terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Diário, 6ª semana 6.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 06/23)

O CIRCUITO DO SOL E O CARNAVAL CARIOCA:   ensaio técnico embaixo de chuva 

Minha planilha de treino para a Meia Maratona de Angra dos Reis, necessitava de  algumas adaptações para eu participar de uma prova no último mesociclo de teinamento: o  Circuito do Sol que, segundo os organizadores, a O2 chegaria ao Rio depois de ter acontecido em São Paulo. A publicidade no site afirmara que aquela corrida de rua "mais popular do Brasil" trata-se de uma prova de recomeço e retomada dos treinos e, claro que me interessei em me inscrever, ainda mais, que era mais uma das atividades da minha associação, a Appai-RJ.



Uma boa oportunidade para  corredoras e corredores com pouca ou nenhuma experiência de corridas de rua - dizia o site. O momento de colocar em prática a resolução de ano novo. "Para os corredores experientes é o start de uma nova temporada." Uma prova destinada a iniciar o ano com saúde e qualidade de vida. 

Nesta edição, houve competição para as distâncias de 5k, 10k e 15k, sendo que aconteceu,  também, uma caminhada de 3k, para quem estivera treinando nas pistas, amplificando o podium e o entusiasmo na entrega da premiação.

Então, o que eu esperava daquela prova a não ser um baita calor típico da orla de Copacabana no verão e alta umidade relativa do ar? Seria melhor,  então, me preparar para o pior, apesar de que a organização resolvera  antecipar a partida para as 7hs30m, certamente, depois de consultar o boletim meteorológico para o próximo domingo.

Nem seria preciso ler as dicas no site para se hidratar bastante, passar protetor solar e correr com trajes leves: a experiência já nos ensinou tudo isto, morando num lugar em que a sensação térmica tem passado dos 50º.

Só que não foi nada disto. Muito pelo contrário: pra felicidade geral, uma frente fria e muita chuva na noite de sábado baixou bastante a temperatura e corremos num clima muito agradável. 

Bem que eu até estava torcendo por uma chuvinha porque o meu rendimento é bem melhor, ainda mais se  os organizadores tivessem mantido o circuito da orla da praia de Copacabana.

Corremos o mesmo circuito da Nigth Run que eu havia participado em 2022, com saída na Praça Cuahtemoque, no Aterro do Flamengo e chegada na Glória o que facilita demais o transporte público.
No máximo, o que eu desejava era manter o meu ritmo e, se pudesse, baixaria um pouco para a Meia de Angra, 15 dias depois. Mas, o acaso colaborou comigo e eu consegui ir bem além da minha pretensão e metas de treinamento. Fui o 5º colocado na minha categoria! Tem menos idosos adultos competindo em longas distâncias ou, realmente, o treinamento começa a dar resultados?! Não dá para generalizar apenas numa prova! Vou continuar, claro!



https://adm.ativo.com/certificados_dos_eventos/ev38538np6701.pdf

Ainda mais que, desta vez, como enorme diferencial qualitativo, pude contar com uma logística benfazeja, pois, como eu consegui adiar alguns compromissos a tempo, saí de casa logo depois do almoço no sábado e fui direto de trem até a Central do Brasil,  no centro do Rio para pegar o meu kit no prédio da Appai logo na saída do metrô do Largo da Carioca.

Morando distante dos lugares de provas, a questão do transporte, principalmente aos domingos, é uma preocupação constante o que me obriga acordar de madrugada, ir ao banheiro, me alimentar devidamente,  para não me atrasar e perder a largada. Depois de horas de viagem, chegando no local, preciso, rapidamente localizar o staff da Appai, o guarda-volumes, o posto médico e me situar no início do meu setor de largada, o verde. 

Excetuando a vontade de ir ao banheiro, a necessidade de aferir pressão e BPM, amarrar os cadarços, checar o chip no número de peito, acionar o app de registro no celular, claro que resta a preocupação de ter esquecido alguma coisa. Mas, o meu esforço em me organizar, até o momento, tem funcionado!

O clima do Carnaval carioca foi o que serviu para distensionar tudo isto, pois, a ocasião sempre me lembrou coisas legais, desde a minha infância em Copacabana e não seria diferente, na semana da festa de Momo. Mais ainda, ao chegar no Castelo, centro do Rio de Janeiro e passar pelos Arcos da Lapa, ver foliões, bate bolas, a barraca do acarajé da Cida,  o Galeto e churrasquinho na esquina da Chile. 

O multiculturalismo e a sinestesia misturam  sensações nesta época integrando outras tantas  como a da turista asiática: afinal com que prazer exótico aquela  moça de olhinhos puxados saboreava, com um enorme sorriso no rosto,  um suculento espetinho de carne. 

Na Appai-RJ,  depois de entregar minha doação - uma lata de leite em pó - e retirar o kit, passei na "Loja do Corredor ", gosto de fazer, muito mais pra ver as novidades que pra comprar, e,  desta vez, conversei com o dono sobre as meias de compressão. 

De lá, novamente peguei o metrô e, saltando na estação Praça Onze,  caminhei até a casa do meu brother, ainda no final da tarde que já anunciava fortes chuvas.

Fui logo recebido com muita alegria, latidos e miados, do Junior e  do Romeu, novidade na família, depois de uns copos de Amstel "suada" e uma porção torresmo quentinho e crocante, daqueles que carioca raiz, de botequim, adoramos.

Colocando as novidades em dia, ouvindo as músicas dos anos '70,  que tocávamos em nossa banda de adolescente, mais o coover da Beyonce - não conhecia o emocionante tributo ao Led Zeppelin! -   eu, Joel e Nair, sua companheira, nem pensei duas vezes quando ela me disse que  havia sido convidada para assistir ao ensaio técnico da Escola de Samba Unidos da Viradouro, naquela noite. 

Oras, o Sambódromo fica a alguns poucos metros atrás da casa do meu amigo e, claro, logo, colocamos nossas capas de chuva,  protegemos celulares e documentos em sacos plásticos e, como Joel não quis sair de casa, saímos, de chinelos, eu  e sua companheira.

Foto do autor. 

Depois do ritual da lavagem da pista pelas baianas, assistimos ao teste de som e de luz e,  em seguida, o desfile das madrinhas de bateria, Sabrina Sato e Erika Januzi e assim que a primeira escola entrou na pista,  caiu um verdadeiro dilúvio. Era Oxum abençoando!, eu disse pra Nair, literalmente, sambando debaixo de uma chuva torrencial enquanto nossos chinelos botavam arrastados pelo aguaceiro.

Não sei e nunca consegui aprender a sambar, mas me diverti bastante embaixo d'água e quando o temporal acalmou um pouquinho, ainda conseguimos tirar algumas fotos daquele show maravilhoso da Unidos de Vila Isabel, com sua efusiva madrinha de bateria, Sabrina Satto, fantasiada de noiva, aliás, muito popular e carinhosa com a plateia que a aplaudiu bastante. 

Outra artista, Erika Januza, madrinha da Unidos do Viradouro, sambando muito, na  pista da Sapucaí molhada, debaixo daquela chuva torrencial, que banhara todo o Rio de Janeiro, também roubou muitos aplausos da plateia encharcada, nas arquibancadas do Sambódromo,  naquela tarde de muito calor, comum no verão carioca.

Como o intervalo entre uma escola e outra estava demorando muito e arriscava cair outro temporal, resolvemos não assistir à Viradouro, exatamente a escola da amiga de Nair, voltamos pra casa, depois de uma ducha, jantei e logo me recolhi para deixar tudo organizadinho, como sempre faço, pra manhã do dia seguinte. 

Acordei bem cedinho, comi um ovo com pão e passei café. Achei muito bom que no ônibus que eu peguei pro Aterro do Flamengo também entrou um rapaz com camiseta e número de peito. Um forte indício que estava no ônibus certo, e a certeza que não erraria o ponto onde saltar: num evento como este, qualquer erro pode ser fatal.



Cheguei meia hora antes e ainda não havia muita gente no local da largada. Fui para o meu setor, o verde, e procurei logo medir minha pressão no posto médico: 14 x 8, e xxx BPM. Tirei algumas fotos,  mandei para as minha filhas e minha equipe e tentei localizar meu colega e parceiro de equipe, o Paulo, mas, não consegui encontrar com ele, apesar de termos nos comunicado onde estávamos: coisas de corrida....

Foto do autor.

Assim que abriram o acesso, tratei logo de ir para a frente, pra evitar o tumulto da largada - o que nunca havia conseguido fazer, até então! - e, o acaso fez com que eu ficasse exatamente ao lado do Johny que me cumprimentou com o mesmo sorriso de sempre, antes de soar a buzina. Uma música eletrônica nos animava e dava o ritmo do aquecimento.

Foto do autor.

Acertei o meu aplicativo e saí no meu passo habitual. Mas, por erro de estratégia ou de empolgação, danei a acelerar mais do que o planejado - e treinado! - e, até o 8º km, já tinha chegado à minha maior velocidade de treino o que me exigiu uma maior atenção, pois, no que planejara, somente depois do 10 km, poderia voltar a acelerar e, mesmo assim, bem aos pouquinhos para guardar o gás para os últimos quilômetros. A ideia era acelerar ao máximo nos últimos 2 km. Mas, não foi bem assim, pois me desgastei muito logo no começo da prova.



Ainda perto do 10º km, notei que um dos meus tênis estava mais folgado e até pensei em continuar sem parar para apertar o cadarço, mas, o bendito resolveu soltar! Saí da pista e,  no acostamento, embaixo das árvores, parei alguns segundos para amarrar, mas, somente daquele pé, o que não achei uma boa escolha, pois, a tendência, se fosse uma prova de maior distância, seria que o outro, também, se soltasse.

Voltei à pista e, tão logo recuperara o meu ritmo, a visão de uma pessoa caída na pista lateral, no retorno,  me impressionou e descuidei do passo:  era um jovem corredor deitado no asfalto, sendo socorrido por policiais e alguns corredores ao seu lado. Como, do ponto  onde eu estava, meu campo de visão me fez desconfiar da semelhança com o Johny, com quem eu mal acabara de falar  pois, até o rabo de cavalo era parecido! Não havia necessidade de parar e nem tinha o que fazer a não ser continuar a prova até o final.

