terça-feira, 9 de maio de 2023

Entre erros e acertos, o melhor do Rio Antigo.

Eu já havia visto aquelas camisas amarelas com asas pretas em outras corridas, mas foi treinando na orla de Sepetiba, ao responder a um entusiasmado "bom dia!" de um corredor, com a nossa camiseta , me saudando com um sonoro "Appai !" que divulguei o meu canal, o @correndoaos66.

Diminuindo o ritmo pra falar comigo,  me pediu adicioná-lo identificando-se e, pra minha surpresa, falou do projeto Correndo por eles. Até pensei em acompanhá-lo nos seus 18 km que ele me disse que iria fazer, treinando pra Maratona, em junho. Mas eu teria que voltar logo pra casa, pois tinha que preparar o José pro colégio.

A partir daquele dia, tentei por tudo encontrá-lo nas redes sociais. E nada! Como havia feito inscrição numa corrida de apenas 5 km, vinha treinando além disto e, ao abrir inscrição pra uma maior, o Circuito Light Rio Antigo Etapa Largo da Carioca, por já ter baixado meu RP em ambas distâncias, decidi fazer os seus 10 km, o que foi decisivo para o Destino cumprir sua missão. 

Na conversa durante a viagem de carro, de carona com o Paulo, ele me alertou sobre o perigo das curvas daquele circuito, - que, infelizmente e displicentemente eu não havia estudado -  combinamos voltar juntos e nos separamos, pois precisava, antes, encontrar a Renata, que estava com o meu kit, camiseta, número de peito e chip, guardar meus pertences e ir ao sanitário químico. E isto, faltando poucos minutos pra começar a corrida. 

Aguardando a buzina, na estreita rua da Carioca, já na concentração, muitos aplausos pela passagem dos PCDs (pessoas com deficiência), do projeto, sendo conduzidos por outros corredores também uniformizados, na pista lateral largando com antecedência, tiraram lágrimas dos meus olhos, o que, há muito não fazia. 


O que aconteceu foi que, ao confundir parte do percurso, perdi tempo, precisando voltar pra completar os 10 km, já que me confundi com o percurso, tanto pela péssima sinalização, atenção aos check points, quanto pela minha dificuldade entre pensar a estratégia e o circuito sinuoso entre as curvas de antigas ruas de paralelepípedos apertadas do centro histórico,





Mesmo com tudo isto, considerando todos aqueles erros, eu até achei legal o resultado: Fui o 10 da minha categoria (M 64/69) e 591 entre os 4.514 concluintes. Pode ser que precise reavaliar outra vez minha estratégia pra manter o ritmo. Pode ser que esteja perdendo no aumento progressivo da velocidade.



Como havia treinado acelerando de quatro em quatro quilômetros, progressivamente, e descansar no trote por 1 a 1 1/5, sucessivamente, surpreendi-me ao me deparar com o cronômetro à minha frente, na linha de chegada, com as três indicações - 3, 5 e  10 km. E isto, bem antes dos 50 minutos! Claro que não entendi nada e, aflito, pensando numa desclassificação, após cruzar a linha de chegada, imediatamente, pedi orientação ao staff que me indicou retornar até o ponto em que, efetivamente, havia errado o trajeto.

Retornando, perguntando a outros poucos corredores e pedindo orientações, inclusive a um batedor motorizado que passou a me acompanhar durante alguns metros, notei que, realmente, ainda estava na metade da prova e, então, passei a me orientar pelo meu aplicativo mais do que pelos cones que, àquela altura, de pouco ou nada me serviam. E, somente na Av. Presidente Vargas, em direção à igreja da Candelária, é que entendi que logo estaria retornando para, finalmente, completar os 10 km.

Outra vez diante da linha de chegada, faltando pouco para completar a quilometragem total, não duvidei do que fazer: retornei  me orientando pelo meu aplicativo. Finalmente, peguei minha medalha, algumas bananas e água. Claro que o resultado oficial me surprendeu.


Indo ao encontro do Paulo, no lugar combinado, avistei o grupo do "Correndo por eles" com seus triciclos adaptados e uniformes amarelo e preto e o rapaz que me falou do projeto, que tem treinado pra Maratona do Rio para conduzir uma cadeirante.

Era aquilo que eu procurava: uma aplicação prática de todo o meu treinamento, correndo aos 66 anos, me preparando pra outras maratonas.
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Às pressas pra voltar de carona  com o meu parceiro, - que já havia tentado me telefonar - tive que priorizar o sanitário e o lanche, no lugar da costumeira checagem no posto médico e da maravilhosa e tradicional massagem no lounge da Appai, também não tirei fotos como costumo fazer devido aos compromissos de meu colega.

Apresentei-me a um dos organizadores do grupo, falei do meu interesse em conhecer aquele esplêndido trabalho e, ao trocar números de celular, o Rodrigo Krieger, o corredor da orla que eu tanto procurava, voluntário do "Correndo por eles", me apresentou como seu amigo de Sepetiba me recebendo com muito carinho e me incluindo na lista de condutores voluntários para as próximas corridas. Há erros que, por mais absurdos que sejam, acabam promovendo momentos importantes demais para o meu crescimento espiritual. É uma questão de escolhas, sensibilidade e empatia. Ou, então, coisas do Destino que não dá pra explicar.


terça-feira, 11 de abril de 2023

Diário, 2a semana. Circuito Rio 2023 - 1a Etapa (Episódio 2/4)

Final da prova


A água tem disto de ventre materno, a que sempre buscamos retornar pra nossa proteção. Como todo esporte,  trabalho ou estudos, carrega, também, as nossas identificações. Lutei, corri e nadei por quase toda minha vida. Nas academias,  na minha formação, estudos e  trabalho; na praia,  em mar aberto ou nas piscinas; na areia,  nas ruas, nas pistas. E, por que não  atrás de ônibus, como todo  trabalhador proletário?!

Mas a natação, dentro do meu programa de treinamento, desponta como nenhuma outra prática esportiva: a água da piscina me acolhe e me abraça. Relaxa toda a musculatura e me alongo completamente, sem o peso ou as limitações do corpo. Água é vida.

Permanecemos por nove meses envolto pela água. Meu corpo, assim com o mundo, depende da água.  O equilíbrio homeostático depende do meio aquoso. Nossa vida também. 

Com o passar dos anos, toda nossa musculatura e pele, naturalmente, por perder água, apresenta os sinais de fadiga e da desidratação. São as placas indicativas dos quilômetros que faltam pra completar a grande prova. A ampulheta em que desce a areia com as folhas do calendário. E, com o passar dos anos,  a proximidade da linha de chegada.

Iniciando o 2º mesociclo de treinos para o Circuito Rio 2023 - 1ª etapa, acho que esta será uma semana de reflexões sobre a linha fina que separa a vida da morte. O definitivo final da prova. A linha de chegada. 

A implicação desta narrativa partiu do propósito de fazer uma linha do tempo, não muito longa! - a partir da pandemia.

Desconfiei dos motivos do ponto de partida, da distância, já que prefiro as longas. Treino para maratonas.

Escrevo no início de uma semana depois das tragédias dentro de algumas escolas do Brasil, com assassinatos de colegas e de estudantes. A morte rondou - e chegou! no espaço principal de efervescência da vida. 

A gente começa a morrer no momento em que nasce e, para não morrer, é preciso não nascer. Este não é o meu caso, pois estou vivo. E gosto muito da minha vida.

Minha primeira e mais importante corrida me trouxe ao lugar mais alto do pódium. Fui um espertozóide muito bem preparado e de excelente compleição física pra merecer mais que uma medalha, mais que um troféu.

Assim como a natação, as corridas significam e acrescentam bastante na minha qualidade de vida. É isto que dizem  os médicos e os exames periódicos frequentemente.

Mas, não é nada fácil falar da morte num canal destinado às pessoas que estão no ápice da existência, na melhor fase da nossa vida, que aprendemos a valorizar cada segundinho de nossas vidas, a viver o que existe, que é o momento presente. 

O passado já passou e o futuro nem sequer existe. E pode não existir. Depende de um montão de fatores e, muitos deles, fora da nossa esfera de compreensão, alheios à nossa vontade.

Gosto da expressão de Manuel Bandeira: a Indesejada das gentes. E quem, em sã consciência, deseja?! As metáforas sobre a morte pertencem ao nosso imaginário e vocabulário tanto quanto o que não traz boa sorte. Desde pequenos temos sido cerceados em falar qualquer palavra ou assunto relacionado à morte.

Alimentamo-nos num caldo cultural que reforça a ideologia da eterna juventude, vivemos numa sociedade que cultua a juventude e rejeita a velhice, porque entende a morte como fim. Afora as crenças religiosas - quem morreu não voltou pra contar como é o lado de lá. 

Diferente de nossa espécie, os insetos não negam a morte não só por não dispor de mecanismos cognitivos, de racionalidade, como os nossos, mas, principalmente, por serem criaturas que já nascem pra viver pouco: 24 horas. Não por acaso são efemerópteros. Criaturas de vida curta. Não negam, também, pra não perder tempo com racionalidades vãs. 

Apesar de gostar desde cedo de esportes, inclusive tendo praticado vários, com certa intensidade - ciclismo,  canoagem, surf, luta, corrida - foi durante a pandemia que, privado do contato social devido ao necessário isolamento, aprofundei-me na importância das práticas esportivas regulares como possibilidade de me tornar um idoso saudável e ativo em busca da longevidade, com qualidade e alegria de viver. 

Foram mais de 700 mil pessoas mortas, atletas ou sedentárias; saudáveis ou não; idosos e jovens. A morte, pela pandemia, rondou ou passou bem pertinho de todas as casas. Ainda mais contando com um grande aliado na presidência da República. Claro que a população de risco sofreu maiores baixas. 

Há mais perdas do que ganhos no trajeto que percorremos nesta competição. Minhas articulações, meus ossos,  músculos e visão diariamente me lembram disto. 

O bom é que há algumas vantagens, por exemplo, o idoso, apesar da intensa perda de massa magra, tem maiores possibilidades de adquirir uma boa condição física mais rápido que um jovem, assim como ampliar mais rapidamente e com maior intensidade o seu VO2Max, sua capacidade cárdio pulmonar. 

E, não bastasse o que tenho percebido nos meus resultados, -  superiores às minhas primeiras maratonas, há décadas,  - algumas pesquisas apontam nesta direção.  

Meu foco nunca foi superar aquele rapaz, de 20 e poucos anos,  mas,  sim, este senhor que vos fala. Hoje, na minha corrida semanal de velocidade, bati o meu RP, baixando o meu pace para 5:58. Completei os 10 km em menos de uma hora.

Maratonistas são bem mais frequentes entre os adultos e idosos. Os riscos de doenças do coração acometem bem mais a população jovem, que também é refém de outros perigos dos quais, nem sempre por nossa vontade, nos privamos. Há muito não volto tarde da noite, sozinho, de algum botequim. 

Quase me esqueço de quando fiz minha última trilha perigosa no morro da Urca, ou mergulhei das pedras do Arpoador. Nunca pilotei motocicleta, e não o faria aos 66 anos. 

Também nunca surfei em cima de um trem em movimento. Prefiro aguardar o próximo. Sem a garantia da viagem, claro! Certamente eu rejeitaria um convite pra saltar da Pedra Bonita, na Gávea, no Rio de Janeiro, numa colorida asa delta ou de paraquedas, de um avião.Voar é para os pássaros. O céu é dos aviões, me ensina Caetano Veloso.

Mas desenhar uma linha do tempo - assunto desta narrativa - medeia entre dois aparentes extremos em minha vida: a chegada da avó de minha companheira pra morar conosco e o nascimento do José, nosso filho. Ele com os seus pouco mais de quatro anos e ela com seus longevos, saudáveis e lúcidos 95.

Uma lição pra viver o que existe - o dia de hoje, - expressando uma dúvida bem mais existencial do que civilizatória. 

Entre diversos povos originários, vários, se relacionam com o tempo diferente de nossa civilização. A morte não se traduz em finitude. 

A ancestralidade, a mitologia, os ajuda na construção de outras possibilidades de existir,  de se relacionar com seus semelhantes, com a natureza e  com a morte. Não gostamos de expor fotos de pessoas mortas na parede. E olha que o existir prende-se à memória, ao registro.

Nós, os vivos,  já nos despedimos de muitas pessoas e parentes queridos,  mas eles seguem em nossa memória. O esquecimento, o desaparecimento das lembranças nos leva à morte. A outra é a mudança de um estado a outro.

domingo, 2 de abril de 2023

Diário, 1a semana. Circuito Rio 2023 - 1a Etapa (Episódio 1/4)



Lactato e treino regenerativo, 1a semana.

O Circuito RJ 2023 destaca a fauna da mata atlântica, em 3 etapas, nas distâncias de 3km, 5km e 10km, sendo o destaque da 1ª etapa o tucano; da 2ª etapa, a arara e da 3ª etapa, o mico-leão-dourado, cujos desenhos foram estampados nas camisas e kits da empresa responsável pelas inscrições. Como as minhas eu sempre faço pela Appai, vou correr com  a da segunda temporada, amarela com detalhes azuis.




Necessária, útil e urgente a pegada pela natureza que dá nome ao circuito, com animais de nossa fauna em extinção.  Já passou da hora de se tentar reverter o quadro desolador de agressão ao meio ambiente, à flora e fauna do planeta, enfim, ao ecossistema.

Aqui onde eu moro, há uma enorme concentração de passarinheiros - "passareiros", como eles se tratam.

No domingo, quando me obrigo a cruzar com um bando deles, já no final do meu treino longo, tento disfarçar minha revolta,  mas não consego responder um eventual "Bom dia!". Passo olhando pro nada, acelerado.

A inação da guarda florestal na feira, onde são vendidos animais a luz do dia já foi matéria de diversos jornais da Globo. São pássaros raros, tartarugas, coelhos, peixes em aquários, filhotes de "cães de raça" oferecidos escancaradamente. Todo sábado faça chuva ou faça sol.

Numa  rua por onde passo, todos veem uma arara presa numa gaiola, a mostra na varanda, como deboche e certeza de impunidade.

O Brasil lidera o ranking como país que mais mata defensores do meio ambiente e que mais desmata, e que, se quem tem que fazer algo não o faz, é porque tá envolvido com o crime, lembra minha companheira.

Diariamente, quando levamos nosso filho pra escola, sinto sua tristeza, ao vê-la cantar, melhor: lamentar do seu destino.

Então, a CPR Eventos, empresa organizadora do evento, merece todo meu elogio pela excelente temática do Circuito.

Elogio também o Paulo, meu colega de trabalho e de equipe, também corredor pela Appai, por tanto me motivar em me superar e que, mesmo sem saber, fez com que eu, ao trocar uma prova menor por uma maior, mantivesse o objetivo na diminuição do meu pace, agora, nos 10 km.

Os treinos de tiros, de quilômetro em quilômetro, - 3 km, 5 km, 8 km - com aumento gradativo na velocidade e reposição, deve ter criado algum tipo de memória corporal, me permitindo baixar de 5:47 pra 5:44, nos 5km. 

O pace ideal depende da distância proposta. No meu caso, tenho me esforçado em aumentar o pace entre 10 e 15 segundos, a cada “dobra” de distância. Assim, correndo 5km, teria como chegar a 25 minutos (pace de 5 minutos / km).

Ou seja: o pace é mais uma questão de treinamento que de idade, pois quem não se emociona ao ver um idoso correndo abaixo dos 5:00 por quilômetro numa maratona? E não são poucos, haja vista o resultado da última edição deste Circuito, na categoria M65-69. 

E olha que nem  estou falando dos "fora da curva", que, aos 90 anos continuam completando os 42 km, de maratonas internacionais. O meu corpo é o resultado do que faço com ele hoje.

Aumentando o meu VOmax, com o aumento gradativo de velocidade, é bom repetir a mesma estratégia em distâncias maiores, pra não parar de ganhar intensidade e volume rumo aos 42 km, da Maratona em Vitória,  no Espírito Santo, em outubro deste ano. Agora, é focar nos 10 km enquanto não surge outra corrida maior pela Appai, de 21 km, pra começar outro ciclo de treinamento.

É uma questão de me concentrar na quilometragem proporcional ao Circuito, acelerando e recuperando gradativamente, considerando a diversidade de estratégias de corridas de média e de longa distância. É o que me basta por hoje.

Não é impossível,  mesmo pra quem ainda comprou um Garmin pro controle visual. E, claro,  não esquecer ligar o treino com voz do aplicativo no meu celular, tampouco checar a bateria.

Quem sabe não baixo o meu pace de 6:13  batendo o meu RP de 5:58, de dezembro do ano passado, nos 10 km. Tá mais que excelente pro meu pódium, correndo aos 66.

Tudo preparado pra eu continuar meu treinamento pra esta corrida, incluindo fortalecimento muscular, natação e alongamento, e, na noite de terça desta primeira semana, um pequeno acidente doméstico: escovando os dentes, meu corpo foi pra um lado e o pé ficou. 

Nada grave, mas a leve dor que sentia ao caminhar exigiu atenção pra não lesionar algum tendão do joelho direito. Desisti de voltar do trabalho correndo como previsto e dispensei aa sandálias pra andar na rua, preferindo o tênis. 

Claro que não precisei caminhar muito indo pro trabalho de van e voltando de carona. Suspendi as corridas, apliquei calor e procurei por uma pomada de cânfora. Acho boa esta terapia quando não preciso ir ao ortopedista: gelo, calor e pomada.

Ainda que era vésperas de um feriadão: era a Páscoa! E,  na sexta feira da paixão de Cristo, segundo a tradição católica, me deu uma tremenda vontade de voltar a correr, mas decidi permanecer por mais alguns dias e ficar em casa, sem correr. Acreditei que iria melhorar logo e voltaria no domingo.

Aproveitando para estudar o capítulo sobre lesões musculares, aplico em mim mesmo os conhecimentos adquiridos na literatura do meu curso sobre estiramento de 1° grau e, quase não mais sentindo o pequeno dolorido, me tranquilizei um pouquinho mais. 

Não deixei de fazer minha série, descansando os joelhos, claro.  Só panturrilha, core e braços.
 Aproveitei pra brincar com o José, aparar a grama do jardim, podar algumas plantas e trocar uns móveis de lugar. Uma frente fria me presenteara com uma oportunidade maravilhosa de descansar.

Na manhã do domingo de Páscoa, saí pra minha corrida de 10 km já que não mais sentia o pequeno incômodo no joelho. Não resisti à oportunidade de checar o resultado dos treinos intervalados junto à estratégia de aceleração progressiva em "u" que eu havia estudado alguns dias antes no material da pós.

Quase bati meu RP  o que me deu a certeza de que é possível: basta sair um pouquinho só acelerado e aumentando gradativamente a velocidade durante 4 km para descansar de 1:30 minutos a 2 minutos e repetir por mais duas vezes guardando o fôlego nos para o sprint final no último quilômetro.

Na segunda o clima convidativo pra correr estimulava fazer um regenerativo de 5km: chovia e fazia  frio naquela primeira manhã depois do feriadão da Páscoa. Minhas pernas brigavam com a mente e, como criança que não quer acordar pra ir pra escola,  teimavam em tentar me convencer que meu lugar àquela hora era na cama. 

Sei que estes treinos eliminam metabólitos promovidos pelo acúmulo do lactato produzido ao final de um mesociclo de treino, principalmente, coroado por um longão, acima dos 10 km. Num dia depois, já não mais sentia as dores musculares, principalmente, na panturrilha. Outra vantagem.

Também sei que tenho limitado meus treinos em 10 km devido ao meu foco no Circuito RJ 2022 - 1a etapa, no final deste mês. Mas há outros motivadores que não imagina a minha vã fisiologia, brincando com o bardo anglicano.

Regenerativos regeneram bem mais que as fibras musculares: acho que estes momentos, de corrida leve, despreocupada com o rendimento, volume, intensidade, pace, estratégia, liberam a mente para aquela corrida gostosa da minha infância, quando, debaixo da chuva, passava a mão no capô de algum carro estacionado pra molhar um desavisado amiguinho que, irado, corria atrás de mim pra me bater. Brincadeiras de moleque aliviam qualquer estresse, inclusive os musculares.

Dou e respondo a mais bonsdias, ainda mais quando, ao responder a dois jovens corredores, na praia, eles me chamam de "pai" e eu retribuo divulgando o meu canal "correndo aos 66". Eles me devolvem com um elogioso "é por isto que está assim !" 

Vale à pena, porque o sorriso não é pequeno. Nem a alma, me lembra Fernando Pessoa, da literatura clássica portuguesa. Imagino, então, a generosa porção de corticoide sendo produzida. Dá pra semana inteira!

Sobra em bom humor, o que, nesta última semana, em meio à tragédias, dentro de algumas escolas, temos necessitado demais. Como bem fazia o genial Charles Chaplin, que nos legou o seu hilário personagem, o Carlitos, que se livrava de grandes enrascadas zoando com seus desafetos, é preciso sorrir e brincar como estratégia de sobrevivência. 

Um de seus inúmeros seguidores,  na moderna comédia italiana, me ensina que, afinal, a vida é bela! Tudo passa, até a dor das tragédias. Inevitáveis. Para nós  humanos, diferente dos pássaros presos nas gaiolas, o sofrimento é uma opção, me lembra Haruki Murakani.





domingo, 26 de março de 2023

Corrida Virtual Etapa Saúde e Nutrição

As corridas virtuais, pelo mundo à fora, tem sido estimuladas e cada vez mais se popularizando devido a diversos atrativos e facilidades, no meu caso, a possibilidade de correr perto de casa no horário mais conveniente.

A pandemia do Coronavírus 19 promoveu uma grande procura por esta modalidade de corridas de rua por causa do necessário distanciamento social e riscos de contaminação mas, com o retorno das corridas presenciais, continuaram atraindo muitos e novos adeptos como eu.

Minha primeira participação foi na Maratona Internacional do Rio de Janeiro, em 2022, na modalidade 10km pela Appai RJ sendo esta minha segunda oportunidade. 

Compondo um conjunto de ações voltadas a saúde e nutrição como uma das suas etapas, a corrida virtual foi mais uma delas pelo que tenho me esforçado em ouvir os podcasts com dicas preciosas e esclarecedoras para a longevidade e qualidade de vida.

Quem completar o circuito de ações receberá uma mandala, também virtual, da total participação nesta ação da Appai e todos os respectivos benefícios para aplicar na vida e nos treinamentos. 

A medalha e o kit desta modalidade de corridas virtuais serão enviados por e-mail assim como recebi o meu número de peito pra usar opcionalmente durante a corrida e, depois que enviei o meu resultado comprovado pelo aplicativo, conforme instruções, o certificado de conclusão, depois da conferência, no dia seguinte.

Evito comer pão a não ser o integral, proferindo milho cozido e chips de batata, ovo cozido e suco de beterraba com cenoura, laranja, limão e maçã no café da manhã pelos resultados alcançados associados aos exercícios em casa diariamente na barra suspensa e prancha pro procurando não me esquecer do necessário alongamento.

E foi  com este vigor que na noite do dia 25,  calcei o tênis pra outro desafio: superar minha marca nos 8 km. 

Mas não foi possível, pois demorei a acelerar e só depois do segundo quilômetro comecei diminuir meu pace ainda que num excelente ritmo pro começo da prova não consegui sua necessária manutenção. 

Mas, exatamente a maçã, que compõe com frequência o meu suco indubitavelmente repositor e pré treino, que me fez acelerar o meu ritmo que teimava em ceder à preguiça das minhas pernas.


É que, chegando ao 2º km, já na praia de Sepetiba, vi três rapazes na minha frente e pensei na estratégia para passar por eles já que eu, também, estava correndo na ciclovia e, não, na calçada como costumo fazer. 

Minha companheira, em casa, quando contei sobre o que considerei uma boa ação, todo entusiasmado, - falando de uma maneira mais delicada  - me  repreendeu sobre a minha imprudência recursiva.

É que, noite de sábado é muito convidativa pro social e, naquela hora, estava intrasitável, quanto mais, para corredores. Mesmo assim, em apenas pequenos trechos, tive que sair da calçada e corri pela ciclovia correndo perigo.

E, exatamente num pequeno trecho da ciclovia, por mais um acerto do destino, ou de Hermes, um deles deixou cair uma maçã e não parou ou voltou pra pegar. Eu não titubeei e, sem desacelerar, recolhi a fruta pra entregar pra eles, assim que os alcançasse. Igualzinho no ano passado quando fui de cara no chão.

Como eles não apertaram o passo, eu, apenas reduzi um pouco o pace e, logo, quando um dele parou e os demais acompanharam, perguntei se alguém havia deixado cair uma maçã e, claro, que um deles recebeu agradecendo. Segui, um pouco mais acelerado, mas, o calor que estava fazendo, não me permitiu bater a marca.



Na volta, gravando,ainda reencontrei-os e pude registrar o nosso entusiasmo naquela noite, correndo pela orla de Sepetiba, cheia de cheiros, alegria e brincadeiras do pessoal que usa aquele espaço com uma exelente opção de lazer pra toda a região. São quiosques cheios, mesas com casais e amigos, crianças brincando, de patinete, mães passeando com carrinhos de bebês, ciclistas e corredores, cheiros de frutos do mar convidativos e apetitosos, como sardinha frita e cerveja gelada.

Circuito Fic Run Etapa Musal - Museu Aeroespacial

Na metade do mês de março, com muito sacrifício, consegui, através de uma colega, apenas uma corrida e, mesmo assim,  de 5 km, o circuito Fic Run Etapa Musal, organizado pela empresa Fic Eventos Esportivos Ltda.

Aquela prova seria disputada no dia 16 de abril, no Campo dos Afonsos, com largada às 8hs, nas modalidades caminhada de 3 km e corridas de 5 km com premiação para os três primeiros colocados e, o ineditismo - pelo menos, pra mim! - da premiação por faixa etária e, pra minha surpresa, desta vez, eu iria correr entre o pessoal dos 65 aos 69 anos.


A prova aconteceria dentro do circuito do Museu Aeroespacial, cuja ideia da criação data de 1943. Entretanto, somente em 1973, durante a ditadura militar, fora criado o seu núcleo, iniciando-se, um ano após, o trabalho de restauração do antigo prédio, no Campo dos Afonsos, zona oeste do Rio de Janeiro e hangares, enquanto era iniciada a coleta de acervos e  e restauração de peças, motores, armas e demais itens de valor histórico,

A inauguração do "berço da aviação militar", ocorreu em 31 de julho de 1976, tendo como objetivo, segundo o site oficial, "a necessidade de preservação,  e divulgação do material aeronáutico e documentos históricos para as futuras gerações", recebendo o apoio logístico da Universidade da Força Aérea (UNIFA), subordinado administrativamente ao Instituto Histórico e Cultural da Aeronáutica (ICAER).

O Campo dos Afonsos é uma área militar pertencente ao bairro de Realengo,  fazendo limites com Vila Militar, Deodoro, Marechal Hermes, Vila Valqueire e Jardim Sulacap, que,  além da violência característica, devido ao confronto de traficantes, milícia e policiais, apresenta ar seco, significativa poluição atmosférica e altas temperaturas durante todo o ano o que não é nada bom para atividades ao ar livre no horário entre as 8hs e as 17hs.

Entretanto, no final do mês, consegui outras quatro provas, dentre elas uma de maior distância e acesso, e pude, então, cancelar minhas inscrição na corrida do Museu, me inscrevendo no Circuito Rio 2023 - 1a Etapa, no Aterro do Flamengo, com uns bons 10 km, planos e bem conhecidos meus.

Lembro que, para a minha sorte, não parei de correr os 10 km, aos domingos, entretanto, tenho dispensado distâncias maiores como  "longão".

Nestes período interprovas, tenho focado em manter o ritmo e iniciei treinamento pra diminuir o pace nos 5 km. Como tenho chegado cedo do trabalho no final da tarde, em casa, tenho a oportunidade de correr na orla de Sepetiba, depois do sol se por, com temperaturas bem mais agradáveis que as do dia numa região bem mais tranquila que outras do Rio de Janeiro, chegando em casa à tempo de dar o jantar e banho no meu filho e colocar ele pra dormir.  Correr de noite tem me permitido noites agradáveis de sono.

Para as segundas feiras, planejei um treino intervalado nos 5 km, com tiros de um quilômetro; terças e quintas, além do alongamento, prancha e suspensão na barra, natação, com livre, costas e peito em 40 minutos; às quartas, corrida de 5 km fortes e, às sextas, 5 km leves. Descanso no sábado e, no domingo, os 10 km habituais.

Mas, antes de iniciar os meus treinos intervalados, ainda fui premiado por duas ótimas oportunidades: iniciar a pós graduação em Treinamento especializado e funcional para corridas - 750 horas, pela Uniabeu EAD,  e a Corrida Virtual Etapa Saúde e longevidade,  8 km, pela Appai. 

O meu professor de natação é orientador do TCC da pós ( Treinamento especializado e funcional em corridas) ainda está na fase da correção dos estilos antes de iniciar o treinamento aeróbico como auxiliar nas corridas e, com a falta d'água na região, os treinos foram suspensos por uma semana e, claro, que senti falta!

Na segunda-feira, fez uma temperatura super agradável, com uma chuvinha fina deliciosa e convidativa. Intempestivamente, falei com minha companheira e saí pro meu primeiro teste nos 294 minutos , pois decidi dar tiros de 5 km. Puxadíssomo e não pretendo repetir.

Mudança de estratégia: na quarta feira, decidi completar os 5 km aumentando a carga baixando o pace me desafiando nos 27 minutos contra relógio. Fui bem melhor! 

Voltando à natação, depois da falta dágua na região, fiz os quatro tiros se peito, usando o palmar e quero repetir. 

Como na quinta feira desta semana não houve natação por motivos particulares do professor, troquei a atividade por mais uma corrida, apesar de já ter corrido no dia anterior.

É que evito ao máximo correr em dias consecutivos tanto para evitar lesões, quanto para não me desgastar tanto desnecessariamente. 

Mas, como o meu trabalho não é tão longe da minha casa e a volta é muito desgastante, devido ao péssimo serviço de transporte da região, decidi voltar mais cedo pra casa correndo.

Já saí de casa de roupa de corrida, apenas colocando uma bermuda sobre o calção. Passei protetor solar e coloquei um pouco no pote pra volta.

Concluí minha jornada e, às 4 horas da tarde, o sol ainda estava incomodando. Tirei a bermuda e passei bastante protetor solar no vestuário do porque aquático.

Assim que o sol deu uma trégua, saí do meu trabalho caminhando e logo comecei a trotar já que não estava pensando no ritmo: havia outras preocupações bem mais urgentes quando se trata correr em estradas movimentadas.

Logo depois do 2 km, um carro desacelerou ao meu lado e alguém gritou perguntando se eu não queria uma carona e seguiu adiante naquele trânsito lento e caótico perto do horário do rush. Eram colegas do meu trabalho e, claro, agradeci. E segui pensando como decidi pelo melhor ao ver a fila de carros, ônibus e vans lotadas se arrastando na minha frente. Definitivamente, não tenho mais paciência. 

Até a metade do percurso, boa parte das  calçadas não se encontram nas melhores condições. 

Aliás, a características da zona oeste e subúrbios cariocas. É preciso ter cuidado pra não sofrer um acidente. Além dos carros e ciclistas também.

Somente depois da metade do trajeto, saindo do trânsito intenso, no conjunto de escolas da Nova Sepetiba é que pode fazer a transmissão ao vivo pro meu canal.

Cheguei em casa bem e Ana Paula ainda falou que eu chegara rápido e me deu toalha e sabonete pra eu tomar minha ducha.

Fiz um bom alongamento, me hidratei, comi algo e fui assistir um filme com o José que ainda  com febre insistente, não tem ido à escola, assim como vários colegas seus resfriados.

Enfim, agora vou replanejar o meu treinamento, focando não mais em pequenas distâncias, mas, sim, nos10 km, para o Circuito Rio 2023 - 1a Etapa,  no dia 30 de abril.









quinta-feira, 16 de março de 2023

O Circuito das estações outono

A melhor corrida e a necessária reserva de gás 

Conseguir inscrição numa das corridas do calendário pela Appai, virou uma proeza espetacular, ainda mais se tratar de provas acima dos 10km. 

Sabe aquela iguaria quando chega no empório todo mundo compra e depois - que acabou - fala com o amigo?! Tipo goiabada cascão com coco queimado ou pinhão das serras gaúchas.

Foi assim com o WTR Praias Selvagens e com o Circuito das estações outono, nas três distâncias - 5, 10 e 21 km - e, claro que minha preferência sempre foi pelas provas de longa distância.

Mas, se não tem tu, vai tu mesmo e, finalmente,  alguém desistiu e consegui uma de 5 km!

São muitos os motivos que nos fazem desistir e, dentre eles, um é por pura estratégia. É que, eu não deixo de acompanhar  no site, insistentemente,  o vaivém de inscrições encerradas e vagas disponíveis, até aparecer uma prova que atenda às minhas expectativas.

Pode ter sido um aniversário, uma dor de dente,  uma prova de concurso público ou exame de habilitação. Uma festa de aniversário, um casamento ou um batizado.

 O importante é que houve uma única desistência, exatamente na prova que dificilmente eu escolheria, se não fosse a última azeitona. 

Como eu disse antes, nunca me vi disputando uma prova de velocidade e esta tem todas as características. São apenas 5 km, pra quem pretende 21km ou maratonas, como há três anos venho me preparando 10 °/• inspiração 90 °/• suor.

Mas, o copo está meio cheio e dá pra fazer uma limonada: seria minha primeira prova em que poderia me testar num campo nada confortável: a intensidade, além de trazer pro José uma medalha arrojada que nem ela, que vai me ajudar explicar o movimento da terra e do sol durante as estações do ano, além de tentar descobrir quem mordeu nossa medalha. 

Existiriam outras vantagens, claro. Depois de receber a medalha, numa prova curta, há  algumas outras satisfações impagáveis como as filas bem menores pra massagem, pro lanche, pra cerveja, pro sanitário químico.

Acordei, então, lá pelas 6 hs, comi banana e fui cuidar das coisas da casa, enquanto passava o café. Meu filho acordou cedo e tratei de cortar a grama e terminar as urgências do dia, já que teria que sair por volta do meio dia. 

Como minhas filhas não responderam minha mensagem sobre dormir na casa delas, combinei com meu amigo, o Joel, pus a mesa e servi o café pra família. 

Falei com meu filho que iria correr e só iria voltar no outro dia. Apertando minha perna,  como protesto, ele disse que eu iria demorar, mas me pediu mandar áudio e trazer uma surpresa. 

Enquanto Ana, minha esposa, cuidava do almoço, joguei bola com José e, assim que ela serviu o nosso prato, comecei a dar o seu almoço.

Assim que cheguei no ponto, o ônibus pra Santa Cruz estava saindo,  não consegui pegar e - detestavelmente! - tive que entrar numa van. Por sorte, assim que chegou no ponto final, acessei a plataforma de embarque da Supervia e consegui embarcar no trem,  no exato momento em que as portas estavam se fechando.

Não tenho como deixar de pensar como é punk a vida de corredor proletário morador da periferia rs

Da Central do Brasil, peguei o metrô e saltei no Largo da Carioca onde comprei uma "doleira" pexinchando com o camelô. Antes de pegar o meu número de peito e o chip, passei na Tenis Race pra comprar a latinha de leite em pó pra doação condicionada pela inscrição na corrida . 

Estranho como o mercado aproveita qualquer oportunidade pra tirar alguma vantagem, ainda que travestida de boas ações. Afinal, algum corredor sempre se esquece de comprar a latinha rs

Mas, se eu tivesse com dinheiro sobrando bem que teria comprado o boneco do Sonic pro José e umas pulseiras hippies pra Ana Paula da banca de jornal perto do prédio da Appai...

Não consegui encontrar minhas filhas e voltei pra casa do brother onde fui mais uma vez recebido efusivamente por ele e pelos seus pets .

Descansei da viagem e fui fritar uns ovos, pra servir com arroz e frango, só que o gás acabou e o botijão reserva estava vazio. Joel não conseguiu um delivery por telefone  então, precisamos procurar quem  nos servisse. 

Ainda chovia pouco quando saímos pra comprar gás, e precisamos andar um bom pedaço pelo Santo Cristo até achar um vendedor que pudesse levar um botijão pra gente.

O gás sempre acaba nas situações mais inusitadas. Joel precisa bastante de alguém que fique com ele além,  claro  de gás, e foi com esta certeza que pensei nas minhas possibilidades tanto em dar uma forcinha pra ele quanto refleti no significado da corrida do dia seguinte. Seria uma corrida pra usar todo o meu gás, mas com alguma estratégia que, até o momento, não havia definido dentre as possibilidades.

Também pensei no gás do meu amigo, com grandes dificuldades em se levantar, caminhar e fiquei triste e preocupado tanto com as ruas que ele atravessa, o carro que ele ainda dirige e a escada sem corrimão que ele sobe todo dia. E toda noite.

O Parkinson debilita muito e fragiliza bastante o corpo. São visíveis as restrições de movimentos no meu amigo de infância, assim como a pilha de caixas de medicamentos sobre a mesa. Fiquei triste e nem um pouco solidário com a resignação de quem havia sido um excelente jogador de futsal. Quais as estratégias pra enfrentar aquela realidade?

Não podia - nem deveria! - abrir mão do ritual da cerveja em sua boa companhia, nem da comidinha gostosa, ainda mais que, com o botijão cheio, pude terminar de fritar os ovos. 

Conversamos sobre nossa infância, vi um navio ser partido por uma onda gigante na Discovery, o ataque mortal de um crocodilo e o brother foi dormir, cedo como de costume.

Terminei de organizar minhas coisas de corrida,  mandei outro vídeo pro pessoal aqui de casa e também fui descansar. Chovia gostoso e dormi bem.

Mesmo com a possibilidade de chegar no Aterro do Flamengo, caminhando por cerca de meia hora, acordei três horas antes, preparei um lanche, enchi minha garrafa com água e saí bem antes de casa. Fui um dos primeiros corredores a chegar.


Há muito não fazia aquele trajeto a pé, ainda mais, amanhecendo o domingo. As pessoas dormindo enroladas em cobertores habitam grande parte do trajeto das ruas do Riachuelo e Mem de Sá, onde, em vão, tentei localizar o prédio antigo, da metade do século passado, onde, aos catorze anos, tive meu primeiro emprego de carteira assinada, como office-boy.

Seria aquele um dos motivos porque eu desisti da Corrida Rio Antigo? O meu Rio Antigo não comportava tantas mazelas sociais, apesar existirem. Uma vela para Dario, pra mim, sempre foi muito mais que um romance. 

Carioca raiz, o frio, a fome, a falta de abrigo sempre estiveram em meus trajetos pelo meu Rio de Janeiro  nestes meus 66 anos. Corredores de rua temos uma visão privilegiada da realidade. Em cores.

Tanto quanto as políticas públicas, as ações sociais são extremamente necessárias assim  como o envolvimento da sociedade civil no enfrentamento das desigualdades sociais.

Tenho muito orgulho da minha associação, a Appai, pelas doações, campanhas e ações solidárias, mas, sei, também das limitações de tudo isto, pois  o corte de classe social cada vez mais aumenta o fosso entre os pobres os multi milionários.

Lembro de nossa vida nos anos 60 e da morte dos mendigos nas ruas, principalmente no
inverno, quando ainda fazia muito frio naquele outro mundo. E quem tem fome tem pressa. Admiro demais a Appai por sua política social, afinal, se cuidar faz bem conforme uma campanha da associação. Cuidar do outro, melhor ainda.

Professoras e professores do ensino médio, apesar dos péssimos salários e  das condições aviltantes de trabalho, no atual quadro de emprego depois do desastre do último governo, somos  privilegiados assim como todo o staff de apoio que dá suporte aos atletas, organizam, e fazem acontecer:  médicas do SAMU, bombeiras socorristas, massagista, colegas da educação física, profissionais de instalação de som, eletricistas já haviam chegado para produzir o evento. Todos e todas com seus empregos  fazendo, no mínimo, três refeições por dia.

Tratei de ir à tenda medir pressão, batimento cardíaco e e passei protetor solar e repelente a nossa disposição. A auxiliar de enfermagem me falou do programa de avaliação cardio respiratória a que temos direito pela Appai, com equipe multidisciplinar e anotou meu celular pro agendamento.

Deixei meus pertences no guarda volumes. Peguei água e banana,  e fiz contato com uma moça que retira kits e entrega no dia da corrida:  mais uma oportunidade de obter uma renda extra e facilitar a vida de corredores como eu.

O DJ começou a puxar o alongamento e logo já estava num frenético ritmo pro aquecimento e chamada pra concentração. O drone, também acelerado, zunia sobre as nossas cabeças.

Desta vez, saí na frente dos pipocas me juntando ao pelotão Quênia. Como todos os demais também saíram juntos, empurrado pelo enorme volume de corredores velozes.  tive que correr os primeiros metros pela grama. E acho que isto me garantiu o bom resultado.


Já no meu segundo quilômetro havia alcançado a minha melhor marca e, justamente quando consigo convencer minhas pernas que elas tem que correr! No quarto, dei nova havia acelerada até chegar perto do 5 km, quando desacelerei ao cruzar a linha de chegada.


Somente precisei baixar a aceleração no pequeno aclive da chegada, quando estive próximo de alguns raros corredores aparentemente idosos na minha frente. Os pouco que avistei, não foi difícil ultrapassar e isto sem pegar água em nenhum posto. Me senti bem: humorado, hidratado e bem alimentado.

Do alto da passarela,  o fotógrafo gritou Appai e alguns corredores acenaram pra registrar o momento e, logo a seguir, o pórtico de chegada a nossa frente convidava ao sprint final. 

Abri a reserva e  tirei o gás pra chegar bem. Cruzei o faixa, e registrei aquele excelente resultado. Incomparavelmente melhor que a última corrida. Não bastara a minha performance, claro que tudo que antecedeu a prova, toda organização, padrão Appai do "benefício corridas e caminhadas" fizera a diferença.

Entre as diversas baias de controle para entrega das medalhas, escolhi exatamente da  moça  com camisa do Flamengo, e,- claro! - fiz questão de filmar.  Só pra zoar: "olha só quem vai entregar a medalha pra este tricolor!", disse pra ela que me sorriu resignada com a derrota na final do campeonato.

Como de costume, voltei ao posto médico e o enfermeiro me alertou que o resultado daria alterações porque eu acabara de concluir o percurso, ainda sobre o estresse da corrida.

Peguei meus pertences no guarda volumes, fui ao sanitário químico, ao dispersor de água, e retirei meu lanche, vendo se não havia a bolinha do sorteio de brindes dentro da embalagem. Também não havia sido sorteado noutro sorteio. Não costumo ser mesmo...

Sentei na murada da orla da marina pra descansar, fazer uma filmagem daquela bela paisagem pra mostrar a medalha "mordida "pro meu filho, os barcos e um aviãozinho decolando do aeroporto perto, o Santos Dumont.


Sentei na grama, entre muitos corredores pra lanchar e me hidratar. Acho o açaí com granola;  a água de coco e o whey protein ótimos repositores no pós treino.

Costumo esperar um bom tempo pra comer o sanduíche integral com peito de frango milho, trazendo as outras coisinhas, tipo barra de cereal, gel pra viagem de volta.


Antes de ir pra fila da massagem, que se agigantara enquanto eu fazia outras coisas, encontrei meu colega, o Vitor Hugo, e, de novo, como noutras corridas, também encontrei o Jonhy e o Regis. 

Conversamos sobre a corrida e ele me falou que, infelizmente, corridas organizadas em outros lugares como o circuito, por exemplo, não pontuam por idade. Caso contrário, com o meu resultado, eu faria pódium.


A fisioterapeuta, desta vez, além de tocar nos pontos nevrálgicos, me promoveu uma das melhores sessões de massagem depois das corridas. Em alguns momentos, pareceu dar choque em certos pontos, e isto sem nenhum aparelho: sua pressão na sola do pé, panturrilha e coxas me fizerem, como reflexo, literalmente, pular da maca. 


Depois das maravilhosas mãos de Lívia, a massagista, o jovem rapaz de 66 anos, com a medalha no peito, com serotonina de reserva, voltou pra casa. No caminho, ainda comi um pastel antes de pegar o  ônibus.

Revendo o meu treinamento depois daquela corrida, acrescentei a natação na minha planilha, para o fortalecimento muscular e cárdio duas vezes por semana,  na turma de funcionários do meu trabalho,  enquanto mantenho o treino de manutenção de volume preservando o que acumulei e evitando a fadiga. 

O outono, estação intimista, que segue o circuito solar, me convida refletir no quanto o pensar a corrida, durante a corrida, continua sendo uma boa estratégia pra melhorar minha resistência e aumentar o volume.

Registrar minhas percepções sobre uma corrida de velocidade, as estratégias e resultado de treinamentos específicos para não perder volume e intensidade partindo deste meu melhor desempenho me  possibilita mais uma oportunidade de autoconhecimento

E isto não acontece pensando e escutando somente o meu corpo, mas refletindo as relações do meu organismo que se integra,  inicialmente,  à natureza, depois à família,  amigos,   colegas,  enfim, a comunidade, para a valorização das relações, nesta jornada, correndo aos 60. 

Assim como o meu corpo responde à atenção que lhe dou, respondendo aos nossos cuidados e atenção, nosso pé de jaboticaba começou a dar flores e, pela primeira vez, uma pequena fruta.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Adaptações .

Depois das merecidas férias, ao concluir a Meia Maratona de Angra dos Reis, 2023, com todo o ciclo de treinamento de oito semanas, meu cérebro convocou minhas pernas a voltar ao trabalho. E não vi um boa vontade em atender ao comando.

Além da vontade própria, não faltaram argumentos diante da semana prazerosa, descansando, me alimentando e me hidratando bem, brincando com meu filho,  tomando café e vendo televisão com minha esposa, ficando em casa.

Nesta semana, cheguei ao meu melhor peso, ao peso ideal. Melhor: bati minha meta, no esforço de ganhar massa; melhorei o meu humor, as dores na coluna, sobrando, ainda, um leve incômodo no calcanhar, antes de tomar a decisão de quando e como retornar. Férias de corredor é descansar por uma semana depois da prova. 

Diante das opções de corridas de longa distância, a experiência nada positiva com a Meia de Angra, sinalizou que não tenho condições - e só por hoje! -  de completar duas maratonas por ano e, assim, tomei como parâmetro o tempo destinado aos treinos até a prova: no mínimo, oito semanas.

Assim,  decidido por aplicar o meu treinamento para uma maratona no final deste ano, provavelmente, a do Espírito Santo, com a possibilidade de antecipar a de Niterói, se tudo caminhar direitinho, até lá, planejo focar na intensidade. O volume já foi testado e me saí muito bem para a minha idade: 5° lugar no Circuito do Sol, 2023. É preciso refazer minha planilha de treinos, até o final desta semana.

Como consegui a façanha de garantir minha inscrição numa prova curta, de 5 km, o Circuito das Estações Outono, pela Appai, tratei de me preparar pra minha primeira corrida de velocidade em toda a minha vida: sempre fugi destas provas, apesar de, criança, ter gostado muito de correr.

Jogava na conta de que o meu biótipo é para as corridas de longa distância e que não tenho a explosão necessária para velocidade e que eu tinha feito duas maratonas e que gosto mais...

 E calcei os tênis.

Depois desta corrida, pretendo aplicar em treinos de velocidade antes de voltar aos ciclos de preparação para a Maratona. Talvez o VOMax de que o Paulo, colega de trabalho e companheiro de equipe me apresentou com a orientação do Johny. Por hora, apenas procuro manter meu ritmo em torno dos 5,5 pace.

Acho que o desestresse de brincar com meu filho, que corre comigo em volta da casa, me faz botar ele no carrinho de obras e empurrar, brincar de pega pega e pique esconde, jogar bastão e futebol, vale tanto quanto um fartleg,  um treino de tiro (SQN).

E é por ele que preciso selecionar as provas a participar considerando o meu afastamento. Há várias inconvenientes no deslocamento no dia das corridas: o principal é o risco de me atrasar ou pior, perder a prova devido à distância de nossa casa e a precariedade do transporte público aos domingos, principalmente, de madrugada.

O Circuito das estações outono acena com mais este desafio, pois, como há apenas quinze dias fiquei longe de casa por quase uma semana, não é nada bom deixar ele agora.

Neste prova, pelo menos, além de sair direto de casa - apesar de todo o risco - dá pra voltar mais cedo: é uma corrida para 30 minutos!

Talvez por isto as corridas de 5 km, pela Appai, sejam tão procuradas, não querendo dizer que as demais distâncias também não o sejam. Mas, a dificuldade na inscrição já me fez pensar em pagar diretamente aos organizador antecipadamente pra não correr o risco de não conseguir me inscrever.

Troquei o meu fortalecimento muscular da semana por mais um treino de 5 km pra tirar a média ideal da prova de domingo, apesar de ter corrido num horário bem mais agradável do que o da prova. 

quinta-feira, 2 de março de 2023

Roitberg I



Minha busca pelas minhas raízes - aéreas, rizomáticas - história e memórias dos Roitberg, acho que se confunde com toda a minha vida, pois tenho lembranças do quanto as tentativas de nossa mãe Maria, a quem eu devo toda a minha formação, consciência, ética e respeito, em, se não evitar qualquer traço depreciativo de nosso pai, apagar completamente minha necessidade em tentar me aproximar ou saber algo a respeito.

Nossa irmã sempre nos dizia que mamãe havia conhecido o pai quando trabalhava em "casa de família", o que foi confirmado hoje, pela minha cunhada Margareth, dizendo que ela, em conversas, dizia que veio para o Rio, novinha, do Rio Grande do Sul, Alegrete, e trabalhou como babá.

Fiquei imaginando a mamãe de babá e não me contive de tanto rir - ela não tinha a menor paciência com crianças!

Da minha parte, convivo com a estranha sensação de ter passado os últimos 60 anos convivendo com a imagem de uma foto 3 X 4 do meu pai junto a  outras esparsas com a mamãe e um quadro de um homem com uniforme da marinha sem saber quase nada a respeito. 


Tem a narrativa, também, que ele era engenheiro da marinha o que foi descartado por um primo que encontrei pela internet. Mas, e este uniforme?! Sei que nos anos de 1950 até meados dos 1960, havia a tendência da pintura em telas de retratos originalmente em preto e branco, lembrado pela minha companheira.

E digo isto porque havia um enorme quadro oval, numa moldura estilo rococó, dourada, de retrato  até os anos de 1980, com a Marinaila, sim, havia. Inclusive, com um rasgo produzido pelo lançamento de um ferro de passar roupa que a mamãe jogou no Miltinho, segundo companheiro dela, quando ele tentou bater em um dos meus irmãos, no Marcos.

Sobre o nome da maninha, a mãe dizia que se tratava  de um nome composto feito com os pedaços de Ary e Maria 

Mas, quanto ao rasgo na tela, mamãe havia decepado um dos dedos do Miltinho, segundo companheiro dela, pai de Katia, nascida em 1965, nossa meio irmã. E isto num mundo em que não havia a Lei Maria da Penha!

E, quase que isto fora tornado possível, se não fosse o tempo e sua ação implacável tanto nos apagamentos, quanto na recuperação das memórias.


Havia uma foto, que não sei onde foi parar, desta mesma época, comigo com o braço engessado. Mamãe dizia que eu tinha caído da cama e fraturado a clavícula. Nestas, eu tinha 8 meses, como escrito atrás de uma delas. Mamãe tinha muitas joias das quais se orgulhava muito, como o camafeu de marfim encrustado numa peça de ouro branco, entre um solitário, colar e brincos de pérola. 

Tudo isto ela perdeu pendurando na Caixa, e não tendo como resgatar, depois que o pai foi embora dando uma pensão básica para os filhos que ela, a custo mandava o Marco ou a mana pegar num escritório de advogados no centro do Rio.

Dos relatos da maninha e da Margareth, minha cunhada, viúva do Marquinho, há algumas narrativas



Só tenho a imagem do meu pai construída a partir de raras fotografias nos poucos álbuns, que, inclusive, foram danificadas por uma enchente quando eu morava em Angra dos Reis.



O Marco, sempre comentava sobre esta foto que, o Nem estava abraçando o Bambi.

Havia uma de uma casa na Praia Vemelha, onde mamãe falou que moramos durante um bom tempo, pertinho do Cassino da Urca. Outra dos dois passeando abraçados na Av. Presidente Vargas - era carnaval - ela dizia.



Sempre achei interessante que nas fotos, mamãe aparecesse com calças bem justas chamadas, ao invés das saias godês, de bolinhas, como era a moda. Mas, sim, do estilo "transviado" ela era apaixonada por James Dean rs



 A calça era a tal da "cigarrete" e o pai, usava jaqueta de couro e o cabelo bem parecido com o do seu ídolo. Ele era bem mais alto que ela.

Depois da separação, ela se casou com o Miltinho e já participava de corridas e motos, no Alto e no Recreio, com uma turma em que se destacavam alguns personagens de quem ela falava com um certo respeito que era o Sete dedos e o Diabo Louro.


Todo domingo, o neguinho nos levava pra assistir missa na Igreja do Forte de Copacabana e, na volta, a gente sempre brincava no parque que havia em frente à TV Tupi, pegando amêndoas caídas das enormes árvores.

Morávamos na Rua Sá Ferreira, uns dois prédios antes do último antes da esquina da praia. A situação financeira não estava nada bem e a gente fingia que ajudava os pescadores puxando as redes pra ganhar uns peixes pra ajudar na comida junto com tatuís que fazíamos com arroz. Uma delícia!

Mamãe, me lembro, costurava muito, nesta máquina aqui que, durante um bom tempo eu dizia que havia sido o meu pai. Até tarde da noite, fumando, Continental sem filtro, muito e bebendo muito café. Depois, soubemos que ela tomava remédios para não dormir e dar conta do trabalho que, felizmente, não faltava. Ela se orgulhava de ter feito os uniformes das frentistas da Shell. Era a Madame Maria Petrowsky, como nos papeizinhos, que, carimbávamos um a um, com as informações dos serviços de costura oferecidos, cortados individualmente, que entregávamos às pessoas na rua. Ahh, me lembro que também teve um tempo em que vendíamos canetas. 

Na pré adolescência, eu e o neguinho, entregávamos pão bem cedinho, que o Seu Julio nos entregava em um grande cesto de palha. Na féria diária havia, além do pão diário, broas e leite (ainda em garrafa com bastante nata!).

Depois, quando o leite passou a ser ensacado, da janela do nosso apartamento, sem que a mamãe soubesse, claro! jogávamos saquinhos na árvore em frente com um pequeno furo para ficar pingando nas pessoas que passavam embaixo.

O que eu não sabia, que me foi relatado hoje, 22/04/2021, pela Margareth, minha cunhada que foi casada com o Marco, meu irmão já falecido, foi que ela costurava enquanto fora casada com o papai e que, antes dele chegar em casa, ela escondia tudo dele.

Então,  foi ali, em Copacabana, foi que moramos até o começo dos anos 1970, quando nos moramos pra Julio de Castilhos e, depois, pra outra vez, a Sá Ferreira. Agora, no último prédio, no pé do morro do Pavão Pavãozinho.

Me lembro de ter visto algumas daquelas motos que muitos anos depois soube se tratar de Norton e Harley Davidson. Ela andava na garupa de uma Vespa e falava do 7 dedos, do diabo loiro, de Madame Satã, que, diga-se de passagem, ele se orgulhava muito de ter conhecido.

O Babulina, um cantor nosso vizinho do prédio em frente ao nosso em Copacabana, no posto 6 também era desta turma.

Em seu apartamento, em que tinha muitas gaiolas de passarinho, ele costumava fazer feijoada e chamar os amigos.

Mamãe,  seguia costurando para sustentar seus quatro filhos, eu, o Marco Antonio, a Marinaila (maninha), Paulo (neguinho) e a mim, na ordem de "escadinha" quando o pai foi embora de casa. Nos anos de 1970, além de continuar costurando, o que prejudicou tremendamente a visão dela, passou alugar vagas, no quarto de nosso apartamento, com um beliche instalado. 

Ela faria de tudo para não se ver novamente despejada, com todos os móveis sendo levados para um depósito da prefeitura e tendo que deixar seus filhos em casas de parentes e de amigos. Foi aí que viajamos para o Rio Grande do Sul.




E isto me pareceu e resgatado por conversas com a maninha e muito confirmado com o meu primo, foi que eles tiveram uma vida em comum durante um bom tempo, namorando, passeando, e se dedicando aos filhos, lá na casa da Urca, um bairro nobre do Rio de Janeiro. 

Na verdade, esta é uma história com muitos detalhes que não batem...

Junto a outras narrativa, há o afastamento dos dois por questões de cultura e incompatibilidade religiosa, foram afastados por suas famílias, tremendamente conservadoras. Mais a do papai que a da mãe, diga-se de passagem.

Na culinária de mamãe entrava de tudo, a não ser durante os preceitos da Semana Santa, quando não comíamos carne. Entretanto, outros alimentos, tidos como proibidos entre os judeus, não era cardápio na nossa mesa, pelo que mamãe nos contava.

Outra narrativa diz respeito à questão da matriarcado que disputava nossa irmã para o judaísmo a despeito de a mãe ser uma católica praticante, ainda que do jeito que a maioria dos brasileiros o são.

Mas, pra mim, faz bem mais sentido a que, certa vez, mamãe falou pra gente que viu o pai, de mãos dadas - ou abraçado... - com outra mulher e que, mais tarde, ele a trocaria 

Da minha infância, sem o nosso pai, me lembro que, todo dia, às 18hs, a gente podia estar onde estivéssemos, normalmente, jogando pelada na rua, que subíamos para, de joelhos, a mãe nos fazer o sinal da cruz na testa.

Me lembro também, da mamãe assobiando e cantarolando trechos de óperas, de musicais e, em em cima do guarda roupa, caixas com chapeus e luvas de pelica. Ela falava sempre do Superastack, a corrida mais importante dentre as que aconteciam no Jokey Club e que a nata da sociality se reunia com as mulheres cuidando do que as demais usavam.


Seguem os anos de 1970 a gente trabalhando e, aos finais de semana, nos bailes, acampamentos e festinhas, principalmente em Sepetiba.

Aqui aparece a   maninha, já com seu filho, o Dimitry Ivan Roitberg de Oliveira, primeiro neto de Dona Maria e o Marcos.



Na virada dos 70 para os anos 80, eu tocava num conjunto, o Molotov.


E pegava onda no Pier, da Montenegro.




Anos de 1980, imersão na política, com Dona Maria inaugurando o núcleo do PT em Caçapava, São Paulo, por onde nosso irmão, o Paulo Roitberg, foi eleito prefeito com o Marco, Secretário de Saúde.

 
Após seu primeiro mandato, como médico da CUT, Paulo foi eleito Secretário de Saúde em São José dos Campos e isto com o incansável trabalho da Primeira Dama, como mamãe era conhecida e toda a estratégia e inteligência do Marco.




quarta-feira, 1 de março de 2023

Diário, 8ª semana 8.8 - A Meia Maratona de Angra dos Reis (Episódio 08/23)

A Meia Maratona de Angra dos Reis

Na sexta feira antes da corrida, saí da cama às 5hs, medi a pressão, pulso e me pesei. Já já vou ligar pra Regina, nossa irmã baiana,  de Angra, para acertar direitinho minha estada em Mambucaba. 

Ainda falta resolver o horário dos ônibus pra chegar cedinho em Angra, no dia da prova, que,  ainda bem,  será às 8hs. Brinquei um pouco com o meu José, separei minhas coisas, fiz o almoço e saí de casa.

Ansioso como só eu, cheguei na rodoviária de Campo Grande quase duas horas antes do ônibus sair para Angra e,  além de comprar balas de paçoca, de café e bananinhas desidratadas, para levar na corrida, aproveitei para verificar horários de outros ônibus para o centro do Rio aos domingos, enquanto aguardo a partida. Minha família baiana está me aguardando entusiasmada. E eu, ansioso pelo reencontro.

Apesar do motorista do Costa Verde ter falado que eu iria chegar lá pelas oito da noite,  porque estava havendo operação PARE SIGA, - liberação alternada de apenas uma das pistas  - devido às enchentes, causadoras da recente tragédia no Carnaval no litoral paulista, a viagem durou o tempo normal: eu cheguei por volta de 6 horas em Angra. 


De lá,  peguei um ônibus para Parque Mambucaba e, esse, sim, demorou (uma hora e meia... mais ou menos). Cheguei lá pelas oito da noite. Na viagem, recebi a mensagem que estava chovendo por lá. 

Até o morro do Peres, ainda não estava chovendo grosso, mas, passando pelo batalhão da PM, na entrada do bairro, a chuva apertou e, logo no começo da avenida Francisco Magalhães de Castro - a principal - a mesma cena de vinte anos atrás: água a mais de palmo e meio, cobrindo a calçada.

No instinto, tirei logo o tênis, guardei numa sacola plástica e coloquei minhas sandálias para enfrentar o aguaceiro.  Saltei debaixo do  temporal e fui me abrigar numa marquise. Havia me esquecido da capa de chuva...


Mesmo inundada,  encharcada, a rua principal lá do parque Mambucaba, naquela  noite de muita chuva, saltei no ponto direitinho, logo depois do mercado e esperei um pouquinho a Brenda, filha de minha irmãzinha baiana e do Dinor, que, gentilmente, foi me buscar. 



Seguimos caminhando e conversando até a  casa, passando por lugares bem familiares, apesar da pouca iluminação das ruas. Mas, acordando bem cedo, com sons diferentes de outros pássaros e galos, já com a iluminação do dia, do alto da casa, percebi que nestes quase vinte anos que retornei para o Rio, muita coisa mudou, mas as referências  não foram perdidas por completo. 

Afinal, o Frade continua deitado com seu nariz apontando para o céu: o "cheiro da chuva" nos alerta para os temporais que descem de Minas e São Paulo e, quando coincidem com a alta da maré dos rios de Paraty e de Mambucaba tem que preparar os botes salva vidas. Para sair das casas.


Junto às enchentes nada prazerosas na lembrança, claro que não teria como encontrar mais aquele local onde eu vivi uma parte muito bonita da minha vida, junto com a minha esposa. Ficamos bastante tempo em Parque Mambucaba. 


Ontem, sexta feira, de noite, quando cheguei, batemos muito papo, conversamos muito, comemos coisinhas gostosas e hoje de manhã,  fui ao mercado com eles: os preços estão assim "pela hora da morte". Muita coisa diferente do Rio de Janeiro, outras nem tanto.

Enquanto pai e filha faziam as compras do mês com os carrinhos, vi umas latinhas da cerveja Spaten, e peguei para Regina  experimentar e um potinho de geleia que a sua filha adora. Minha irmãzinha preparou uma costela com legumes e aproveitei para ir conhecer a casa de sua irmã, Andréia, coladinha a sua.

Seu filho, tratou logo de dar um presentinho para o Zeca, o que estimulou os demais também a começar uma "corrente de livros" para eu levar para o Zeca, que,  por vídeo chamada, disse que também vai separar livros para doação. Falamos da FLIP. 

Saí de lá, na tarde do sábado, por volta das duas da tarde, e peguei o kit lá no Shopping Pirata's, com um pessoal muito animado - o Julio, da equipe de organização  - meu xará - que mandou um recadinho e uma mocinha; Mas, apesar de todo entusiasmo, particularmente, eu não gosto nadinha daquele sistema de medição. 

O chip a ser amarrado no cadarço do tênis não me traz boas lembranças. Fruto de uma experiência nada agradável,  vivida na Meia da Reserva, onde a chuva me fez perder o chip, tenho que tomar muito cuidado...


Agora, estou esperando o ônibus. Antes, passei na rodoviária, peguei logo a passagem de volta no dia e horário que consegui, na gratuidade idoso, pois tinha dúvidas quando voltar - terça pela manhã - para conseguir dar aula, ou na segunda-feira de tarde,  com mais tranquilidade. 

Então, consegui um horário bom até na segunda-feira, às dezessete horas, passei numa farmácia me pesei - 62.700 ( já coloquei na planilha).

Vou medir a pressão agora, assim que chegar na casa de Regina e, se amanhã tiver alguém no posto da corrida, também  meço antes da prova. Se não, fico com a medição de hoje mesmo:  dá para ter uma ideia no final da prova. Eu faço outra medição com batimentos cardíacos também. Enfim, estou me sentindo bem, apesar de que hoje fez muito calor. 

Como  amanhã também vai esquentar o conselho da organização foi hidratação, reposição de sais minerais, por isto, passei no mercado. Comprei duas caixinhas de água de coco, para colocar para gelar e estou levando, também, umas paçoquinhas, já que eu pretendo, após uma hora de prova - 10 km, mais ou menos - ingerir um pouco de açúcar para suportar os próximos 11 km. 

Como estou esperando e me preparando para esta prova há oito semanas, agora é descansar, aproveitar a viagem, já que estou embarcando no ônibus para Parque Mambucaba.

Ônibus lotado. Ninguém de máscara. Não sei se fiz um bom negócio tirando a passagem para a rodoviária Novo Rio,  ao invés de pegar pra Campo Grande... 

No domingo da prova, acordei às 4:30, peguei da geladeira o meu kit alimentação e hidratação (caixinhas de água de coco e sanduíches de carne moída) e minha garrafinha dágua. deixado organizado e separadinho na noite de ontem, e fui pegar o ônibus de 5hs para Angra. 

Cheguei no local da partida, na Praia do Anil, quase 7hs,  e, para o meu espanto, fui o primeiro corredor. Comigo saltou uma socorrista do corpo de bombeiros com quem conversei desejando um bom dia de trabalho. Ainda iria lhe encontrar no final da prova...



Comi um dos sanduíches, bebi água e fui ao banheiro, pois estava com muita vontade. Depois de pedir a uma corredora  "pipoca"- segundo ela  - tirar uma foto comigo diante dos Reis Magos, aproveitei para tentar comprar protetor solar e caminhei uns 500 metros até o centro para achar uma farmácia aberta, mas achei um absurdo pagar uma fortuna por um tubinho minúsculo; achei um abuso e preferi ficar só com a minha toalha na cabeça presa na viseira. A cada ponto de hidratação, teria como encharcar e foi o que fiz.


Fiquei, sim, um pouco apreensivo pois em todas as provas que participei no Rio, até agora, bem antes de uma hora para a largada, já estaria tudo organizado e não foi o que percebi,  chegando quase às 7 hs com apenas uma tenda pequena armada, e algumas cadeiras.

Aproveitei para tirar umas fotos, fazer filmagens e conversar com alguns outros corredores. Logo o Julio, aquele rapaz que me entregou o kit, da organização, veio me cumprimentar e tirei algumas fotos com ele no painel, agora, sim, já armado.


Logo depois, chegaram alguns veteranos e ficamos conversando sobre corridas, saúde e longevidade. Fiquei de olho na mesa de frutas com muita banana e melancias enormes, que, só final da prova, desfrutaria. Mas, não foi isto que aconteceu...

Sem organizar os pelotões por ritmo, em suas respectivas cores, fomos convocados, já passadas as 8 hs, pelo DJ a nos perfilar para dar a largada - atrasada, porque o trânsito ainda não havia sido fechado, ouvi nos alto falantes. 


Nem deu tempo para o alongamento e aquecimento e o DJ contou: 3... 2... 1, todos largaram, como sempre, apressados e eu, ainda liguei o meu aplicativo e molhei minha toalha. Só comecei a correr no meu ritmo, já quase uns 10 minutos depois da largada. 


Até aí, sem problemas, pois isto estava dentro do meu planejamento. Mas, logo que saímos da Praia do Anil, passei pelo Cais Santa Luzia e desci em direção ao Colégio Naval, já com um sol a pique, castigando demais, pensei no que ouvi na largada de um corredor que a maior parte dos corredores era de 21 km e, talvez, por isto, ainda tinha muita gente correndo ao meu lado.


Voltamos costeando a enseada Batista das Neves e ali pensei em quantas vezes, chegando para as minhas aulas, ali, naquele colégio militar naval, tinha que correr do ponto de ônibus até a entrada. 

Ao meu lado, dentro daquela água azul cristalina e convidativa, algumas pessoas na hidroginástica, como eu assistia há vinte anos...


Por enquanto, ainda dava para correr e respirar, apesar do clima quase desértico. Mas, meia hora de corrida  naquelas condições adversas, foi o suficiente para eu concordar com um corredor que me disse que entre as 8hs e às 15hs, é o pior sol de Angra e que, no mínimo, deveríamos ter saído às 7hs. Jamais às 8hs10m. Com atraso!

Logo na subida em direção ao Balneário, passando em frente ao Iate Club, entendi que deveria lutar muito contra a minha aversão à rotina - teria que repetir aquele trajeto por três vezes! - como contra a fadiga do calor e alta umidade que tornava o ar irrespirável. Não adiantava puxar ar, pois ele não vinha.


Passando por uma corredora que me desejou forças, brincando, eu perguntei à ela que o calor também era psicológico. Muito mais para me convencer que expressar uma verdade.

Na terceira e última volta (uffff), ainda no Cais, minhas pernas não queriam mais, - de jeito, nenhum! -  me levar adiante e, como já havia reduzido ao máximo o meu ritmo, quase caminhando, fiquei com receio de parar de correr e me esforcei para aumentar o ritmo no que eu pensei faltar uns 5 km. 

Contornando, pela última vez, o Colégio Naval, entrando na praia do Centro, pensei somente que faltava muito pouco. O problema é que, passando pelo Cais, meu aplicativo tocou o alarme alertando que eu já havia corrido os 21 km e até pensei em desligar ...

Era verdade, mas, ao perguntar onde terminava, uma moça, da organização, se aproximou e me disse que teria que passar, novamente, por debaixo da largada. Só que eu não aguentava mais e fiquei na dúvida se concluía pelo meu app ou confirmava com ele. Claro que fui até o final. Ao contornar pelo balneário, dois rapazes da marcação me disseram que eu já devia estar cansado de vera cara deles. Erraram o motivo do cansaço.

Já me arrastando, cruzei a faixa e, ali mesmo, recebi a medalha. Recebi, não! A moça colocou no meu pescoço e me segurou, pois quase caí ali mesmo. Aquela primeira socorrista do bombeiro imediatamente segurou meu outro braço me apoiando e me perguntou o que eu estava sentindo, mas, tonto e sem equilíbrio, quase não consegui falar. 

Ambas me levaram até a ambulância do SAMU, estacionada na chegada da prova, e um médico logo aferiu minha pressão, meus batimentos cardíacos e solicitou outra ambulância para a minha remoção até o hospital da Santa Casa, ali mesmo, no Centro de Angra. O ar condicionado daquela havia dado defeito, escutei.

Nem me lembrei de desligar o app confirmando meu tempo... e, assim que cheguei ao hospital, o enfermeiro que me acompanhou entrou comigo dizendo 
A recepcionista que depois faria minha ficha e me perguntou se eu estava com algum documento ou acompanhado. 

Entreguei minha identidade, a médica plantonista confirmou minha pressão extremamente baixa: 7 x 3. A enfermeira me deitou na maca, com as pernas para cima (logo tirei meu tênis encharcado!) e ministrou uma garrafinha de soro e outra, com um líquido amarelo,  para reposição de eletrólitos. 



Apesar de todo um rígido e religioso treinamento, por oito semanas sem interrupção ou descumprimento  da tabela,  o calor foi além dos treinos, suplantou a minha hidratação e alimentação. Não adiantaram duas caixinhas de água de coco, balas de paçoquita, bananinha desidratada e o escambau, durante a corrida.

Claro que todos os meus exames médicos estão em dia! Não vou ao médico apenas antes de uma corrida. Criei o hábito do acompanhamento regular destes e destas profissionais da saúde que se especializaram em atender doidos como eu: professor, adulto idoso, maratonista. Também é lógico e necessário retornar após longas corridas . Ainda mais uma de tamanha exigência como esta. 

Uma hora depois, já liberado, com pressão normalizada, me sentindo bem melhor, pude sentir a medalha no meu peito e li mensagens da minha família baiana no meu celular preocupada comigo, pois estavam me esperando por volta do meio dia para o almoço e já era mais de duas da tarde. Planejávamos ir à cachoeira.

Ĺ
Entrei no ônibus e escrevi...

"No ônibus agora voltando para Mambucaba, depois uma das piores corridas da minha vida um calor infernal a empresa organizadora, depois de ter adiad a data,  alterado o percurso, só liberou a largada depois do horário oficial todos os pelotões misturados calor infernal circuito reply saímos da praia do anil destinos em direção colégio naval contornamos logo após a entrada..."

Na casa da Andreia, todos preocupados. Regina tirou meu tênis enquanto eu contava a aventura, antes de tomar uma ducha deliciosa e me servir de um almoço maravilhoso, mais do que repositor das poucas 700 gr que perdi naquela corrida: na mesa e no fogão, só delícias da Bahia


Era bem mais substancial que qualquer repositor. Mais do que uma miragem. Acarajé, moqueca, caruru, vatapá, farofa, peixe frito, piabinha, camarão seco, que minha irmãzinha trouxe de sua viagem à Bahia. Claro com umas cervejinhas bem geladas do frigobar da padaria do meu irmão maranhense, Iran.



Imagino o que minha nutricionista vai dizer depois de ver minha refeição depois da Meia Maratona de Angra em comemoração do meu aniversário de 66 anos com minha família baiana, lá em Mambucaba.

 
Enfim, macarrão é para os fracos, eu concluí! 
A Meia de Angra 2023, entendo  como uma prova de superação  além dos meus limites. A corrida mais do que valeu pena  independente das falhas. Pude rever quem eu amo  revisitar lugares tão significativos,