A Meia Maratona de Angra dos Reis
Na sexta feira antes da corrida, saí da cama às 5hs, medi a pressão, pulso e me pesei. Já já vou ligar pra Regina, nossa irmã baiana, de Angra, para acertar direitinho minha estada em Mambucaba.Ainda falta resolver o horário dos ônibus pra chegar cedinho em Angra, no dia da prova, que, ainda bem, será às 8hs. Brinquei um pouco com o meu José, separei minhas coisas, fiz o almoço e saí de casa.

Imagino o que minha nutricionista vai dizer depois de ver minha refeição depois da Meia Maratona de Angra em comemoração do meu aniversário de 66 anos com minha família baiana, lá em Mambucaba.Enfim, macarrão é para os fracos, eu concluí!
Ansioso como só eu, cheguei na rodoviária de Campo Grande quase duas horas antes do ônibus sair para Angra e, além de comprar balas de paçoca, de café e bananinhas desidratadas, para levar na corrida, aproveitei para verificar horários de outros ônibus para o centro do Rio aos domingos, enquanto aguardo a partida. Minha família baiana está me aguardando entusiasmada. E eu, ansioso pelo reencontro.
Apesar do motorista do Costa Verde ter falado que eu iria chegar lá pelas oito da noite, porque estava havendo operação PARE SIGA, - liberação alternada de apenas uma das pistas - devido às enchentes, causadoras da recente tragédia no Carnaval no litoral paulista, a viagem durou o tempo normal: eu cheguei por volta de 6 horas em Angra.
De lá, peguei um ônibus para Parque Mambucaba e, esse, sim, demorou (uma hora e meia... mais ou menos). Cheguei lá pelas oito da noite. Na viagem, recebi a mensagem que estava chovendo por lá.
Até o morro do Peres, ainda não estava chovendo grosso, mas, passando pelo batalhão da PM, na entrada do bairro, a chuva apertou e, logo no começo da avenida Francisco Magalhães de Castro - a principal - a mesma cena de vinte anos atrás: água a mais de palmo e meio, cobrindo a calçada.
No instinto, tirei logo o tênis, guardei numa sacola plástica e coloquei minhas sandálias para enfrentar o aguaceiro. Saltei debaixo do temporal e fui me abrigar numa marquise. Havia me esquecido da capa de chuva...
Mesmo inundada, encharcada, a rua principal lá do parque Mambucaba, naquela noite de muita chuva, saltei no ponto direitinho, logo depois do mercado e esperei um pouquinho a Brenda, filha de minha irmãzinha baiana e do Dinor, que, gentilmente, foi me buscar.
Seguimos caminhando e conversando até a casa, passando por lugares bem familiares, apesar da pouca iluminação das ruas. Mas, acordando bem cedo, com sons diferentes de outros pássaros e galos, já com a iluminação do dia, do alto da casa, percebi que nestes quase vinte anos que retornei para o Rio, muita coisa mudou, mas as referências não foram perdidas por completo.
Afinal, o Frade continua deitado com seu nariz apontando para o céu: o "cheiro da chuva" nos alerta para os temporais que descem de Minas e São Paulo e, quando coincidem com a alta da maré dos rios de Paraty e de Mambucaba tem que preparar os botes salva vidas. Para sair das casas.
Junto às enchentes nada prazerosas na lembrança, claro que não teria como encontrar mais aquele local onde eu vivi uma parte muito bonita da minha vida, junto com a minha esposa. Ficamos bastante tempo em Parque Mambucaba.
Ontem, sexta feira, de noite, quando cheguei, batemos muito papo, conversamos muito, comemos coisinhas gostosas e hoje de manhã, fui ao mercado com eles: os preços estão assim "pela hora da morte". Muita coisa diferente do Rio de Janeiro, outras nem tanto.
Enquanto pai e filha faziam as compras do mês com os carrinhos, vi umas latinhas da cerveja Spaten, e peguei para Regina experimentar e um potinho de geleia que a sua filha adora. Minha irmãzinha preparou uma costela com legumes e aproveitei para ir conhecer a casa de sua irmã, Andréia, coladinha a sua.
Seu filho, tratou logo de dar um presentinho para o Zeca, o que estimulou os demais também a começar uma "corrente de livros" para eu levar para o Zeca, que, por vídeo chamada, disse que também vai separar livros para doação. Falamos da FLIP.
Saí de lá, na tarde do sábado, por volta das duas da tarde, e peguei o kit lá no Shopping Pirata's, com um pessoal muito animado - o Julio, da equipe de organização - meu xará - que mandou um recadinho e uma mocinha; Mas, apesar de todo entusiasmo, particularmente, eu não gosto nadinha daquele sistema de medição.
O chip a ser amarrado no cadarço do tênis não me traz boas lembranças. Fruto de uma experiência nada agradável, vivida na Meia da Reserva, onde a chuva me fez perder o chip, tenho que tomar muito cuidado...
Agora, estou esperando o ônibus. Antes, passei na rodoviária, peguei logo a passagem de volta no dia e horário que consegui, na gratuidade idoso, pois tinha dúvidas quando voltar - terça pela manhã - para conseguir dar aula, ou na segunda-feira de tarde, com mais tranquilidade.
Então, consegui um horário bom até na segunda-feira, às dezessete horas, passei numa farmácia me pesei - 62.700 ( já coloquei na planilha).
Vou medir a pressão agora, assim que chegar na casa de Regina e, se amanhã tiver alguém no posto da corrida, também meço antes da prova. Se não, fico com a medição de hoje mesmo: dá para ter uma ideia no final da prova. Eu faço outra medição com batimentos cardíacos também. Enfim, estou me sentindo bem, apesar de que hoje fez muito calor.
Como amanhã também vai esquentar o conselho da organização foi hidratação, reposição de sais minerais, por isto, passei no mercado. Comprei duas caixinhas de água de coco, para colocar para gelar e estou levando, também, umas paçoquinhas, já que eu pretendo, após uma hora de prova - 10 km, mais ou menos - ingerir um pouco de açúcar para suportar os próximos 11 km.
Como estou esperando e me preparando para esta prova há oito semanas, agora é descansar, aproveitar a viagem, já que estou embarcando no ônibus para Parque Mambucaba.
Ônibus lotado. Ninguém de máscara. Não sei se fiz um bom negócio tirando a passagem para a rodoviária Novo Rio, ao invés de pegar pra Campo Grande...
No domingo da prova, acordei às 4:30, peguei da geladeira o meu kit alimentação e hidratação (caixinhas de água de coco e sanduíches de carne moída) e minha garrafinha dágua. deixado organizado e separadinho na noite de ontem, e fui pegar o ônibus de 5hs para Angra.
Cheguei no local da partida, na Praia do Anil, quase 7hs, e, para o meu espanto, fui o primeiro corredor. Comigo saltou uma socorrista do corpo de bombeiros com quem conversei desejando um bom dia de trabalho. Ainda iria lhe encontrar no final da prova...
Comi um dos sanduíches, bebi água e fui ao banheiro, pois estava com muita vontade. Depois de pedir a uma corredora "pipoca"- segundo ela - tirar uma foto comigo diante dos Reis Magos, aproveitei para tentar comprar protetor solar e caminhei uns 500 metros até o centro para achar uma farmácia aberta, mas achei um absurdo pagar uma fortuna por um tubinho minúsculo; achei um abuso e preferi ficar só com a minha toalha na cabeça presa na viseira. A cada ponto de hidratação, teria como encharcar e foi o que fiz.
Fiquei, sim, um pouco apreensivo pois em todas as provas que participei no Rio, até agora, bem antes de uma hora para a largada, já estaria tudo organizado e não foi o que percebi, chegando quase às 7 hs com apenas uma tenda pequena armada, e algumas cadeiras.
Aproveitei para tirar umas fotos, fazer filmagens e conversar com alguns outros corredores. Logo o Julio, aquele rapaz que me entregou o kit, da organização, veio me cumprimentar e tirei algumas fotos com ele no painel, agora, sim, já armado.
Logo depois, chegaram alguns veteranos e ficamos conversando sobre corridas, saúde e longevidade. Fiquei de olho na mesa de frutas com muita banana e melancias enormes, que, só final da prova, desfrutaria. Mas, não foi isto que aconteceu...
Sem organizar os pelotões por ritmo, em suas respectivas cores, fomos convocados, já passadas as 8 hs, pelo DJ a nos perfilar para dar a largada - atrasada, porque o trânsito ainda não havia sido fechado, ouvi nos alto falantes.
Nem deu tempo para o alongamento e aquecimento e o DJ contou: 3... 2... 1, todos largaram, como sempre, apressados e eu, ainda liguei o meu aplicativo e molhei minha toalha. Só comecei a correr no meu ritmo, já quase uns 10 minutos depois da largada.
Até aí, sem problemas, pois isto estava dentro do meu planejamento. Mas, logo que saímos da Praia do Anil, passei pelo Cais Santa Luzia e desci em direção ao Colégio Naval, já com um sol a pique, castigando demais, pensei no que ouvi na largada de um corredor que a maior parte dos corredores era de 21 km e, talvez, por isto, ainda tinha muita gente correndo ao meu lado.
Voltamos costeando a enseada Batista das Neves e ali pensei em quantas vezes, chegando para as minhas aulas, ali, naquele colégio militar naval, tinha que correr do ponto de ônibus até a entrada.
Ao meu lado, dentro daquela água azul cristalina e convidativa, algumas pessoas na hidroginástica, como eu assistia há vinte anos...
Por enquanto, ainda dava para correr e respirar, apesar do clima quase desértico. Mas, meia hora de corrida naquelas condições adversas, foi o suficiente para eu concordar com um corredor que me disse que entre as 8hs e às 15hs, é o pior sol de Angra e que, no mínimo, deveríamos ter saído às 7hs. Jamais às 8hs10m. Com atraso!
Logo na subida em direção ao Balneário, passando em frente ao Iate Club, entendi que deveria lutar muito contra a minha aversão à rotina - teria que repetir aquele trajeto por três vezes! - como contra a fadiga do calor e alta umidade que tornava o ar irrespirável. Não adiantava puxar ar, pois ele não vinha.
Passando por uma corredora que me desejou forças, brincando, eu perguntei à ela que o calor também era psicológico. Muito mais para me convencer que expressar uma verdade.
Na terceira e última volta (uffff), ainda no Cais, minhas pernas não queriam mais, - de jeito, nenhum! - me levar adiante e, como já havia reduzido ao máximo o meu ritmo, quase caminhando, fiquei com receio de parar de correr e me esforcei para aumentar o ritmo no que eu pensei faltar uns 5 km.
Contornando, pela última vez, o Colégio Naval, entrando na praia do Centro, pensei somente que faltava muito pouco. O problema é que, passando pelo Cais, meu aplicativo tocou o alarme alertando que eu já havia corrido os 21 km e até pensei em desligar ...
Era verdade, mas, ao perguntar onde terminava, uma moça, da organização, se aproximou e me disse que teria que passar, novamente, por debaixo da largada. Só que eu não aguentava mais e fiquei na dúvida se concluía pelo meu app ou confirmava com ele. Claro que fui até o final. Ao contornar pelo balneário, dois rapazes da marcação me disseram que eu já devia estar cansado de vera cara deles. Erraram o motivo do cansaço.
Já me arrastando, cruzei a faixa e, ali mesmo, recebi a medalha. Recebi, não! A moça colocou no meu pescoço e me segurou, pois quase caí ali mesmo. Aquela primeira socorrista do bombeiro imediatamente segurou meu outro braço me apoiando e me perguntou o que eu estava sentindo, mas, tonto e sem equilíbrio, quase não consegui falar.
Ambas me levaram até a ambulância do SAMU, estacionada na chegada da prova, e um médico logo aferiu minha pressão, meus batimentos cardíacos e solicitou outra ambulância para a minha remoção até o hospital da Santa Casa, ali mesmo, no Centro de Angra. O ar condicionado daquela havia dado defeito, escutei.
Nem me lembrei de desligar o app confirmando meu tempo... e, assim que cheguei ao hospital, o enfermeiro que me acompanhou entrou comigo dizendo
A recepcionista que depois faria minha ficha e me perguntou se eu estava com algum documento ou acompanhado.
Entreguei minha identidade, a médica plantonista confirmou minha pressão extremamente baixa: 7 x 3. A enfermeira me deitou na maca, com as pernas para cima (logo tirei meu tênis encharcado!) e ministrou uma garrafinha de soro e outra, com um líquido amarelo, para reposição de eletrólitos.
Apesar de todo um rígido e religioso treinamento, por oito semanas sem interrupção ou descumprimento da tabela, o calor foi além dos treinos, suplantou a minha hidratação e alimentação. Não adiantaram duas caixinhas de água de coco, balas de paçoquita, bananinha desidratada e o escambau, durante a corrida.
Claro que todos os meus exames médicos estão em dia! Não vou ao médico apenas antes de uma corrida. Criei o hábito do acompanhamento regular destes e destas profissionais da saúde que se especializaram em atender doidos como eu: professor, adulto idoso, maratonista. Também é lógico e necessário retornar após longas corridas . Ainda mais uma de tamanha exigência como esta.
Uma hora depois, já liberado, com pressão normalizada, me sentindo bem melhor, pude sentir a medalha no meu peito e li mensagens da minha família baiana no meu celular preocupada comigo, pois estavam me esperando por volta do meio dia para o almoço e já era mais de duas da tarde. Planejávamos ir à cachoeira.
Ĺ

Entrei no ônibus e escrevi...
"No ônibus agora voltando para Mambucaba, depois uma das piores corridas da minha vida um calor infernal a empresa organizadora, depois de ter adiad a data, alterado o percurso, só liberou a largada depois do horário oficial todos os pelotões misturados calor infernal circuito reply saímos da praia do anil destinos em direção colégio naval contornamos logo após a entrada..."
Na casa da Andreia, todos preocupados. Regina tirou meu tênis enquanto eu contava a aventura, antes de tomar uma ducha deliciosa e me servir de um almoço maravilhoso, mais do que repositor das poucas 700 gr que perdi naquela corrida: na mesa e no fogão, só delícias da Bahia
Era bem mais substancial que qualquer repositor. Mais do que uma miragem. Acarajé, moqueca, caruru, vatapá, farofa, peixe frito, piabinha, camarão seco, que minha irmãzinha trouxe de sua viagem à Bahia. Claro com umas cervejinhas bem geladas do frigobar da padaria do meu irmão maranhense, Iran.

A Meia de Angra 2023, entendo como uma prova de superação além dos meus limites. A corrida mais do que valeu pena independente das falhas. Pude rever quem eu amo revisitar lugares tão significativos,
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