Mas, mesmo sabendo que a pessoa já estava sendo devidamente socorrida, aquela incômoda e preocupante sensação continuou comigo durante um bom tempo até que eu voltasse o foco para "escutar o meu corpo", conselho do meu amigo, alguns minutos atrás.

Claro que não era ele!, soube logo depois que cruzei a faixa de chegada,  e sentei na grama, pra  relaxar da prova e me ajeitar com os brindes e a linda medalha que eu ganhara na chegada: ainda me hidratando e tomando um dos energéticos,  recebi um abraço de surpresa e Johny,  efusivamente,  me cumprimentou. Tamanha alegria de saber que ele fizera uma boa prova, tranquila, sem percalços, nem me lembrei de voltar ao posto para aferir a pressão e a pulsação, o que venho fazendo em toda prova e treinamento de longa distância o que fiz somente dois dias depois da prova. 

Há coisas bem mais importantes na vida e além de ter eu completado mais uma prova, devidamente planejada não perdi o histórico e reforcei laços de amizade.

Não poderia deixar de registrar algumas falhas,  também , na posterior avaliação da prova, solicitada pela Appai: naquele mesmo dia, aconteceu uma outra prova, organizada pela mesma empresa, a O2, também constante no calendário da Appai, o Divas Run, o que fez a associação decidir deslocar todo o staff  para o lugar onde ocorreria aquela prova, Recreio, incluindo - infelizmente!- a tenda de massagem.

Diante dos resultados, entendi ser este o treinamento ideal, ao menos para aquela prova, a Meia de Angra, podendo, inclusive, repetir o meu rendimento, e,  pode ser que os próximos 18 km,  de domingo agora, dia 19, seja o decisivo, para medir o meu pace, pois, nesta prova, tive uma enorme surpresa com os exatos 6:04 aferidos pela empresa organizadora do evento.

Em nenhuma das minhas corridas anteriores havia experimentado uma dieta tão diferenciada, no dia anterior à prova, pois, na casa do meu amigo, me alimentei basicamente de outro tipo de proteína diferente do meu consumo na minha casa: na noite anterior, Nair nos serviu torresmo com cerveja,  e, no dia seguinte, churrasco a tarde toda regado à cerveja. Apesar de não ter o hábito de beber cerveja pilsen - gosto comum dos amigos do Joel - porque acho muito leve, a Império me agradou. Mas reafirmo o meu gosto: prefiro as mais fortes, do tipo duplo malte!

Claro que não foi só a alimentação! Descanso, horas de sono, proximidade do local de largada, relaxamento, rever pessoas queridas, festejar a vida, conversar com as filhas, com o irmão querido, beber e comer com amigos de adolescência, brincar com o gatinho e o cachorrinho do Joel, subir na laje e ver o Cristo atrás do Sambódromo, passar por lugares de tão ternas lembranças e recordações, pensar num futuro alegre e gostoso para o meu filho, correndo ao meu lado, alimentar a esperança de, um dia, motivar outras pessoas, também queridas, a aproveitar o melhor que a vida tem a oferecer, que é tão simples e pede tão pouco...
Foto do autor.

Como eu tinha uma consulta marcada para o dia seguinte, uma segunda feira, o melhor seria não retornar pra casa no domingo mesmo, como eu sempre faço, mas, sim, ficar num lugar mais próximo daquele importante compromisso - a fila do SUS ainda está muito demorada!

Apesar de ter acordado cedo, infelizmente, perdi o compromisso, mas, ainda bem que consegui reagendar para a mesma semana, inclusive, tudo transcorreu bem melhor do que eu imaginara! A isto ainda somo que aproveitei minha estada na casa do Joel para resolver uma importante pendência do nosso carro ali bem pertinho, num posto do Detran. 

Apesar da febre, que até o momento, não quer ceder no meu filho. Apesar da saúde abalada e preocupações diversas de minha esposa, o Universo continua colaborando comigo e com as pessoas que eu amo e tenho que aproveitar este momento pois, tenho a certeza de que tudo é inconstante e não demora o pêndulo voltar para o outro lado. Doenças não dão em pedras. Lesões fazem parte do nosso cotidiano. 

Claro que teria de sacrificar o meu treinamento para a Meia de Angra, assim como é justo e necessário eu, também priorizar outros compromissos, além dos cuidados com a minha família, as outras pessoas que eu amo e aquelas com quem convivo em harmonia: as aulas já se iniciaram e o começo do ano letivo pede outras demandas de trabalho e com os meus colegas. As férias, infelizmente, terminaram...

O Circuito do Sol, em pleno verão, assim como o Circuito das Estações, início do outono, enquanto metáforas do tempo da renovação e da transição,  tentam nos ensinar isto a todas e a todos, principalmente a nós, corredores e corredoras. Volto a reafirmar a mim mesmo que o desafio é a harmonia e tentativa de superação em todas estas situações e eventos, em todas as estações da vida. A  dor é inevitável. O sofrimento é uma opção! 




Nenhum comentário: