é bom, também!,  pensando e falando alto, na verdade.  

Já passei por duas moças de moto fantasiadas de diabinho; um rapaz, também; algumas igrejas abrindo agora, mas o movimento não é normal. Não é o movimento dos  domingos: muito automóvel circulando e eu completando 1 km agora, bem abaixo do meu ritmo. 

É que eu estou gravando direto no blog pela primeira vez querendo saber como  acontece um registro, em tempo real, inspirado nos relatos em tempo real do corredor e romancista, Haruki Murakani. Até então,  o máximo que eu fazia era, ao chegar em casa, escrevia algumas palavras para não perder as ideias para, depois, transformar em texto.

Cinco minutos correndo e eu a
 8.2 km/h o que não me surpreende, já que eu começo sempre assim mesmo, acima de oito. A partir de agora, o ritmo vai sair daquela inércia e crescer.  Já comecei a tentar convencer o meu corpo que correr é gostoso (rs),  nisto, quase tropeço num quebra-molas e penso que tenho que prestar atenção.

Quase chegando ao Coreto, passam alguns rapazes dentro de um carro, me chamando de atleta: o ego vai lá pra cima e sorrio. 

Chegando aos  10 minutos de corrida, pace  ainda acima de 7, mas sei que estes 18 km valem como um teste para Meia de Angra, na semana que vem. Um check up de como estou funcionando. Contorno pela Colônia dos Pescadores e passo em frente à Marta - : o melhor peixes de Sepetiba! - , e lhe dou um bom dia. 

Em frente à Igreja de São Pedro, a rua, como previra, já está intransitável, até para pedestres. É que houve show da Prefeitura, com palco na Praia de Sepetiba e os foliões ainda estão por aqui.  

Para prosseguir, só contornando pela lateral ou pela areia da praia, passando por trás do movimento: melhor opção! e, então, completo os 5 km da Orla, subindo em direção à Estrada São Tarcísio.  

Quase no retorno, mais um bom dia para uma moradora, varrendo sua calçada,  que me responde dizendo que o meu bom dia tinha soado muito agradável.

Mantenho o ritmo no final da subida, antes de contornar pela São Tarcísio: 9.3 km por hora quase 7 km de velocidade já na estrada e acho que consegui convencer o meu corpo a se movimentar. Não lhe dou outra alternativa. Se não for isso, é paralisia! Não quero isso, de jeito nenhum, porque, só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida - repito como mantra.

 Descendo a Estrada, saio em frente à Yemanjá,  no Recôncavo e  ao retornar, sei que não posso seguir até o começo da praia,  porque a aglomeração certamente estará bem pior.

Dou a volta por trás da praça Oscar Rossini,-  circuito dos 5 km regenerativos,  de segunda-feira - e, de lá, sigo pela Rua Floresta e passo por uns rapazes já se preparando para o futebol de fim de semana com suas camisetas se time. O campo está muito bem cuidado assim como toda a praça.

Sigo até a Rua do Canal -  Avenida Dr. Ari Chagas - e retorno pela praia indo até o seu final,  mas mantendo o ritmo: sempre acima dos nove por hora -  bem agradável !

Já de volta na praia do recôncavo, passei por um casal que sempre encontro, na praia de Sepetiba e hoje, mais uma vez, regavam as plantas da orla! Bela atitude! Eu digo. 

Mas, claro que há moradores aqui que não só tem consciência,  preservando, ou cuidando das plantas, pois, a Prefeitura não dá conta. O homem me responde ao bom dia e percebo que ele com uma garrafinha molhando aquele canteiro, ainda mais no calor que está fazendo, com o ar muito abafado, me fazendo suar bastante. Olho o céu acima do mar e vejo que está nublado e sinto uma lufada de vento 
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já na metade da cota, prestes à subir a Abílio Teixeira de Aguiar, pensei no pessoal da limpeza trabalhando em frente ao Pirata's que me responderam ao meu entusiasmado "bom dia!". Então, decidi ir até o final da orla quando completo 13 km. Na volta, eu faço mais cinco para completar  os18 km e isso tudo para evitar tanto movimento lá no Coreto e evito a subida da Estrado do Piaí, sem precisar retornar pelas ruas laterais, por dentro.

Eu acho bem melhor e até já estou chegando aqui no final da Praia do Cardo já quase nos décimo segundo km senti uma leve dor no diafragma, -  sinal de má respiração! - talvez, porque eu estou falando eu filmando ao mesmo tempo e muito mais preocupado com o rendimento que distância a cumprir nestes últimos 18 km, o último longão antes da Meia de Angra. Até o momento, tudo tranquilo com 13 km percorridos,  dentro da minha meta de treino. 

Como é que um longão, como esse aqui, está cansando menos do que os 15 k do Circuito do Sol? Estou desconfiado que seja mais pela tranquilidade de um treino que suplanta a competição natural  de uma prova, vendo todo mundo correr.  É lógico que, dentro daquela multidão somos obrigados a correr e competir. Parece que foi esse um erro estratégico no Circuito do Sol. Mas, aqui não acontece isso, é apenas o meu treinamento para a maratona do Rio de Janeiro, fazendo minhas medições e rendimento.

Se eu encontrar os cachorrinhos e lá no final na Rua Nunes, retorno pela praia e faço uma nova medição da pulsação para ver os batimentos cardíacos depois da velocidade máxima atingida, quando eu acelero um pouquinho, aproveitando, também, para escapar das dentadas no calcanhar e conseguir os batimentos necessários. Mais um "bom dia!" e, lá no final dessa rua deliciosamente arborizada, uma curvinha e eu, já acelerando, quase que ofegante para conseguir o máximo de pique, vejo que não há nenhum cachorrinho nervoso, mas, memo assim, acelero do mesmo jeito, até chegar, novamente, à praia do Cardo. Atingindo a velocidade máxima correndo, decido checar os BPMs depois.

Hoje não fui até o final da praia de Sepetiba, porque está tá muito cheia, além de que estou com sintomas de resfriado e tenho que me cuidar nesta última semana antes da minha. Daqui em diante, só me resta, na quarta-feira de cinzas, correr, na quarta-feira, os meus 10 km leves e descansar para viagem na sexta-feira. Ficar em casa com um moleque na piscina é um outro atrativo tão bom quanto cuidar desse resfriado. 



Concluí muito bem este último longão e, já em casa, agora, a gente está assistindo, na sala, um desenho desenho animado novo que a gente descobriu:  o tal de aumirau - muito gostoso! -  sem nenhum motivo para sair hoje de casa e, bem preguiçoso: acordei lá para as 6:30, porque a gente ficou vendo desfile das escolas de samba. Então, eu troquei o regenerativo para ficar dentro de casa. Saímos da piscina agora e estamos assistindo na TV o que a gente descobriu. Aproveitei para fazer uma playlist com todo o registro deste treinamento

Ana Paula, na cozinha, fazendo almoço, pois trocou o dia comigo, sem problema nenhum, até porque eu achei que estivesse desenvolvendo uma dorzinha na sola dos pés e fiquei desconfiado de alguma lesão:  e,  numa semana que não dá para arriscar nadinha, tem que ficar no sapatinho mesmo. Fiquei, então, na piscina hoje de manhã com meu garoto e depois a gente descansou para ver, agora, o filme Os Incríveis, na televisão. Ainda fiz uma crepioca com recheio de ricota e ora-pro-nóbis. Agora vamos tomar uma vitamina neste dia tranquilo.


21/02/2023

Hoje,  terça feira, 17 hs, estou esperando a temperatura baixar para, de noite, fazer o meu fortalecimento muscular semanal. No almoço de hoje eu fiz um arroz integral com um peixinho de horta que eu fritei na AirFryer, mais batata souté e quibebe. Sem nenhuma modéstia, ficou muito gostoso e agora tomei um iogurte, já quase 5 horas da tarde, sabor natural com aveia e banana. A temperatura está muito quente em por isto, ainda de férias e em pleno carnaval, fiquei na rede,  aqui fora de casa, esperando baixar a temperatura, lembrando que hoje à noite tem fortalecimento muscular.

Parece que a gente vai dar uma saidinha, porque ontem não saímos para tomar um açaí, como combinamos com o José. Agora, eu vou na padaria comprar uns pães para fazer um "not dog" (versão vegana do hot dog) de noite. Foi muito bom ficar esses dois dias em casa, ainda mais nesta época do ano, com todo o típico movimento do carnaval e, também, pela minha desconfiança dessa dorzinha no pé esquerdo. Pode ser que não seja nem no pé, mas, sim, na cabeça. É que estou muito ansioso pela meia de Angra, e já estou terminando a 7ª semana de treinos, partindo para a 8ª, a final de todo o ciclo de treinamento, 

Então, é claro que não dá para descuidar dos menores detalhes. E, para relaxar, ontem eu consegui assistir três escolas de samba no desfile pela televisão, inclusive a minha Portela, que estava linda apesar dos deslizes cometidos. A Nair, esposa do Joel, minha amiga, me mandou umas filmagens do bloco da Ludmila. 

Amanhã é dia dos meus últimos 10 km, que deveriam ser fortes, mas vou fazer no meu jeito, no meu ritmo habitual, tomando cuidado com qualquer tipo de acidente, porque não dá para descuidar, de jeito nenhum, gente! Mas, voltando da padaria penso se tem coisa melhor do que um pão quentinho para passar uma manteiga? Caraca, não quero nem saber que tipo de carboidrato é esse! Eu sei que é bom demais e se acompanhar um pingado, é melhor ainda. Estou voltando para casa aqui da padaria da esquina neste último dia oficial de carnaval, sabendo que o carnaval aqui no Rio vai até o domingo, tendo programação de bloco até domingo. Penso nesta tal programação oficial e que estranha é essa que termina e não termina.

No final de semana, eu vou ver como é que é o carnaval lá em Angra, pois, há anos saímos de lá eu estou por conta da dos meus irmãos e irmãs baianas que vão me receber e ainda tenho que resolver o pernoite, pois que a prova começa cedinho e  não sei como é que é condução no Perequê, onde pretendo ficar. Ainda bem que eu tenho opções no centro de Angra. 


23/02/2023

Ontem, quarta feira de cinzas, fiz os meus últimos 10 km deste ciclo de treinamento que termina com a prova de domingo e aproveitei para experimentar fazer uma gravação de vídeo com transmissão ao vivo para ver a capacidade do meu celular que, para minha surpresa, se saiu melhor do que eu esperava: depois de quase duas horas usando aplicativos, filmando e fotografando, ainda havia carga na bateria.

Fiz o mesmo circuito da orla e pude, inclusive, retornar pelo Coreto já que toda a movimentação do Carnaval havia terminado, inclusive, com as ruas limpas. Quase chegando em casa, na Avenida do Canal, um folião saiu de um pequeno grupo e veio me acompanhando brincando ao meu lado. Eu dei um bom dia entusiasmado pra ele e e ele voltou com o seu copinho de cerveja par o grupo.

Em casa, relaxei muito com meu filho que só hoje volta à escola assim como eu. Depois pego mais informações nas filmagens para completar este relato, porque, a partir de agora, apenas vou fazer o fortalecimento muscular quando voltar do trabalho e organizar minha viagem para Angra na sexta feira, dia 24.

Ontem, 23, sem me lembrar que o Carnaval termina no domingo e que, nunca houve aula na quinta nem na sexta feira da semana do Carnaval, apesar de não ter sido dado ponto facultativo, fui até a escola trabalhar e, claro, dei com a cara no portão fechado. Voltei para casa e, de tarde, levamos o José para o balé, que também não houve porque o  professor não conseguiu transporte. Esperamos um pouco na porta da escola e deixamos o José para o karatê. Enquanto ele treinava, fomos ao mercado, deixamos o açaí que compramos em casa e voltamos para pegá-lo. À noite, apenas fiz o fortalecimento muscular em casa focando no core, cochas e braços com prancha, agachamento e barras. 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Diário, 6ª semana 6.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 06/23)

O CIRCUITO DO SOL E O CARNAVAL CARIOCA:   ensaio técnico embaixo de chuva 

Minha planilha de treino para a Meia Maratona de Angra dos Reis, necessitava de  algumas adaptações para eu participar de uma prova no último mesociclo de teinamento: o  Circuito do Sol que, segundo os organizadores, a O2 chegaria ao Rio depois de ter acontecido em São Paulo. A publicidade no site afirmara que aquela corrida de rua "mais popular do Brasil" trata-se de uma prova de recomeço e retomada dos treinos e, claro que me interessei em me inscrever, ainda mais, que era mais uma das atividades da minha associação, a Appai-RJ.



Uma boa oportunidade para  corredoras e corredores com pouca ou nenhuma experiência de corridas de rua - dizia o site. O momento de colocar em prática a resolução de ano novo. "Para os corredores experientes é o start de uma nova temporada." Uma prova destinada a iniciar o ano com saúde e qualidade de vida. 

Nesta edição, houve competição para as distâncias de 5k, 10k e 15k, sendo que aconteceu,  também, uma caminhada de 3k, para quem estivera treinando nas pistas, amplificando o podium e o entusiasmo na entrega da premiação.

Então, o que eu esperava daquela prova a não ser um baita calor típico da orla de Copacabana no verão e alta umidade relativa do ar? Seria melhor,  então, me preparar para o pior, apesar de que a organização resolvera  antecipar a partida para as 7hs30m, certamente, depois de consultar o boletim meteorológico para o próximo domingo.

Nem seria preciso ler as dicas no site para se hidratar bastante, passar protetor solar e correr com trajes leves: a experiência já nos ensinou tudo isto, morando num lugar em que a sensação térmica tem passado dos 50º.

Só que não foi nada disto. Muito pelo contrário: pra felicidade geral, uma frente fria e muita chuva na noite de sábado baixou bastante a temperatura e corremos num clima muito agradável. 

Bem que eu até estava torcendo por uma chuvinha porque o meu rendimento é bem melhor, ainda mais se  os organizadores tivessem mantido o circuito da orla da praia de Copacabana.

Corremos o mesmo circuito da Nigth Run que eu havia participado em 2022, com saída na Praça Cuahtemoque, no Aterro do Flamengo e chegada na Glória o que facilita demais o transporte público.
No máximo, o que eu desejava era manter o meu ritmo e, se pudesse, baixaria um pouco para a Meia de Angra, 15 dias depois. Mas, o acaso colaborou comigo e eu consegui ir bem além da minha pretensão e metas de treinamento. Fui o 5º colocado na minha categoria! Tem menos idosos adultos competindo em longas distâncias ou, realmente, o treinamento começa a dar resultados?! Não dá para generalizar apenas numa prova! Vou continuar, claro!



https://adm.ativo.com/certificados_dos_eventos/ev38538np6701.pdf

Ainda mais que, desta vez, como enorme diferencial qualitativo, pude contar com uma logística benfazeja, pois, como eu consegui adiar alguns compromissos a tempo, saí de casa logo depois do almoço no sábado e fui direto de trem até a Central do Brasil,  no centro do Rio para pegar o meu kit no prédio da Appai logo na saída do metrô do Largo da Carioca.

Morando distante dos lugares de provas, a questão do transporte, principalmente aos domingos, é uma preocupação constante o que me obriga acordar de madrugada, ir ao banheiro, me alimentar devidamente,  para não me atrasar e perder a largada. Depois de horas de viagem, chegando no local, preciso, rapidamente localizar o staff da Appai, o guarda-volumes, o posto médico e me situar no início do meu setor de largada, o verde. 

Excetuando a vontade de ir ao banheiro, a necessidade de aferir pressão e BPM, amarrar os cadarços, checar o chip no número de peito, acionar o app de registro no celular, claro que resta a preocupação de ter esquecido alguma coisa. Mas, o meu esforço em me organizar, até o momento, tem funcionado!

O clima do Carnaval carioca foi o que serviu para distensionar tudo isto, pois, a ocasião sempre me lembrou coisas legais, desde a minha infância em Copacabana e não seria diferente, na semana da festa de Momo. Mais ainda, ao chegar no Castelo, centro do Rio de Janeiro e passar pelos Arcos da Lapa, ver foliões, bate bolas, a barraca do acarajé da Cida,  o Galeto e churrasquinho na esquina da Chile. 

O multiculturalismo e a sinestesia misturam  sensações nesta época integrando outras tantas  como a da turista asiática: afinal com que prazer exótico aquela  moça de olhinhos puxados saboreava, com um enorme sorriso no rosto,  um suculento espetinho de carne. 

Na Appai-RJ,  depois de entregar minha doação - uma lata de leite em pó - e retirar o kit, passei na "Loja do Corredor ", gosto de fazer, muito mais pra ver as novidades que pra comprar, e,  desta vez, conversei com o dono sobre as meias de compressão. 

De lá, novamente peguei o metrô e, saltando na estação Praça Onze,  caminhei até a casa do meu brother, ainda no final da tarde que já anunciava fortes chuvas.

Fui logo recebido com muita alegria, latidos e miados, do Junior e  do Romeu, novidade na família, depois de uns copos de Amstel "suada" e uma porção torresmo quentinho e crocante, daqueles que carioca raiz, de botequim, adoramos.

Colocando as novidades em dia, ouvindo as músicas dos anos '70,  que tocávamos em nossa banda de adolescente, mais o coover da Beyonce - não conhecia o emocionante tributo ao Led Zeppelin! -   eu, Joel e Nair, sua companheira, nem pensei duas vezes quando ela me disse que  havia sido convidada para assistir ao ensaio técnico da Escola de Samba Unidos da Viradouro, naquela noite. 

Oras, o Sambódromo fica a alguns poucos metros atrás da casa do meu amigo e, claro, logo, colocamos nossas capas de chuva,  protegemos celulares e documentos em sacos plásticos e, como Joel não quis sair de casa, saímos, de chinelos, eu  e sua companheira.

Foto do autor. 

Depois do ritual da lavagem da pista pelas baianas, assistimos ao teste de som e de luz e,  em seguida, o desfile das madrinhas de bateria, Sabrina Sato e Erika Januzi e assim que a primeira escola entrou na pista,  caiu um verdadeiro dilúvio. Era Oxum abençoando!, eu disse pra Nair, literalmente, sambando debaixo de uma chuva torrencial enquanto nossos chinelos botavam arrastados pelo aguaceiro.

Não sei e nunca consegui aprender a sambar, mas me diverti bastante embaixo d'água e quando o temporal acalmou um pouquinho, ainda conseguimos tirar algumas fotos daquele show maravilhoso da Unidos de Vila Isabel, com sua efusiva madrinha de bateria, Sabrina Satto, fantasiada de noiva, aliás, muito popular e carinhosa com a plateia que a aplaudiu bastante. 

Outra artista, Erika Januza, madrinha da Unidos do Viradouro, sambando muito, na  pista da Sapucaí molhada, debaixo daquela chuva torrencial, que banhara todo o Rio de Janeiro, também roubou muitos aplausos da plateia encharcada, nas arquibancadas do Sambódromo,  naquela tarde de muito calor, comum no verão carioca.

Como o intervalo entre uma escola e outra estava demorando muito e arriscava cair outro temporal, resolvemos não assistir à Viradouro, exatamente a escola da amiga de Nair, voltamos pra casa, depois de uma ducha, jantei e logo me recolhi para deixar tudo organizadinho, como sempre faço, pra manhã do dia seguinte. 

Acordei bem cedinho, comi um ovo com pão e passei café. Achei muito bom que no ônibus que eu peguei pro Aterro do Flamengo também entrou um rapaz com camiseta e número de peito. Um forte indício que estava no ônibus certo, e a certeza que não erraria o ponto onde saltar: num evento como este, qualquer erro pode ser fatal.



Cheguei meia hora antes e ainda não havia muita gente no local da largada. Fui para o meu setor, o verde, e procurei logo medir minha pressão no posto médico: 14 x 8, e xxx BPM. Tirei algumas fotos,  mandei para as minha filhas e minha equipe e tentei localizar meu colega e parceiro de equipe, o Paulo, mas, não consegui encontrar com ele, apesar de termos nos comunicado onde estávamos: coisas de corrida....

Foto do autor.

Assim que abriram o acesso, tratei logo de ir para a frente, pra evitar o tumulto da largada - o que nunca havia conseguido fazer, até então! - e, o acaso fez com que eu ficasse exatamente ao lado do Johny que me cumprimentou com o mesmo sorriso de sempre, antes de soar a buzina. Uma música eletrônica nos animava e dava o ritmo do aquecimento.

Foto do autor.

Acertei o meu aplicativo e saí no meu passo habitual. Mas, por erro de estratégia ou de empolgação, danei a acelerar mais do que o planejado - e treinado! - e, até o 8º km, já tinha chegado à minha maior velocidade de treino o que me exigiu uma maior atenção, pois, no que planejara, somente depois do 10 km, poderia voltar a acelerar e, mesmo assim, bem aos pouquinhos para guardar o gás para os últimos quilômetros. A ideia era acelerar ao máximo nos últimos 2 km. Mas, não foi bem assim, pois me desgastei muito logo no começo da prova.



Ainda perto do 10º km, notei que um dos meus tênis estava mais folgado e até pensei em continuar sem parar para apertar o cadarço, mas, o bendito resolveu soltar! Saí da pista e,  no acostamento, embaixo das árvores, parei alguns segundos para amarrar, mas, somente daquele pé, o que não achei uma boa escolha, pois, a tendência, se fosse uma prova de maior distância, seria que o outro, também, se soltasse.

Voltei à pista e, tão logo recuperara o meu ritmo, a visão de uma pessoa caída na pista lateral, no retorno,  me impressionou e descuidei do passo:  era um jovem corredor deitado no asfalto, sendo socorrido por policiais e alguns corredores ao seu lado. Como, do ponto  onde eu estava, meu campo de visão me fez desconfiar da semelhança com o Johny, com quem eu mal acabara de falar  pois, até o rabo de cavalo era parecido! Não havia necessidade de parar e nem tinha o que fazer a não ser continuar a prova até o final.

Mas, mesmo sabendo que a pessoa já estava sendo devidamente socorrida, aquela incômoda e preocupante sensação continuou comigo durante um bom tempo até que eu voltasse o foco para "escutar o meu corpo", conselho do meu amigo, alguns minutos atrás.

Claro que não era ele!, soube logo depois que cruzei a faixa de chegada,  e sentei na grama, pra  relaxar da prova e me ajeitar com os brindes e a linda medalha que eu ganhara na chegada: ainda me hidratando e tomando um dos energéticos,  recebi um abraço de surpresa e Johny,  efusivamente,  me cumprimentou. Tamanha alegria de saber que ele fizera uma boa prova, tranquila, sem percalços, nem me lembrei de voltar ao posto para aferir a pressão e a pulsação, o que venho fazendo em toda prova e treinamento de longa distância o que fiz somente dois dias depois da prova. 

Há coisas bem mais importantes na vida e além de ter eu completado mais uma prova, devidamente planejada não perdi o histórico e reforcei laços de amizade.

Não poderia deixar de registrar algumas falhas,  também , na posterior avaliação da prova, solicitada pela Appai: naquele mesmo dia, aconteceu uma outra prova, organizada pela mesma empresa, a O2, também constante no calendário da Appai, o Divas Run, o que fez a associação decidir deslocar todo o staff  para o lugar onde ocorreria aquela prova, Recreio, incluindo - infelizmente!- a tenda de massagem.

Diante dos resultados, entendi ser este o treinamento ideal, ao menos para aquela prova, a Meia de Angra, podendo, inclusive, repetir o meu rendimento, e,  pode ser que os próximos 18 km,  de domingo agora, dia 19, seja o decisivo, para medir o meu pace, pois, nesta prova, tive uma enorme surpresa com os exatos 6:04 aferidos pela empresa organizadora do evento.

Em nenhuma das minhas corridas anteriores havia experimentado uma dieta tão diferenciada, no dia anterior à prova, pois, na casa do meu amigo, me alimentei basicamente de outro tipo de proteína diferente do meu consumo na minha casa: na noite anterior, Nair nos serviu torresmo com cerveja,  e, no dia seguinte, churrasco a tarde toda regado à cerveja. Apesar de não ter o hábito de beber cerveja pilsen - gosto comum dos amigos do Joel - porque acho muito leve, a Império me agradou. Mas reafirmo o meu gosto: prefiro as mais fortes, do tipo duplo malte!

Claro que não foi só a alimentação! Descanso, horas de sono, proximidade do local de largada, relaxamento, rever pessoas queridas, festejar a vida, conversar com as filhas, com o irmão querido, beber e comer com amigos de adolescência, brincar com o gatinho e o cachorrinho do Joel, subir na laje e ver o Cristo atrás do Sambódromo, passar por lugares de tão ternas lembranças e recordações, pensar num futuro alegre e gostoso para o meu filho, correndo ao meu lado, alimentar a esperança de, um dia, motivar outras pessoas, também queridas, a aproveitar o melhor que a vida tem a oferecer, que é tão simples e pede tão pouco...
Foto do autor.

Como eu tinha uma consulta marcada para o dia seguinte, uma segunda feira, o melhor seria não retornar pra casa no domingo mesmo, como eu sempre faço, mas, sim, ficar num lugar mais próximo daquele importante compromisso - a fila do SUS ainda está muito demorada!

Apesar de ter acordado cedo, infelizmente, perdi o compromisso, mas, ainda bem que consegui reagendar para a mesma semana, inclusive, tudo transcorreu bem melhor do que eu imaginara! A isto ainda somo que aproveitei minha estada na casa do Joel para resolver uma importante pendência do nosso carro ali bem pertinho, num posto do Detran. 

Apesar da febre, que até o momento, não quer ceder no meu filho. Apesar da saúde abalada e preocupações diversas de minha esposa, o Universo continua colaborando comigo e com as pessoas que eu amo e tenho que aproveitar este momento pois, tenho a certeza de que tudo é inconstante e não demora o pêndulo voltar para o outro lado. Doenças não dão em pedras. Lesões fazem parte do nosso cotidiano. 

Claro que teria de sacrificar o meu treinamento para a Meia de Angra, assim como é justo e necessário eu, também priorizar outros compromissos, além dos cuidados com a minha família, as outras pessoas que eu amo e aquelas com quem convivo em harmonia: as aulas já se iniciaram e o começo do ano letivo pede outras demandas de trabalho e com os meus colegas. As férias, infelizmente, terminaram...

O Circuito do Sol, em pleno verão, assim como o Circuito das Estações, início do outono, enquanto metáforas do tempo da renovação e da transição,  tentam nos ensinar isto a todas e a todos, principalmente a nós, corredores e corredoras. Volto a reafirmar a mim mesmo que o desafio é a harmonia e tentativa de superação em todas estas situações e eventos, em todas as estações da vida. A  dor é inevitável. O sofrimento é uma opção! 




sábado, 18 de fevereiro de 2023

Diário, 5ª semana 5.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 05/23)

AS REDES E O APRENDIZADO PELA EXPERIÊNCIA

Na corrida pela sobrevivência,  nossa espécie tem suplantado às demais, por sua capacidade adaptativa e de evolução. Quanto às tecnologias e artefatos, destacam-se as que garantem a alimentação.  

Assim é que as redes de pesca, em sua variedade de tipos, modelos e materiais, desde  os naturais como a grama, o linho e as  fibras de árvores e de algodão, além de ter garantido um novo status no desenvolvimento civilizatório por ter potencializado a pesca e garantir um maior volume de pescado, permitiu aos primeiro hominídeos lacustres e ribeirinhos permanecer um maior tempo numa região. 

Há 10.000 anos, o homem deixa sua condição de nomadismo (caçador-coletor), afastando-se de sua dependência da pesca, da coleta e da caça e, com a descoberta da agricultura, inicia o seu estágio de desenvolvimento através da agricultura e pecuária.

Entretanto, nas últimas décadas, ao utilizar as redes de pesca, o homem tem prejudicado o meio ambiente, causando enormes prejuízos, pois, a pesca de arrasto danifica o fundo do mar, além de não fazer distinção na captura dos peixes comercializáveis ou não, e isto sem contar a pesca em período de defeso proibida por lei.

Redes, perdidas e deixadas nos oceanos, enredam uma infinidade de animais não sós os marinhos e anfíbios como os golfinhos, as tartarugas como, também, aves e passarinhos o que exige tomada de consciência, fiscalização e rigidez na aplicação das leis pois a agressão ao meio ambiente só vem piorando nas últimas décadas.

Ao pensar nas outras redes - as sociais - também percebo uma situação alarmante, para a ecologia humana, na medida em que, por mais surpreendente que seja sua contribuição na atualidade, torna o homem refém de sua condição gregária.

Um paradoxo ou um dilema, na medida em que sou livre para administrar o meu tempo de permanecer on line, liberto das outras tecnologias, dos apps, dos sites se relacionamentos virtuais.

Claro que não estou criticando o uso racional da virtualidade, tampouco de alguns aplicativos. O  perigo reside em escutar o canto da sereia e não se permitir ser acorrentado feito Odisseu, o que me levou a pesquisar o uso das redes sociais e das tecnologias, durante o meu curso de mestrado, na UFRuralRJ, em 2011.

E as tecnologias, como todo implemento e artefato humano, inevitavelmente apresentam certas peculiaridades no seu curso de desenvolvimento o que nos faz repensar tanto a nossa dependência como na minimização de seus impactos, o que aconteceu comigo no penúltimo longão para a Meia de Angra, antecedendo outra prova em que me inscrevi, o Circuito do Sol, pela Appai de 15 km.

Meu relógio bugou exatamente quando mais precisava dele, e já tinha, sem saber, ultrapassado a distância limite a encerrar o terceiro, e penúltimo, mesociclo deste treinamento para a meia maratona. Não havendo o que fazer para continuar o registro, decidi, então, parar de correr no final da praia do Recôncavo, e voltei caminhando todo o resto do percurso,2,5 km. 

Chegando em casa, recuperando a memória do treino, armazenada no aplicativo, ao carregar o meu smart, me surpreendi com a distância percorrida: tinha corrido 15km49m.

Além de ainda dispor de mais outro longão, - o de 18 km, - a fazer antes da prova do dia 26, integralizei exatamente a distância que precisava para a prova do próximo final de semana, os 15 km do Circuito do Sol, que abre o calendário de corridas organizadas pela O2

Às 8hs do dia 13/02, vendo o meu celular visualizei no instagram da minha associação as inscrições abertas para aquela prova, que, na verdade, haviam sido reabertas tendo sido disponibilizadas mais vagas posteriormente, o que fez com que novamente se encerrassem em apenas 10 minutos.

Mas, além destas, a primeira prova do ano, em particular me acenava a possibilidade de visitar pessoas queridas e correr num trajeto cheio de boas lembranças das memórias da minha infância e adolescência: apesar de ter nascido na Urca, ainda criança fomos morar em Copacabana, mamãe,  eu, minha irmã e irmãos. Somente saí da zona sul do Rio de Janeiro, depois dos 20 anos, quando me casei pela com a minha primeira esposa.

Há diversas vantagens em correr longe de casa principalmente se tiver que viajar. Claro, se for com a família  melhor ainda! Em toda corrida que tenho participado, não só reforço os laços de pertencimento com quem tem a mesma paixão como reencontro pessoas que somente vejo nestas ocasiões. Mais nos cumprimentamos visualmente, no máximo,  um aperto de mãos que nos abraçamos. 

A hidratação e as zoações depois da corrida, das fotos, o "lanchinho", a massagem - quando tem lounge! -  fazem parte do ritual, e a "estendida",  principalmente num barzinho ou lanchonete próximo.

Eu, particularmente, aproveito para ver minhas filhas, na Tijuca, ou um velho amigo de infância, o Joel, que mora no centro do Rio, pertinho do Sambódromo.

Esta é a única oportunidade mais que agradável, já que, dormindo na casa deles, além de ficar mais tempo conversando, fico bem mais próximo do local da corrida, não correndo riscos com os imprevistos, como aconteceu no dia 12/02, quando participei do Circuito do Sol, no Aterro do Flamengo.

O meu brother, nascido no mesmo ano que eu, nos conhecemos ainda estudantes do antigo primário, numa escola da zona sul do Rio de Janeiro, há bastante tempo. E bota bastante tempo nisto! Sei que, no Educandário Ruy Barbosa, em Laranjeiras, sempre que ele apontava o dedo na minha cara, eu dava uma mordida e saía correndo. 

O casarão colonial de dois andares localizado na rua Gago Coutinho fica no meio do caminho entre a Praça do Largo do Machado e o Parque Guilhen, a poucos metros de ambos. Claro que, ao invés de, na saída, voltarmos direto para casa, seguíamos na direção contrária para brincar um pouco. Uma de nossas brincadeiras prediletas era descer a grama sentados em folhas de palmeiras. E continuava a brincadeira quando voltava passando na casa do Joel pra jogar botão.

Tive que estudar naquela escola particular por alguns anos porque, não sendo um estudante exemplar, como meus irmãos e minha irmã, não teria como passar no antigo - e terrível! - exame de admissão. Aliás, isto eu também guardo em comum com o meu brother: seu irmão, o Batata, sempre estudou em escola pública. 

Correndo no parque ou no pátio do colégio, Joel nunca me pegava, apesar de tentar por alguns metros. Meu apelido era "frango veloz", não só porque corria muito, mas, por ser magrinho como o personagem do comercial - "O frango mais veloz do mundo".

Como nunca fomos alunos brilhantes, apesar de que o Joel me lembra que eu sempre gostei de ler e de escrever, para atraira atenção das meninas, achava que  teria que ser ou um bom jogador de futebol ou músico.  Como o máximo que eu consegui foi uma vaga de goleiro, jogando bola na praia,  ao crescemos juntos, saindo da adolescência, montamos um conjunto de rock, o "Molotov", onde pude ousar escrevendo alguns versos para as nossas canções.

Ensaiávamos, nos finais de semana, na garagem de uma casa, na Praia do Flamengo. Também começamos a trabalhar, juntos, numa sapataria da Av. Nossa Senhora de Copacabana, mas, não deixamos de ensaiar, estudar música e, quando havia convite, saíamos com a nossa banda, de Kombi, para tocar em outros bairros do Rio e outros, distantes, como em Niterói. 

Casamos também no mesmo ano em aos 23 anos, saí de Copacabana e fui morar no Rio Comprido. Coincidentemente, ele foi morar no mesmo prédio. Na época, magrinho e atleta, ele era um jogador de futebol de salão muito veloz o que me impressionava com a rapidez dos dribles dele. Alguns anos depois, ele já com dois filhos e, eu, com duas, nos divorciamos. 

E, por algum tempo, deixamos de nos visitar até que eu, já com a minha atual companheira, reatamos nossos laços e, de lá para cá nunca mais nos afastamos. Nunca deixamos nossa paixão e entusiasmo pela vida, sempre comemorada com muita alegria, música, comidinhas e cerveja de lado em nossos reencontros neste mais de meio século de convivência.

Temos lá nossas divergências políticas e, não sei porque ele é a única pessoa que consigo contemporizar o seu ponto de vista, sempre discordando, claro! Mas ponho isto na conta da rabugice dele, de não dar o braço a torcer. 

É que, desde a infância, nossa mãe nos ensinou que a pobreza não pode ser naturalizada; que todos temos que ter os mesmos direitos e obrigações; a não ser intolerante; que lugar de mulher é onde ela quiser estar.

Definitivamente, estes tempos nos alertam das armadilhas das redes: a descoberta de pedras de plástico transcende qualquer nível de aceitação minimamente humana, pois nos diz a respeito do nosso instinto de sobrevivência. Em alguns aspectos, a espécie humana não pode mais ser tolerante.

Não podemos mais tolerar tamanha agressão ao meio ambiente: os menores gestos e atitudes fazem uma enorme diferença e isto eu pude vivenciar quando saí de casa para correr o Circuito do Sol e, no ponto de ônibus, um senhor me ofereceu, gentilmente, uma bala, pelo que, devido a sua insistência, eu aceitei.

A conversa era sobre as mudanças climáticas e os cuidados com o  nosso bairro, os perigos dos alagamentos e os prejuízos causados pelas chuvas de verão, quando ele afirmou que, "Deus dispõe sobre tudo" e que, o que está acontecendo já estava escrito na Bíblia. De pronto, eu respondi que Deus dispõe, sim!, mas que, compete ao homem gerenciar o planeta e o seu destino.

Sem discordar do que eu havia falado, tirou o papel de sua bala e, naturalmente, jogou no meio fio, bem pertinho do ralo. Claro, aproveitei o exemplo, que ele mesmo estava dando, para lhe falar que "Deus dispõe, sim!, mas, temos que nossas atitudes, como aquela, de jogar papel na rua, colaboram com as enchentes e tudo o que elas trazem de prejuízos para o nosso bairro.

Tenho aprendido que tudo, dito com educação e gentileza, não fere, não magoa e, muito pelo contrário, cria uma atmosfera propícia ao diálogo, à mútua compreensão, pois não vivemos sozinhos e dependemos uns dos outros para a nossa sobrevivência.

Acho que aprendi a conviver com as diferenças ainda na minha infância, junto com a percepção de que dependemos uns dos outros para a nossa sobrevivência. Não bastara o fato de que os Roitberg, família originária dos Urais, da antiga União Soviética, chegara ao Brasil por conta de uma das diásporas que nos espalhou pela Europa, depois da Revolução Bolchevique, em 1917, ainda conseguimos sobreviver ao holocausto, à sanha de um dos maiores facínoras que a história conheceu, na Alemanha nazifascista.

Dos Roitberg, além do sobrenome, na certidão, carregamos este lastro de responsabilidade histórica e a sanha de sobreviver, e, no lugar do rancor pelo abandono pelo nosso pai, ainda crianças, um enorme orgulho de termos sidos criados e educados por nossa mãe, apesar de toda a falta que faz a falta de referência paterna, ato comum entre tantos outros homens no Brasil: ao abandonarem seus filhos, impõem todo o peso da responsabilidade, inclusive a financeira, ao encargo das mães.

Nossa mãe foi quem nos mostrou como dependemos uns dos outros e foi a primeira mulher a demonstrar, na prática, a necessidade de se fazer redes: sem recursos algum para sustentar sozinha seus 5 filhos, não hesitou em pedir abrigo às suas crianças aos amigos próximos, de Copacabana e parentes distantes, no Rio Grande do Sul, nos idos de 1960.

Assim que pode nos reunir, além das economias que conseguia costurando, passou a alugar vagas no  apartamento alugado onde morávamos, focada em nossos cuidados e alimentação, nos educando para que, segundo ela, todos fôssemos doutores. 

Claro que todos tivemos que contribuir não só nas tarefas domésticas, como, também, nas economias: assim que chegamos à adolescência - eu, com 14 anos - depois fomos da escola, fomos trabalharlhar para ajudar na alimentação e nos pagamentos das contas. Na época  havia a carteira de trabalho infantil e nem se pensava nos direitos das crianças, no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Ainda criança, além de eu e meu irmão nego, , entregavámos pão bem cedinho, depois da escola, expunha gibis na calçada para vender e, na praia, "fingia" ajudar os pescadores, da Colônia de Pesca do Posto 6, em Copacabana, puxando suas enormes redes para que, por generosidade, nos dessem algumas sardinhas que, junto com os mariscos da Pedra do Arpoador, tatuís que pegávamos na areia da praia e a xepa da feira, tivéssemos o básico da alimentação garantido ao que se somava os outros alimentos comprados no mercado.

Corridas de rua e, em especial, as de longa distância como as maratonas, na minha compreensão, é o esporte ideal para exercer a paciência, a observação e a escuta sensível e, apesar de ser uma prática esportiva individual, ela necessita, demais, de toda uma rede de apoio, não só da família, como, também, de amigos corredores, ou seja, maratona é um esporte coletivo e individual ao mesmo tempo. São elas que mais exemplificam as redes e o aprendizado pela experiência.

Cada treino, cada prova, cada corrida me permitem, como num laboratório, ao mesmo tempo sociológico e fisiológico, perceber cada detalhe que integra o meu corpo junto aos outros corpos, numa teia familiar e universal. Entre amigos e amigas novos e antigos, reencontros e encontros, além de toda a nossa complexa fisiologia, produção e equilíbrio, hormonal, incentivamo-nos e renovamos nossas esperanças naquilo em que acreditamos sejam quais forem os nossas crenças e ideologias.








quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Diário, 4ª semana 4.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 04/23)

Limites da flexibilidade: negociando com o meu corpo. 

Algumas adaptações na minha história foi o mote para começar este episódio,  sem precisar reeditar a diáspora do nosso povo judeu, os Roitberg, vindo dos Urais, na antiga Bielorrússia, no começo dos 1800.

Até mesmo porque para reconstruir a memória de parte daquela saga da fuga,  em plena Revolução Bolchevique, por estratégia de sobrevivência, além das historiadoras e historiador de nossa família, Larissa, Nathalia e Guilherme Roitberg,  contei com a tecnologia das árvores genealógicas virtuais e um fortuito acaso do destino por causa da necessidade de alterar uma pesquisa que estava fazendo no meu doutorado, em 2016.

Foi aí que aconteceu dos estudantes secundaristas ocuparem as escolas públicas e eu, doutorando em educação pela UFRuralRJ, me vi acampado numa escola, no Méier, bairro boêmio no subúrbio carioca,  cozinhando para adolescentes, vivenciando diariamente sua rotina, em meio às suas demandas, enfrentamentos e vivência política, história que rendeu uma tese de mais ee 300 páginas escritas durante 4 anos. 

Lá estava mais um Roitberg ocupando outro espaço, durante 3 meses,  saindo, mais uma vez,  da sua linha de conforto e, confesso, que isto me atrai. 

Não foram poucas as ocupações, por estratégia de luta e resistência, das quais eu participei, desde a da Avenida Presidente Vargas, no histórico Comício pelas Diretas Já!, em 1988, antecedida pelo defesa do prédio da UNE, em 1985. 

No anos de 1992, no movimento dos Caras Pintadas, na Rua das Laranjeiras; no Aterro do Flamengo, na Eco 92, até, mais outras vezes,  no Centro do Rio, em 2018, contra o golpe político que retirou uma presidenta, democraticamente eleita, para o começo da instalação de um período atroz em nossa história recente, que durou 4 longos anos, já no século XXI. 

Pode ser que o meu preparo físico para aquelas lutas de pautas sociais tenha sido forjado no espelhamento em meus irmãos maiores nas lutas estudantis, como também, no movimento contra o sedentarismo,  nos anos de 1970, quando pessoas comuns, assim como eu, passamos a ocupar as ruas, de tênis, calção e camiseta para inaugurar uma modalidade esportiva "estranha " para os padrões de comportamento da época: as corridas de rua que, definitivamente, passaram a compor,  como elemento comum, integrando o cenário das ruas de todo o Brasil, como a mais democrática e inclusiva prática esportiva em nosso país.

Em meio ao período da ditadura militar, com a supressão de direitos políticos e perseguição a quem se opunha ao regime, a conquista do tricampeonato na copa de 1970 e os demais eventos esportivos compunham o pacote de medidas populares, com o aval dos militares, pois, assim entendiam poder calar as manifestações, suprimir os protestos dos estudantes,  o que não aconteceu de fato.

Não só o Brasil, como os demais países da América do Sul partilham lutas coletivas pela democracia e resistência ao avanço da direita ultraconservadora e do fascismo, como é o caso atual do Peru, onde, em meio ao enfretamento das forças policiais nas manifestações na capital,  tradicionalmente, em Lima, ocorrem provas que atraem atletas de alto rendimento no mundo inteiro como a Maratona de Lima e a Halph Marathon, a Marathon des Sables, com seus monstruosos 120 km, em três etapas durante quatro dias, metade da original, que ocorre no deserto do Saara, com 240 km.

As primeiras maratonas são daquela época,  nos anos de chumbo, e eu tive a sorte de fazer parte daquela história: a primeira prova de longa distância do Brasil, a Maratona Internacional do Rio de Janeiro, ocorreu em 1979, criada pela corredora Eleonora Mendonça, através da sua empresa, a Printer, com 120 atletas concluintes. 

Em 1988, organizada pelo Jornal O Dia, por iniciativa do jornalista, advogado e atleta, José Inácio Werneck, diretor da prova participei daquele evento, agora, com o nome de Maratona do Rio,  já com os meus 31 anos, casado, dando aulas todos os dias. 

Sem nenhuma orientação profissional, contando,  apenas, com o incentivo e apoio da família, completamente exausto, quase caminhando,  consegui completar os 42,192 km  em 4:58:28. 



Acho que foi por volta do 38° km, o Monumento do Aterro parecia uma enorme tulipa com suco de laranja um prato com panquecas. Pena que era uma alucinação. Pura endorfina!

Um corredor solidário, me vendo trôpego, quase caindo, apoiou o meu braço até eu me reestabelecer e continuar aquele sacrifício. 

Dois anos depois, já orientado por um colega, de educação física, em 1990, retornei àquela prova baixando o meu tempo para 4:13:37, 560° colocado entre 815, na minha categoria, à época. Me impressiona que, hoje, aos quase 66 anos, esteja com o  pace bem perto  daquela competição, considerando meu melhor rendimento nos 10 km!




