Creio que todos nós, professores, já nos
encontramos diante de uma turma
cujos alunos permaneceram
completamente calados.
No meu caso, a cara de “ué?!” me colocava em dúvida sobre,: 1) se não nem
ao menos me escutaram; 2) se não entenderam nada do que falei ou então 3), já sabiam de tudo, ou...
A estas inúmeras dúvidas se acrescentaram outras, a partir de tantas outras discussões, conversando sobre autorização entendida como a capacidade de nos libertarmos o
suficiente para escrever, falar, enfim, expressar as ideias que vimos construindo – e desconstruindo - quando necessário em todo e qualquer lugar a
qualquer momento.
Crescemos na dualidade entre duas “escolas”: a
escola escola e a “escola da vida” e foi, exatamente esta que fez com que
adquiríssimos a liberdade necessária para não ficar “com o dedo levantado na
sala de aula”, aguardando que a professora nos “desse a palavra”.
Todos nós,
de alguma forma, já pegamos, em algum momento, o nosso “pé de cabra”, a nossa picareta, a
nossa “malvina” tão necessárias e necessários em determinados momentos, quando
não nos cederam as chaves, o código de
acesso, a regra da etiqueta: “aguarde a sua vez para falar, isto é sinal de
educação”, ou, então, “ouça primeiro, pra depois falar”.
Não que não existam procedimentos necessários para
que todos possam aproveitar de uma conversa. O que digo aqui é que vejo como
necessário um ambiente horizontalizado para que haja interação,
intercriticidade, diálogo, lembrando a ideia contida no sufixo desta palavra: “
através”.
Palavras transpassando, o que me permite repensar a máxima
de Paulo Freire: "A liberdade sem limite é tão negada quanto a liberdade
asfixiada ou castrada" (p. 105)
Dentro ou fora das diversas salas de aula,
horizontalizamos freirianamente estes
espaços de construção, no coletivo, transpassado por tantas narrativas,
demonstrando nossa autorização e autonomia.
Creio que autorização, que prescinde da
autonomia, é a inversão da lógica do
sistema explicador (Rancière), na medida em que
“ninguém é sujeito da autonomia de ninguém” (Freire, p. 107) e que nos autorizamos e desenvolvemos nossa
autonomia com o nosso amadurecimento, com todas as nossas experiências
respeitosas da liberdade.
Talvez seja por isto que tanto nos incomoda a cara
de “ué?” nos estudantes: pensando a lógica da dominação simbólica, pode ser
que alguns deles ainda estejam esperando que alguém lhe dê a palavra... ou não.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. 33ª ed. São Paulo: Paz e Terra. 1996.
RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições
sobre a emancipação intelectual. 3ª Ed.: Belo Horizonte: Autêntica. 2011
Julio Roitberg, 30/10/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário