Minha busca pelas minhas raízes - aéreas, rizomáticas - história e memórias dos Roitberg, acho que se confunde com toda a minha vida, pois tenho lembranças do quanto as tentativas de nossa mãe Maria, a quem eu devo toda a minha formação, consciência, ética e respeito, em, se não evitar qualquer traço depreciativo de nosso pai, apagar completamente minha necessidade em tentar me aproximar ou saber algo a respeito.
Nossa irmã sempre nos dizia que mamãe havia conhecido o pai quando trabalhava em "casa de família", o que foi confirmado hoje, pela minha cunhada Margareth, dizendo que ela, em conversas, dizia que veio para o Rio, novinha, do Rio Grande do Sul, Alegrete, e trabalhou como babá.
Fiquei imaginando a mamãe de babá e não me contive de tanto rir - ela não tinha a menor paciência com crianças!
Da minha parte, convivo com a estranha sensação de ter passado os últimos 60 anos convivendo com a imagem de uma foto 3 X 4 do meu pai junto a outras esparsas com a mamãe e um quadro de um homem com uniforme da marinha sem saber quase nada a respeito.
E digo isto porque havia um enorme quadro oval, numa moldura estilo rococó, dourada, de retrato até os anos de 1980, com a Marinaila, sim, havia. Inclusive, com um rasgo produzido pelo lançamento de um ferro de passar roupa que a mamãe jogou no Miltinho, segundo companheiro dela, quando ele tentou bater em um dos meus irmãos, no Marcos.
Sobre o nome da maninha, a mãe dizia que se tratava de um nome composto feito com os pedaços de Ary e Maria
Mas, quanto ao rasgo na tela, mamãe havia decepado um dos dedos do Miltinho, segundo companheiro dela, pai de Katia, nascida em 1965, nossa meio irmã. E isto num mundo em que não havia a Lei Maria da Penha!
E, quase que isto fora tornado possível, se não fosse o tempo e sua ação implacável tanto nos apagamentos, quanto na recuperação das memórias.
Havia uma foto, que não sei onde foi parar, desta mesma época, comigo com o braço engessado. Mamãe dizia que eu tinha caído da cama e fraturado a clavícula. Nestas, eu tinha 8 meses, como escrito atrás de uma delas. Mamãe tinha muitas joias das quais se orgulhava muito, como o camafeu de marfim encrustado numa peça de ouro branco, entre um solitário, colar e brincos de pérola.
Tudo isto ela perdeu pendurando na Caixa, e não tendo como resgatar, depois que o pai foi embora dando uma pensão básica para os filhos que ela, a custo mandava o Marco ou a mana pegar num escritório de advogados no centro do Rio.
Dos relatos da maninha e da Margareth, minha cunhada, viúva do Marquinho, há algumas narrativas
Só tenho a imagem do meu pai construída a partir de raras fotografias nos poucos álbuns, que, inclusive, foram danificadas por uma enchente quando eu morava em Angra dos Reis.
O Marco, sempre comentava sobre esta foto que, o Nem estava abraçando o Bambi.
Havia uma de uma casa na Praia Vemelha, onde mamãe falou que moramos durante um bom tempo, pertinho do Cassino da Urca. Outra dos dois passeando abraçados na Av. Presidente Vargas - era carnaval - ela dizia.
Sempre achei interessante que nas fotos, mamãe aparecesse com calças bem justas chamadas, ao invés das saias godês, de bolinhas, como era a moda. Mas, sim, do estilo "transviado" ela era apaixonada por James Dean rs
A calça era a tal da "cigarrete" e o pai, usava jaqueta de couro e o cabelo bem parecido com o do seu ídolo. Ele era bem mais alto que ela.
Depois da separação, ela se casou com o Miltinho e já participava de corridas e motos, no Alto e no Recreio, com uma turma em que se destacavam alguns personagens de quem ela falava com um certo respeito que era o Sete dedos e o Diabo Louro.
Todo domingo, o neguinho nos levava pra assistir missa na Igreja do Forte de Copacabana e, na volta, a gente sempre brincava no parque que havia em frente à TV Tupi, pegando amêndoas caídas das enormes árvores.
Morávamos na Rua Sá Ferreira, uns dois prédios antes do último antes da esquina da praia. A situação financeira não estava nada bem e a gente fingia que ajudava os pescadores puxando as redes pra ganhar uns peixes pra ajudar na comida junto com tatuís que fazíamos com arroz. Uma delícia!
Mamãe, me lembro, costurava muito, nesta máquina aqui que, durante um bom tempo eu dizia que havia sido o meu pai. Até tarde da noite, fumando, Continental sem filtro, muito e bebendo muito café. Depois, soubemos que ela tomava remédios para não dormir e dar conta do trabalho que, felizmente, não faltava. Ela se orgulhava de ter feito os uniformes das frentistas da Shell. Era a Madame Maria Petrowsky, como nos papeizinhos, que, carimbávamos um a um, com as informações dos serviços de costura oferecidos, cortados individualmente, que entregávamos às pessoas na rua. Ahh, me lembro que também teve um tempo em que vendíamos canetas.
Na pré adolescência, eu e o neguinho, entregávamos pão bem cedinho, que o Seu Julio nos entregava em um grande cesto de palha. Na féria diária havia, além do pão diário, broas e leite (ainda em garrafa com bastante nata!).Depois, quando o leite passou a ser ensacado, da janela do nosso apartamento, sem que a mamãe soubesse, claro! jogávamos saquinhos na árvore em frente com um pequeno furo para ficar pingando nas pessoas que passavam embaixo.
O que eu não sabia, que me foi relatado hoje, 22/04/2021, pela Margareth, minha cunhada que foi casada com o Marco, meu irmão já falecido, foi que ela costurava enquanto fora casada com o papai e que, antes dele chegar em casa, ela escondia tudo dele.
Então, foi ali, em Copacabana, foi que moramos até o começo dos anos 1970, quando nos moramos pra Julio de Castilhos e, depois, pra outra vez, a Sá Ferreira. Agora, no último prédio, no pé do morro do Pavão Pavãozinho.
Me lembro de ter visto algumas daquelas motos que muitos anos depois soube se tratar de Norton e Harley Davidson. Ela andava na garupa de uma Vespa e falava do 7 dedos, do diabo loiro, de Madame Satã, que, diga-se de passagem, ele se orgulhava muito de ter conhecido.
O Babulina, um cantor nosso vizinho do prédio em frente ao nosso em Copacabana, no posto 6 também era desta turma.
Em seu apartamento, em que tinha muitas gaiolas de passarinho, ele costumava fazer feijoada e chamar os amigos.
Mamãe, seguia costurando para sustentar seus quatro filhos, eu, o Marco Antonio, a Marinaila (maninha), Paulo (neguinho) e a mim, na ordem de "escadinha" quando o pai foi embora de casa. Nos anos de 1970, além de continuar costurando, o que prejudicou tremendamente a visão dela, passou alugar vagas, no quarto de nosso apartamento, com um beliche instalado.
Ela faria de tudo para não se ver novamente despejada, com todos os móveis sendo levados para um depósito da prefeitura e tendo que deixar seus filhos em casas de parentes e de amigos. Foi aí que viajamos para o Rio Grande do Sul.
E isto me pareceu e resgatado por conversas com a maninha e muito confirmado com o meu primo, foi que eles tiveram uma vida em comum durante um bom tempo, namorando, passeando, e se dedicando aos filhos, lá na casa da Urca, um bairro nobre do Rio de Janeiro.
Na verdade, esta é uma história com muitos detalhes que não batem...
Junto a outras narrativa, há o afastamento dos dois por questões de cultura e incompatibilidade religiosa, foram afastados por suas famílias, tremendamente conservadoras. Mais a do papai que a da mãe, diga-se de passagem.
Na culinária de mamãe entrava de tudo, a não ser durante os preceitos da Semana Santa, quando não comíamos carne. Entretanto, outros alimentos, tidos como proibidos entre os judeus, não era cardápio na nossa mesa, pelo que mamãe nos contava.
Outra narrativa diz respeito à questão da matriarcado que disputava nossa irmã para o judaísmo a despeito de a mãe ser uma católica praticante, ainda que do jeito que a maioria dos brasileiros o são.
Mas, pra mim, faz bem mais sentido a que, certa vez, mamãe falou pra gente que viu o pai, de mãos dadas - ou abraçado... - com outra mulher e que, mais tarde, ele a trocaria
Da minha infância, sem o nosso pai, me lembro que, todo dia, às 18hs, a gente podia estar onde estivéssemos, normalmente, jogando pelada na rua, que subíamos para, de joelhos, a mãe nos fazer o sinal da cruz na testa.
Me lembro também, da mamãe assobiando e cantarolando trechos de óperas, de musicais e, em em cima do guarda roupa, caixas com chapeus e luvas de pelica. Ela falava sempre do Superastack, a corrida mais importante dentre as que aconteciam no Jokey Club e que a nata da sociality se reunia com as mulheres cuidando do que as demais usavam.
Seguem os anos de 1970 a gente trabalhando e, aos finais de semana, nos bailes, acampamentos e festinhas, principalmente em Sepetiba.
Aqui aparece a maninha, já com seu filho, o Dimitry Ivan Roitberg de Oliveira, primeiro neto de Dona Maria e o Marcos.
E pegava onda no Pier, da Montenegro.
Anos de 1980, imersão na política, com Dona Maria inaugurando o núcleo do PT em Caçapava, São Paulo, por onde nosso irmão, o Paulo Roitberg, foi eleito prefeito com o Marco, Secretário de Saúde.
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