Ainda era um tempo em que a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, a Federação de Esportes do Estado do Rio de Janeiro, e poucos patrocinadores quem organizava, com respeito aos atletas aquelas provas: não havia o mercado explorador representado pelas agências de eventos, as plataformas digitais - o mundo ainda era analógico! -  como por exemplo,  a agência Pódium, detentora de inúmeras reclamações o que só vim a saber,  tempos depois. 

O fato é que, apesar de eu já ter, por diversas vezes, reclamado com a organização da corrida, faltando apenas duas semanas para a prova e nada de informações sobre a retirada do kit, chip e número de peito, encontro no site responsável uma data para a sua realização: 26/02

Imediatamente fui ver se ainda haveria alguma acomodação no hostel onde eu ressevara um quarto com a desconfiança de que seria bastante improvável devido ao Carnaval. 

É preciso ter paciência e pensar com calma antes de tomar alguma decisão é o que ouço do Dalai Lama. Foi assim que eu e minha companheira construímos nossa casa, plantamos árvores.  Foi assim para colher os frutos, concluir nossas faculdades, conseguir ser um servidor público concursado, escrever um livro, alguns capítulos e projetos, publicar artigos científicos e apresentar em congressos, defender uma tese, tornar-me um doutor, me aposentar, ter o nosso filho... Mas tolerância tem limites !

Humano, demasiadamente humano, nossa espécie vem se adaptando, há cerca de 300.000 anos, antes do surgimento do homo sapiens, a um ambiente de condições adversas e extremas,  totalmente inóspito ao nosso organismo: os gases ácidos somente eram possíveis de respirar a algumas bactérias .

Somente as mais fortes criaturas e organismos sobreviveram, diz a ciência. E, naquele território, terrivelmente perigoso, para uma criatura tão frágil, quem não corria pra caçar virava caça rapidamente. Por conseguinte, nossos ancestrais hominídeos eram exímios corredores, daí que desconfio da nossa herança comum na linhagem de corredores. 

Nossa capacidade adaptativa garantiu nossa sobrevivência, entretanto fez-nos sedentários:  nômades ficaram mais vulneráveis. 

Além da questão da viagem e estada, em Angra dos Reis, precisaria decidir, rapidamente, outra estratégia de treinamento por causa das 4 semanas pela frente, além de que, no próximo final de semana, já estaria entrando no último mesociclo de meu treinamento para a Meia de Angra, que, em princípio, aconteceria no dia 12 e, agora, somente  no dia 26!

Conversei com minha companheira e mandei uma mensagem pra Regina, nossa irmã baiana, moradora no Perequê, há 45 km de Paraty, há 47 minutos e 53 km do centro de Angra dos Reis, há quase uma hora, de carro. 

Corredores somos criaturas adeptas de um esporte solitário, mas como todo ser humano, temos uma enorme atração pelo agrupamento por afinidades, o que nos garantiu a formação dos laços de pertencimento este é o caso daquela família, da nossa outra família com quem convivemos e compartilhamos muitas experiências quando deixamos nossas cidades de origem: Bahia e Rio de Janeiro.

Essa conquista para a nossa sociabilidade é resultado da nossa “cultura cumulativa”. Temos uma capacidade sem precedentes de formar relações próximas com todos os membros da nossa espécie, inclusive os que não pertencem à nossa família de sangue, de acordo com o cientista e arqueólogo Patrick Roberts, em entrevista à Revista Veja, em 2018. 

Nós, aqui do Rio de Janeiro; eles, de Salvador, Bahia o que, já em princípio, nos irmanaria tamanho o carinho que baianos e cariocas sentem mutuamente: samba de roda, capoeira, maculelê; acarajé, pimenta, moqueca, feijoada, frutos do mar, peixada; carnaval, lavagem do Bonfim, festa de Yemanjá, umbanda e candomblé, o sincretismo religioso; a questão da escravidão e a resistência; o simbolismo do abadá e uma enorme paixão pela vida vivida intensamente.  Caetano, Gil Daniela Mercury, Margareth Menezes e Preta Gil; Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Martinho da Vila. Tudo junto e misturado neste alegre e gostosa sinfonia de um arco-íris brilhante e multicultural. 

Não demorou para que nossa irmã nos respondesse, fraternalmente, da Bahia,  - onde estava - , estranhando o "pedido" :  era só eu chegar, "de mala e cuia, levando Ana Paula e o José para aproveitar o passeio", o que não seria possível,  pois já haveria começado as aulas do nosso menino.

Um dia depois, tratei de garantir a passagem para Angra dos Reis, direto no guichê da rodoviária de Campo Grande, pois os ônibus para Paraty - o que seria ideal! - somente partem de uma rodoviária muito distante de minha casa. Retirei apenas a passagem de ida, para o dia 24, pois, na ocasião não haviam sido liberadas as de volta pela empresa de ônibus. Uma semana depois, descobri que a passagem de volta somente é liberada depois do embarque, ou seja, somente chegando em Angra eu teria como adquirir a de volta! E isto em pleno Carnaval!

Com a passagem para Angra, chegando no final da tarde do dia 24, daria para retirar o meu kit com a antecedência de um dia, mas, somente no dia seguinte. Claro que ainda teria tempo suficiente para descansar para a prova no dia seguinte. Apenas deveria ficar atento ao outro dia, na madrugada do dia da prova - um domingo! -  a fim de chegar com uma certa antecedência, o que é o ideal.
 
Equacionada parte da questão, passei a me concentrar nos aspectos técnicos da continuidade do treinamento. Pensei noutro coletivo, o Efusivos Runner. Telefonei para o Paulo, colega de trabalho e meu companheiro daquele grupo de corredores e lhe contei o que aconteceu pelo que me pediu falar com o Jonhy, o corredor mais veloz do nosso grupo e me perguntou se eu sabia quem ele era. 

Claro que sabia: geralmente, cruzo com ele, quando eu ainda nem passei da metade de uma prova de longa distância. Ele já está voltando com um enorme sorriso no rosto jovial com umas passadas de velocista a dar inveja a qualquer avestruz.

O rapaz é referência em corridas da Appai, medalhista e reconhecido no meio dos corredores.

Compartilhei minha planilha de treino com ele, depois de contar o que aconteceu e ele me orientou a repetir as últimas semanas de treino, mantendo todo o planejamento semanal. Então, no primeiro longão destas quatro semanas a mais que eu "ganhei" da comissão de organização, prossegui repetindo os 15 km das semanas anteriores, pensando na manutenção do meu ritmo, o que, não só tenho conseguido, como consegui baixar o tempo.

Entendo necessária certa flexibilidade - aliás, em tudo na vida! - quando se trata de um treinamento que trabalha intensidade e volume, ou seja, aumento da distância corrida e da velocidade ideal, no meu caso, cerca de 10 km/h, ou, um ritmo de  mais ou menos 6,0, conforme a tabela de paces.

Eu e minha esposa assim como Regina e sua família precisaram se adaptar a uma cidade bem diferente de nossas origens, entretanto, havia algo de familiar que nos levou àquele localidade no início do século. Talvez as lindas praias da região e, aliás, muito mais bonitas que as mais bonitas do Rio de Janeiro.

Foi necessário flexibilizar o meu planejamento de treinos e equacionar toda a logística em função da mudança no cronograma da prova. Mas, é claro que há situações em que se torna inviável qualquer forma de flexibilização.

Valores são inegociáveis assim como visão de mundo: direitos humanos, respeito às diferenças ultrapassam o marco regulatório social. Não faz o menor sentido, pra mim, dar bom dia aos homens que expõe, lamentavelmente, pássaros engaiolados, nos muros e galhos de árvores, para, não só atrair outras aves a serem aprisionados em alçapões, como, também "desenvolver" seu cantos, a fim de  valorizá-los enquanto mercadoria. Um crime ambiental - a luz do dia, com todos vendo! - com pena prevista de multa e prisão.

Não conheço ninguém que tenha sido preso ou pagado alguma multa, pelo aprisionamento de pássaros!

Além do acaso, o Destino também prega  umas peças. Mas, também, eu colho os frutos do que eu planto até mesmo por ignorância ou por acidente.

Cobras, gaviões, bois e vacas,  lama para todo o lado, uma dilúvio de chuvas torrenciais cortadas por raios e trovões estrondosos, que pareciam tremer o solo, o que jamais poderíamos pensar naquela experiência e, claro, nunca fizeram parte da nossa rotina de cidadãos que vivíamos na metrópole, mas que tornaram-se frequente em nossas vidas, junto a novos hábitos adquiridos, como o andar de bicicleta e cuidar da terra e colher hortaliças e frutas diretamente da terra e, não, do sacolão. Esta era a nossa nova realidade no Perequê!

Dentre algumas estratégias adaptativas, por medida de segurança - "vai que um boi invadisse nossa casa!..." - decidimos plantar uma "cerca viva" junto aos mourões e arame farpado que cercavam nosso terreno quando ainda não havíamos construído um enorme muro de lajotas ao redor de toda a nossa área e, não sei de onde foi que eu tirei a ideia de fazer aquilo usando a própria vegetação.

"Amoras dão em árvore. Não são arbustos" foi o que aprendemos, na prática!

Não tinha nem dois metros de distância entre uma muda e outra da quantidade de mudas de amoras que plantamos em nossa volta naquele solo, de terra preta e adubada pela natureza. Região de alto índice pluvial, chovendo quase todo dia e alternando com o sol, não deu outro resultado com o passar do tempo.

Ao mesmo tempo em que construíamos nosso muro, notamos que estávamos ficando presos dentro de um terreno cercado por árvores que já estavam chegando aos dois metros. A quantidade de tortas de amoras que Ana fazia, não dava conta de tanto fruto, o que não resolveria aquele problema. Então, não tive o que fazer a não ser começar a tirar aquela floresta silvestre.

Ignorante, displicente com a segurança, pensando - e, pior, me orgulhando! - da minha autossuficiência, metido a aventureiro, eu mesmo podava os galhos de nossas árvores e não haveria de ser diferente com aquelas amoreiras

Cortei grande parte deixando algumas dentro de nosso terreno, mas, quis o Destino, aproveitando as brechas da minha síndrome de Tarzan, de me dar um tapa na cara. Há quase 3 metros de altura, sem cinto de segurança e nenhum outro equipamento de proteção necessário para aquela perigosa empreitada, preso, apenas, com uma corda no tronco, me vi, no chão, sendo acordado por minha esposa, olhando o seu rosto e o céu atrás dela.

Eu não estava morto! Mas, a chicotada do galho flexível, ao ser cortado pela lâmina da minha serra, ao bater no meu rosto, fraturou um dos ossos do mr rosto e me jogou daquela altura. Ainda bem que caí na terra e ainda tive como uivar alguma coisa que soou como socorro para minha esposa que estava dentro de casa. Ainda bem!

Claro que depois daquele acidente passei a tomar mais cuidado com a minha integridade, apesar de que ainda repetiria o mesmo erro por mais duas vezes na vida e, mais uma vez, Deus foi benéfico comigo, assim como é com as crianças, com os loucos e com os ignorantes.

Até mesmo a flexibilidade tem seus limites e eu nunca fui do tipo atleta de grande flexibilidade muscular o que descobri enquanto praticante do Taekwondo, milenar arte marcial coreana. Mas sempre fui muito ágil e de uma certa força necessária para aquele esporte. 

Confesso uma predileção pela natação, na medida em que deixei de lutar, mas, que, até hoje, me esforço pra mergulhar na piscina do complexo esportivo da Vila Olímpica para relaxar a musculatura. A satisfação é inigualável e imediata para o restante do dia!

Com o avançar da idade e a perda de colágeno minhas articulações requerem um cuidado bem maior do que quando jovem, assim como toda a minha musculatura e, daí não descuido das sessões diárias de alongamento e automassagem. Idosos adultos como eu precisamos negociar com o corpo para minimizar a cobrança  impiedosa do passar dos anos.

Encerrando mais um mesociclo de treinamento, com o mote que iniciou este episódio,  senti uma enorme necessidade de definitivamente repaginar este blog, inaugurado em agosto de 2008, até então  destinado a disponibilizar textos literários e propor atividades didáticas às minhas turmas.

12 anos de publicações ininterruptas, depois da primeira postagem em 2008, a partir de agosto de 2022, o blog veio se transformando no meu diário e bloco de notas para textos autorais, de cunho filosófico-literário mesclado com o ativismo da luta social, contra a discriminação e preconceitos, resistência, defesa pelos direitos humanos, inclusão social,  manutenção do estado democrático de direito, até que, finalmente, logo após o isolamento social devido à pandemia do Coronavírus, ao retornar às corridas de rua, iniciei o meu diário.

Assim, a partir de agora, não descartando outras mudanças que venham a ocorrer, tendo alterado o nome, - Corro, logo existo! - , orientação e destinação deste blog, a partir da leitura das obras dois escritores, minhas atuais referências e inspirações, o Doutor Drauzio Varella e o filósofo e ultramaratonista Haruki Murakani, tomei como incentivo e motivação para escrever alguns episódios a serem utilizados num podcast a ser produzido junto a um vídeo.

Ao mesmo tempo em que não achei conveniente manter o primeiro título assim como a mensagem descritiva deste meu bloco de anotações virtual, também não encontrei motivo algum para criar um novo blog, tanto em respeito aos 39 leitores assinantes e colaboradores, assim como as mais de 21.000 visualizações até o momento, com mais de 100 leituras neste mês de janeiro, quando fecho o rascunho de cada ciclo entre os mesociclos do meu programa de treino. 

Cada corrida de domingo, - o "longão" a partir de 10 km de final de semana é utilizado para pensar e dialogar com os meus pensamentos sobre a temática semanal, devido ao volume de treino, acima de 1 hora.

Jamais como aconselhamento ou cartilha de "faça isto!" ou "faça aquilo!", "evite!"! , pois cada experiência é íntima, de ordem pessoal, subjetiva, pretendo, em cada série de episódios, definidos por temáticas específicas, a partir de minha leitura e orientações recebidas a partir de consultas a alguns profissionais  - da área dos esportes, da nutrição, da ortopedia e da medicina, - comentar e analisar o rendimento de minha rotina de treinamento através de minhas reflexões subjetivas e filosóficas.

Por fim, a proposta é escrever  -  do meu ponto de vista! -, sobre o que entendo por práticas saudáveis e minhas experiências de corredor, professor, trabalhador, estudante, servidor público, ativista e militante, social democrata e antifascista, marido e pai de uma criança de 4 anos, torcedor pelo Fluminense e pela Escola de Samba Unidos da Portela.

Escrever, principalmente, sobre as corridas de rua, provas de longa distância, maratonas, com o prazer da vida vivida com intensidade, paixões e alegrias, surpresas e encantamentos! 

Pode ser que o meu filho, no futuro, agradeça este meu empenho em deixar um registro do meu delicioso esforço em direção à longevidade, negociando com o tempo para não deixar de brincar com esta criança, que me põe pra correr no quintal e em volta da casa, subindo nas minhas costas quando faço flexões, fugindo de seus ataques com a bomba ninja, jogando bola na praia, além de estar com a família, e amigos, sem descuidar dos meus momentos de intimidade comigo mesmo. Só por hoje!